Cristovam Buarque, o que foi sem nunca ter sido

Nunca me permiti confundir ideias com pessoas. Nem desqualificar ideias baseado em viés ideológico.

Tive um carinho especial por Roberto Campos, por Ernane Galveas, admiração pela inteligência de Delfim Neto, reconhecimento da responsabilidade pública de Camilo Pena, Dias Leite, Reis Velloso e outros ministros da ditadura, sem deixar de criticar a ditadura.

 Nos anos 90, cheguei até a elogiar Olavo de Carvalho e ir a Curitiba para uma palestra em um evento que ele organizou, nos tempos em que sua voz era minoria: apesar de discordar de suas posições, reconhecia sua coragem de remar contra a maré. E quase chegamos a um acordo de que o Banco Central era uma invenção das esquerdas para liquidar com o capitalismo brasileiro.

Por outro lado, tenho uma alergia invencível à mediocridade e ao oportunismo. Mas tenho evitado fulanizar as críticas, por saber que é trocar o efeito pela causa. Nesse enorme besteirol que cercou o impeachment, até me segurei quando vi a notável colunista política dizer que o fatiamento do julgamento pelo Senado iria instaurar a insegurança jurídica no país. A idade está me fazendo mais contido.

Faço essa enorme digressão para me desculpar do que se segue, romper com minhas promessas e implicâncias e fulanizar: o senador Cristovam Buarque representa o que de mais oportunista e medíocre uma falsa concepção de esquerda trouxe ao país. Sempre foi a prova maior da falta de discernimento das esquerdas; e se seu novo discurso pegar, será a confirmação da falta de discernimento da direita. É um desaforo à inteligência, à coerência e à seriedade política!

Sempre foi raso como um pires. Seu esquerdismo era o que de mais anacrônico a esquerda brasileira exibia nos anos 90. No governo do Distrito Federal, proibiu o uso da palavra “qualidade”, por se tratar de “conceito neoliberal”.

No Ministério da Educação foi um blefe. Não implementou uma política sequer. Escudou-se no padrão Paulo Renato de inação, e definiu como único foco o ensino fundamental, para não ter que enfrentar o desafio do ensino universitário.

Foi demitido por não ter colocado um programa de pé. Repito: não colocou nenhum programa de pé. Após sua saída, Fernando Haddad – como Secretário Executivo e, depois, como Ministro – montou o Reuni, o Prouni, o exame do Enem, a educação inclusiva, o Fundeb. Com esse universo para ser desbastado, Cristovam não ousou um programa sequer. E saiu com fama de educador, apenas por se apresentar como candidato da educação.

Teve eleitores curiosos, como Pedro Malan, meramente por ser considerado um petista civilizado, que conversava com todo mundo, citava alguns autores e se comportava bem à mesa. Confundiam educação social com educação política, currículo com conhecimento. Na época, Vicentinho podia não entender o jogo de talheres em banquete, mas estava anos-luz à frente de Cristovam no quesito modernidade.

Em meados dos anos 90, nos ensaios de modernização do pensamento do PT estavam Aloizio Mercadante, Guido Mantega, Eduardo Suplicy, Luiz Gushiken, José Dirceu, sindicalistas como Vicentinho e outros. Nunca se ouviu a menor contribuição de Cristovam.

Lembro-me de um primeiro contato com ele, no Instituto Cidadania, em uma rodada para o qual fui convidado por Lula, junto com o Clóvis Rossi e o Elio Gaspari. Passamos uma manha inteira discutindo diversos temas. De Cristovam só percebi movimentos de cabeça, sempre consentindo, nunca refutando – pois o ato de refutar exige argumentação.

Seu artigo em O Globo de hoje – “O impeachment incompleto” (http://migre.me/uToZN) – é um desaforo para quem se apresenta como “professor emérito da UnB”. Foi copiado do Rodrigo Constantino ou de Roberto Freire. O artigo é uma fraude!

Cristovam cria um estereótipo de esquerda, que nada tem a ver com os governos Lula e Dilma, para poder desancar recorrendo aos argumentos de um Constantino e de outros gênios do senso comum e dos slogans furados.

Há inúmeras críticas consistentes a serem feitas aos dois governos. Mas o mínimo que se exige é a compreensão de sua verdadeira natureza

No momento em que a grande discussão global é sobre o fracasso do neoliberalismo, com a crise de 2008,  Cristovam Constantino mergulha,  nos discursos dos anos 90, nos quais eram criticados os conceitos primários que ele, Cristgovam, advogava no GDF, e transporta para uma realidade totalmente diversa.

Diz ele que não basta o impeachment:

O impeachment só se justificará plenamente se servir para levar as forças progressistas na direção de sua atualização em relação às novas realidades e aos novos sonhos no mundo. 

Precisamos fazer o impeachment do modelo que ficou arcaico: não percebeu as mudanças que ocorrem no mundo.

Pela introdução, aguarda-se a descrição das “mudanças que ocorrem no mundo”.

Primeiro, Cristovam defende o eficientismo, em um momento em que o mundo discute o Estado de bem estar social, a ecologia, o combate à miséria e as esquerdas discutem a reconstrução da socialdemocracia.

A sociedade justa depende de uma economia eficiente; isto exige respeitar os limites fiscais e entender que a propriedade privada dos meios de produção e o mercado dinamizam a economia, criando os recursos a serem aplicados na sociedade.

Diz isso a respeito de um governo que incentivou as hidrelétricas na Amazônia, que lançou diversos programas industriais, que lançou os planos TI Maior e outros. A única coisa que não se pode acusar o governo Dilma é de não ter perseguido uma economia eficiente. Se tivesse competência, Cristovam faria uma crítica desses planos e as razões do fracasso. Como não é, cria um estereótipo (o governo que é contra a propriedade privada) e enfia nele o argumento à martelada.

Depois da apologia da eficiência, rebate o eficientismo, para não perder outros slogans que anotou no seu caderninho:

Entender que não é mais o crescimento econômico e a distribuição de seu produto e renda que fazem o mundo melhor, mas a elevação do bem-estar social, em equilíbrio ecológico.

O artigo todo é isso, uma miscelânea de conceitos soltos, sem nenhuma costura lógica. Vai jogando slogans e quem quiser que pegue um pedaço e leve para casa. Por exemplo: o que ele quer dizer com esse mixórdia palavrória?

O governo substituto pode não fazer as reformas que os 13 anos de governo de esquerda não fizeram, mas poderá permitir a estabilidade e o diálogo necessários para a travessia em que uma nova esquerda vá se formando; o que seria difícil com o mesmo modelo arcaico no poder, impedindo o avanço conceitual e contaminando a moral das esquerdas e comprometendo ainda mais o funcionamento de uma economia eficiente.

E usa e abusa o conceito da ética, como se tivesse entrado na lama e saído sem respingos. Leia-se o que dele escreveu seu marqueteiro Luiz Fernando Emediato (http://migre.me/uTpzB).

Cristovam lembra o título de uma peça de teatro famosa, de 1946,  de Jean Paul Sartre. Ou uma comedia dell’arte de Carlo Galdoni. O personagem Cristovam, enfim, é eterno.

Por Maria Silva

Claudio Moura e Castro, um  tucano  notório (?) que escrevia (?) na Veja, atacou impiedosamente a gestão de Cristovam Golpista Buarque no MEC, por causa da sua recusa em implantar um indice de avaliação da educação basica.

O golpista dizia que era uma proposta “neo liberal”. Covarde e oportunista como só ele, jogava pra plateia de sabujos do corporativismo sindical docente, que ele acreditava ser sua “base” de apoio politico no MEC.  

Após sua merecida demissão, Haddad lança então o IDEB e a Prova Brasil, que davam sustenção e fundamentação às politicas publicas de melhoria na qualidade do ensino. Haddad também  criou e implantou o Plano de Ação Articulada para auxiliar estados e municipios na questão do planejamento educacional e liberação de recursos do governo

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Falar sobre esse sujeito é um

    Falar sobre esse sujeito é um desperdício de bytes, muito bom ele ter aderido a "nova ordem", a mediocridade é a marca maior desses "novos" e temerosos tempos e nada mais medíocre do que o excelentíssimo senador. Ordem(?) e Progresso(?) VIVA A REPUBLICA MEDIOCRATICA DE BANÂNIA.

  • Há tempos me transparece que

    Há tempos me transparece que esse senador passa por uma séria crise existencial em termos de ideário político. Basta atentar para sua atuação no Senado e nas suas declarações a imprensa. Perdeu o norte político, está visivelmente desorientado, o que se percebe quando - claramente que quer agradar a todo o espectro político. E quem assim age acaba por não agradar ninguém.

     

    • há tempos....

      Esquerda: auto-critica e humildade. Para aqueles que creram, que fizeram crer, foram enganados e enganaram milhões com esta mixórdia. Cristovam é a esquerda. E também não é. Esticou a corda até onde foi possível e pulou fora, para não se enforcar com ela. Como outros tantos covardes, muitos realistas, pulou do barco para simplesmente não afundar com ele:" Para que ir para o fundo, se um iate me espera para me levar até um arquipélago de luxo e riqueza. Afinal fiz tanto pelo país? Não é verdade?". "Companheiros, não pudemos acabar com o capitalismo. Então o desfrutemos. O Estado Brasileiro proverá condições para tanto.". Não é a única elite brasileira?Aquela que nunca se enxerga? Vou fingir que não sabia há uns 30 anos, que o último capitulo da novela seria este. QUE SURPRESA!!!!!

      • GOLPE BRANCO NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

        Tai!!!

        A mediocridade poderia até passar sem ser notada e anotada, mas a traição e o conluio à formação com golpistas a assaltarem e matar a Democracia no Brasil não terá perdão.

        Em um futuro não muito distante teremos o nome de Cristóvão Buarque escrito como de golpista e com certeza sua biografia será reescrita como de TRAIDOR na História do Brasil Republicano.

      • GOLPE BRANCO NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

        Tai!!!

        A mediocridade poderia até passar sem ser notada e anotada, mas a traição e o conluio à formação com golpistas a assaltarem e matar a Democracia no Brasil não terá perdão.

        Em um futuro não muito distante teremos o nome de Cristóvão Buarque escrito como de golpista e com certeza sua biografia será reescrita como de TRAIDOR na História do Brasil Republicano.

  • Por que perdeu seu tempo?

    Até entendo que você, como jornalista, precise ler e estar a par de tudo. Mas daí tentar extrair posicionamento, coerência e consistência de um texto de alguém que a anos só faz demonstrar que é uma casca sem conteúdo... perdeu seu tempo à toa.

    Sabe aquele papo de que ninguém engana a todos o tempo todo?  Cristovam é um blefe que ainda  é levado em consideração somente por gente bem mais limitada do que ele. É mantido por um eleitorado moderado/superficial/acéfalo.

  • Dois erros de Lula, 1@ convidado o Buarque errado.

    O certo era o Chico. 2@ ter demitido o <colombo> por fone, o certo seria meter um pontape nos fundilhos.

  • Muita vela para pouco

    Muita vela para pouco defunto.A artimanha dele vem tendo relativo sucesso,joga o anzol para o incauto morder .Tem sido bastante citado.Nao se deve perder tempo com ele.Eu acho.

  • Coitado Nassif, 
    ele se acha

    Coitado Nassif, 

    ele se acha o cavaleiro da esperança. Em sua cabeça infantil ele sozinho, no meio dos bandidos, vai levar o pais para frente. Claro, quando a esquerda perceber que só ele é que sabe o melhor para a esquerda.

    Pena que ele não sera mais eleito para fazer o que promete.

    Fica a pergunta, quem é que não gosta de dialogo?

  • Até antes de ler o texto
    Até antes de ler o texto completo, uma pausa para aplaudir com veemência:

    " Nunca me permiti confundir ideias com pessoas. Nem desqualificar ideias baseado em viés ideológico."

    Genial, Nassif, genial nestes tempos de "Geni" e 'self".

    Você é respeitado pelo conhecimento dos temas, e pela equidistância, que poucos têm, mantida em suas análises. Ainda, que deveria, penso eu, se vestir um pouco de ideologia para marcar posição dentro de uma duas vertentes políticas, neste tempo de batalhas ferrenhas de apenas dois lados.

    Parabéns pelos que você representa neste mundo de jornalismo de oportunismo.

    Um grande abraço a todos os que ajudam ao blog, notoriamente aos seus milhares de leitores que lhe dão brilho

  • A prostituta respeitosa
    Nassif

    Vc talvez enrubesceu e não citou diretamente o nome da peça.

    Mas em tempos de Google a coisa é mais rápida.

    Só discordo um pouco. No caso hj essa prostituta é usável. Ninguem a respeita.

    A esquerda aprendeu na base da porrada. A direita, que vai usar esse personagem à exaustão, não precisa aprender nada. Eles não se enganam sobre esse tipo de gente. Aliás, caso se enganassem, não seriam a direita.

  • Pleonasmo

    Justamente por ser uma fraude intelectual  que o  senador golpista  tinha espaço na mídia. Dizer que Cristovam é uma fraude é pleonasmo. Cristovam e Rogério Magri tudo a ver.

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