Dilma: Parlamentarismo é saída dos sem-voto para permanecer no poder

do Marco Zero Conteúdo

Dilma: Parlamentarismo é saída dos sem-voto para permanecer no poder

por Laércio Portela

A ex-presidenta Dilma Rousseff vê na reforma política em tramitação no Congresso Nacional uma manobra de setores que apoiaram o impeachment para permanecer no poder. “Eles querem agora discutir o parlamentarismo por uma terceira vez e, além disso, querem o tal do distritão. O parlamentarismo é sempre uma saída conservadora em momentos de ruptura institucional. Foi assim com Jango, foi assim depois da Constituição de 1988 (pós-ditadura militar). Obviamente é uma tentativa dos sem-voto de permanecer (no poder) para além de 2018″.

O distritão, com voto majoritário para deputado federal em que são eleitos apenas os candidatos mais votados e não são contabilizados votos de legenda e nem considerada a proporcionalidade, também é duramente criticado pela ex-presidenta. “O distritão é a tentativa de nos varrer da face da terra. Porque quem ganha com o distritão é quem tem dinheiro, quem tem poder”, critica. Para amplos setores da esquerda, quem vai sair ganhando com o distritão são os candidatos mais conhecidos do eleitor, as celebridades e os mais ricos.

Dilma acredita, no entanto, que a sociedade brasileira não vai aceitar por muito tempo um sistema eleitoral desse tipo porque ele comprometeria o princípio da representatividade democrática. “É obvio que lá no final nós vamos derrotar o distritão porque o povo não vai aceitar uma representação montada completamente em cima do poder econômico, do poder da mídia e das oligarquias tradicionais”.

As declaraçôes da ex-presidenta Dilma sobre a reforma política foram dadas em entrevista à mídia independente de Pernambuco em edição especial do programa Fora da Curva, numa conversa com jornalistas da Marco Zero Conteúdo, Fora da Curva, Terral Coletivo de Comunicação Popular e Associação Nacional de Radiodifusão Comunitária (Abraço). A entrevista exclusiva era com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que está em caravana pelo Nordeste, mas Dilma chegou no final da transmissão e aceitou responder algumas perguntas.

Enquadramento neoliberal

A ex-presidenta chamou a atenção para o fato de que o golpe parlamentar não tinha por objetivo o impeachment em si, mas a imposição de uma agenda de longo prazo de perda de direitos. “Esse golpe não se traduz num ato. Nós sabemos o retrocesso que eles estão impondo. Essa maluquice que é limitar por 20 anos os gastos com educação, a lei de terceirização, a reforma trabalhista que, na verdade, é a destruição das relações de trabalho reguladas no Brasil. O reino da selvageria. O objetivo é enquadrar o Brasil econômica, social e geopoliticamente no neoliberalismo”.

Segundo Dilma, a partir do “golpe sem crime de responsabilidade”, houve um imenso desequilíbrio entre os poderes, com conflitos entre o Ministério Público e o Judiciário, a extrema politização do próprio Poder Judiciário, a antecipação de sentenças pelos juízes, a “compra aberta de votos no Parlamento”.

Essa divergência e esses conflitos nascem, na opinião da ex-presidenta, porque as forças políticas que impulsionaram o impeachment não têm segurança sobre sua capacidade de tomar o poder nas urnas em 2018. “Todo esse processo tem uma razão de ser: eles não têm um bom candidato para 2018. Eles hoje praticam algo que considero extremamente grave que é a justiça do inimigo para cima do ex-presidente Lula. O objetivo é destruir civilmente como cidadão, moralmente, uma pessoa. Quando um procurador diz que não tem provas, tem convicções, nós voltamos à idade média”, afirmou em referência à apresentação do já famoso power point do procurador da Operação Lava-Jato Dalton Dellgnol incriminando Lula.

Fora do jogo

“Estamos vivendo o segundo momento do golpe que é o de tirar a alternativa progressista, popular, do jogo”, alerta.

O momento para Dilma é de unir forças no campo da esquerda e resistir. “Agora nós temos que fazer o que o ex-presidente Lula disse. Temos que resistir, mas não somos só nós aqui sentados nessa mesa. Quem tem de entrar nesse processo de resistência são os jovens, são todos os segmentos populares que estão contrários a tudo isso que está acontecendo. Que percebem a que esse golpe veio, para que ele foi feito, a quem ele beneficia. Está tudo muito claro”, afirmou lembrando da exclusão de mais de 1 milhão de pessoas do Bolsa Família e do recém anunciado pacote de privatizações do governo Temer, incluindo a Eletrobrás.

A entrevista concedida aos jornalistas Paulo Reis (Fora da Curva), Laércio Portela (Marco Zero Conteúdo), Débora Britto (Terral Coletivo de Comunicação Popular) e ao radialista Wagner Souto (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) alcançou mais de 400 mil visualizações na Internet e foi disponibilizada por streaming de áudio para mais de 2 mil rádios comunitárias em todo o País. Pela primeira vez, Dilma e Lula concederam entrevista ao vivo para veículos da mídia independente regional.

Redação

3 Comentários

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  1. Mas se nao formos rapidos, eles vão chegar la. Pra isso a LV

    O diagnostico da presidenta Dilma esta perfeito. Mas, para além do que Lula tem feito com essa caravana que começa pelo NE, o que faremos de concreto para se, não dar um alto la em todo esse processo, pelo menos estacarmos a hemorragia? Sinceramente, eu estou me sentindo uma mola encolhida em meio a tanta gente ou perdida ou em transe.

  2. Assessor do “novo”  ministro

    Assessor do “novo”  ministro do STF:

    https://www.escavador.com/sobre/794007/cesar-mecchi-morales

    Mestrado em Direito do Estado
    2004 – 2007
    Universidade de São Paulo
    Orientador: MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO
    Palavras-chave: FERREIRA FILHO.

     

    Doutorado em andamento em Direito do Estado
    2008 – Atual
    Universidade de São Paulo
    Orientador: ALEXANDRE DE MORAES

    https://www2.direito.ufmg.br/revistadocaap/index.php/revista/article/view/318/307

    Titulo:

    Razões para uma Ditadura: Manoel Gonçalves
    Ferreira Filho e a Democracia Possível
    Reasons for a Dictorship: Manuel Gonçalves Ferreira Filho
    and the Possible Democracy

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