Bolsonaro entra finalmente no seu inferno astral, por Luis Nassif

A soma de crise econômica, fracasso da política de saúde, incapacidade de conduzir as tais reformas chegaram, finalmente, ao centro da questão: a governabilidade. Daqui para frente, Bolsonaro terá que conviver com pressões continuadas e perda de apoio.

Os cenários econômicos brasileiros, e a formação de expectativas, são definidas da seguinte maneira:

1. O mercado dá o tema, impreterivelmente em cima de expectativas de curtíssimo prazo, uma frase de Bolsonaro, uma reafirmação da Lei do Teto, uma promessa de reforma, um avanço no negócio da privatização, um conjunto de irrelevâncias, que nada diz sobre o cenário real da economia.

2. A imprensa repercute, sem nenhuma visão de conjunto, em uma mediocrização pouco vista em 50 anos de história do jornalismo econômico brasileiro. Tratam cada episódio como se fosse decisivo, quanto muito, influenciam apenas o próximo vencimento de opções.

3. Em cima desse efeito manada, os verdadeiros estrategistas deitam e rolam. Eles analisam os temas centrais e, a partir deles, traçam uma linha de médio prazo, sobre o que pode acontecer com a economia. Traçada a linha, vão comendo pelas bordas, comprando quando os indicadores estão abaixo da linha, vendendo quando acima.

Quais os pontos relevantes a se considerar (há muito tempo, saliente-se).

* Pressão de custos, provocada pelo câmbio e pela abertura irrestrita das exportações de minérios e alimentos.

* Queda das vendas, pelo fim da renda emergencial, produzindo uma combinação que leva à estagflação.

* Ampliação da tensão social, com o aumento do desemprego e da fome.

* Paulo Guedes totalmente atarantado. É Ministro de uma arma só – as tais reformas, um fetiche que encanta o mercado e que não tem o menor efeito para enfrentar os monstros atuais: desemprego, crise social, queda da atividade econômica, desmonte da máquina pública. Não tem a menor condição de definir políticas econômicas capazes de enfrentar os problemas atuais.

Ontem, o cenário óbvio foi se concretizando.

Primeiro, com a demissão de Wilson Ferreira Jr da presidência da Eletrobras, empenhado em concretizar a privatização da empresa. Depois, com os rumores de que o superministério de Paulo Guedes voltará ao formato anterior, com o desmembramento do Planejamento e do Desenvolvimento, sinal de que caiu a ficha sobre a inapetência gerencial de Guedes.

Nesses episódios, concretiza-se o divórcio final do mercado.

Dois outros fatos enfraqueceram ainda mais o governo Bolsonaro. O primeiro, a quase humilhação pública a que Bolsonaro se submeteu, elogiando a China pelo canal oficial do governo brasileiro: o Twitter. Certamente o episódio não o deixará ficar bem com seus seguidores mais fanáticos.

O segundo, o envio correndo para Manaus, do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, depois que o Ministro Ricardo Lewandowski acatou o pedido de abertura de inquérito pelos erros cometidos no trágico episódio de Manaus.

Ficou evidente que acendeu uma luz amarela sobre o que poderá acontecer com Pazuello. Confirmado o crime de incompetência na gestão da Saúde, não haverá como não transpor a responsabilidade para quem o colocou no cargo, Jair Bolsonaro. Ainda mais se sabendo que os principais erros na condução da política anti-pandemia foram de responsabilidade direta de Bolsonaro.

Em suma, conforme previsto, a soma de crise econômica, fracasso da política de saúde, incapacidade de conduzir as tais reformas chegaram, finalmente, ao centro da questão: a governabilidade. Daqui para frente, Bolsonaro terá que conviver com pressões continuadas e perda de apoio.

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Prezado Nassif e camaradas

    Só o fato deste sujeito ter sido eleito e ainda ter a legião de zumbis que o seguem dá a medida da miséria (ética, moral, intelectual) em que nos metemos

  2. Pelas apurações que circulam, ele vai emplacar os presidentes da Câmara e do Senado. Ou é tudo teatro de sombras ou o baixo clero vai arrancar o que pode, seja pra seguir com o boçalnaro, seja já se preparando para a coalizão de um suposto pós impeachment.

  3. SÓ PRA CONTRARIAR

    -Ainda repercutindo o artigo de Nassif de ontem,O Fator Ciro Gomes,algumas observações;
    Concordo quando afirma que Lula se inviabilizou como candidato,pelos motivos mais que óbvios.
    Faltou se referir ao capital político dele,alguma coisa parecida com votos.Quem na oposição tem mais que ele?Se se somarem todos,não o ultrapassam percentualmente.
    Seja fator A,B,C ou Z,qualquer frente que se apresentar sem o “capital político de Lula”,pura perda de tempo.
    Em um dos tópicos do artigo ele fala algo como alguém teria que abdicar de algo,para juntar depois.Quem poderia fazer isso?Quem sabe a Blá Blárina Silva,o quem,quem,quem,ele Raimundo Nonato,ou na bela música Um Trem Para as Estrelas,obra prima de Cazuza e G.Gil.

    -Sobre o artigo acima,eu ainda escuto o Papai a me ensinar pelo resto da vida:Meu filho,quem elege e deselege Governos,é a barriga.Por certo,cheia ou vazia.E nesse momento,como bem retrata o artigo,Jair está no cú da cobra.

    – Por certo o livro de Eduardo Cunha que vem por aí,e que já li a Introdução,seja para atender interesses confessáveis e inconfessáveis,retratará de forma mais verdadeira o que é a política brasileira,e o próprio País;Corrupto em toda sua extensão,canalha em todos os sentidos e vítima de uma elite,feudal,predadora,reacionária e cruel.
    Segundo Graciliano Ramos,nós jamais seríamos uma nação pela falta de um Golfo.

  4. Lembram-se dos Golden Showers, das Damares, dos Weintraubs, do Ministro do Meio Ambiente que odiava o Meio Ambiente e de outros escândalos?

    Eram apenas gincanas, cortinas de fumaça para distrair a atenção do foco principal. Acabar com todos os direitos trabalhistas, acabar com as aposentadorias, vender todas as empresas públicas e chegar no “estado mínimo”, o supra sumo neoliberal.

    Damares e outros “escândalos” saíram de cena? O imponderável deu as caras. Um simples vírus apareceu e tomou conta de tudo. O corona vírus fez o que a nossa grande imprensa nunca fez, com suas escolhas difíceis e passadas de pano para a famiglia de milicianos.

    O corona vírus expôs o que o bolsonarismo realmente é. Um bando de gente com muito ódio, sem um pingo de empatia e sem a mínima capacidade para gerenciar um boteco que seja.

    O corona vírus acabou com a festa neoliberal. Pelo menos por enquanto. Até que as coisas se ajeitem, a famiglia miliciana aproveita para encher o carrinho gastando 15 milhões em leite condensado.

    Impeachment ou cassação da chapa, com afastamento imediato e julgamento dos crimes de responsabilidade da famiglia.

  5. Bolsonaro elegerá na semana que vem o presidente da Câmara e o presidente do Senado, tornando qualquer ideia de impeachment um devaneio da esquerda, da centro-esquerda e da centro-direita.
    Quem vai ingressar no inferno astral, Bolsonaro ou nós?

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