Aumentam manifestações internacionais reconhecendo golpe no Brasil

Especialistas ressaltam que repúdio forçará guinada nas relações exteriores 
 
 
Jornal GGN – Cresce o número de organizações que repudiam o golpe de estado no Brasil. A reportagem à seguir, do Brasil Atual, destaca manifestações que ocorreram durante conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), vinculada à ONU, a moção de 30 eurodeputados que pediram à Alta Representante da União Europeia para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, que não negocie com Michel Temer, nos acordos entre o bloco e o Mercosul, a divulgação de notas oficiais da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), contra o afastamento forçado de Dilma e, ainda, a condenação de golpe pela União de Nações Sul-americana (Unasul), e por diversos países da região. 
 
Em suma, a pressão internacional contra o golpe no Brasil não vem só da imprensa estrangeira. Entretanto, apesar do cenário, dificilmente algum país irá romper relações diplomáticas com o Brasil, avaliam especialistas entrevistados para a matéria.   
Rede Brasil Atual
 
Cresce pressão internacional contra golpe
 
Especialistas lembram repúdio de integrantes da sociedade civil no exterior e ressaltam eventual dano que guinada nas relações exteriores pode causar ao país
 
Por Rodolfo Wrolli
 
São Paulo – O filme do Brasil está cada vez mais queimado lá fora. Não são apenas os veículos de comunicação internacionais que andam denunciando a situação política que levou ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff e à nomeação de ministros corruptos. O repúdio também emana de diversos países e organismos internacionais.
 
Ontem (3), ao negar o golpe, um diplomata brasileiro foi vaiado durante conferência da Organização Internacional do Trabalho, organismo vinculado a Organização das Nações Unidas (ONU).
 
A presidenta da sessão, Cecilia Mulindeti-Kamanga, cortou a fala do diplomata, alegando que o representante do governo infringiu as regras da conferência ao tratar de assunto fora da pauta.
 
Esta foi só a mais recente manifestação de repúdio em instâncias internacionais. No final do mês de maio, 30 eurodeputados assinaram carta enviada à Alta Representante da União Europeia (UE) para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, reivindicando que não negocie com o presidente interino Michel Temer. O governo brasileiro lidera o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul.
 
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a mais importante comissão da ONU no subcontinente, divulgou em março nota com teor forte em que presta total apoio ao mandato de Dilma Rousseff e conclama a sociedade brasileira a respeitar o resultado das urnas, sob o risco de desestabilizar a democracia em todo o continente.
 
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, igualmente defendeu o mandato da presidenta eleita e criticou as tentativas de tirá-la do cargo sem fundamento jurídico. Na sua avaliação, Dilma demonstra um claro compromisso com a transparência institucional e a defesa dos ganhos sociais alcançados pelo país. “É a realização de um processo de impeachment de uma presidente que não é acusada de nada, não responde por nenhum ato ilegal, sobretudo porque vemos que entre os que podem acionar o processo de impeachment existem congressistas acusados e culpados. É o mundo ao contrário”, afirmou.
 
A União de Nações Sul-americanas (Unasul) condenou seguidas vezes o processo de destituição da presidenta Dilma. O secretário-geral do organismo, Ernesto Samper, declarou que um julgamento político contra um presidente que não cometeu qualquer crime abre precedentes para que isso aconteça de forma indiscriminada em toda a região.
 
Países da América Latina foram os primeiros a se manifestar contra o golpe. Cuba, Nicarágua, Chile, Bolívia, Uruguai, El Salvador, Equador e Venezuela criticaram o processo de impeachment e expressaram apoio a Dilma. Os três últimos convocaram seus embaixadores de volta. Na linguagem diplomática, essa medida representa profundo descontentamento com o país onde se localiza a embaixada.
 
Sociedade civil
 
O coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Giorgio Romano, ressalta, no entanto, que nenhum país ou organismo internacional vai romper relações com o Brasil por causa do golpe. Para ele, muito mais importante que essas reações é a pressão da sociedade civil no exterior, como as verificadas no festival de cinema de Cannes, em maio, quando os atores brasileiros do filme Aquarius – que concorreu à Palma de Ouro – denunciaram ao mundo a situação política brasileira.
 
Ele também cita a cobertura internacional da imprensa, que “simplesmente parou de reproduzir o que a Globo e companhia noticiavam e mandou os correspondentes trabalharem”.
 
O protesto de intelectuais que levaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a cancelar sua participação numa palestra sobre democracia na América Latina também foi lembrado por Romano.
 
Um grupo de integrantes da Associação de Estudos Latino-Americanos (Lasa), entre intelectuais brasileiros e estrangeiros, encaminhou à entidade petição defendendo ser inapropriado o tucano participar do painel organizado pela instituição no momento em que o PSDB é apontado como um dos colaboradores de um golpe no Brasil.
 
“Os relatos que temos é que o pessoal ligado o governo está extremamente incomodado com isso”, diz Romano. “O posicionamento da mídia e da sociedade civil internacional é muito crítico em relação ao processo [de destituição de Dilma Rousseff]. É evidente que um ministério formado apenas por homens brancos, muitos envolvidos em corrupção, gerou um desconforto. Tudo isso alimenta na Europa e nos Estados Unidos a ideia de instabilidade política.”
 
Guinada na política externa
Soma-se a isso a guinada que o governo interino vem implantando na política externa. O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (foto acima, à esquerda), já sinalizou a intenção de fechar postos diplomáticos abertos nos governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff na África e no Caribe. Desde 2003 o Brasil vinha intensificando as relações entre países em desenvolvimento.
 
Em seu discurso de posse, Serra afirmou que a partir de agora as relações exteriores irão “atender à sociedade e não a um partido”. Entre as novas diretrizes, o tucano citou a prioridade das relações com os Estados Unidos e com Argentina, México, também comandados por governos neoliberais.
 
“O que está se tentando fazer num curto espaço de tempo é o que geralmente não se faz em política externa, que é tentar dar uma guinada muito rápida, por isso essa avalanche de críticas de organismos internacionais e países vizinhos”, afirma Moisés da Silva Marques, doutor em Relações Internacionais pela USP e coordenador do Centro Acadêmico 28 de agosto.
 
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Redação

11 Comentários

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  1. Serra e o roteiro goma de mascar

    “Vai atender à sociedade”… ao que ele considera “sociedade”: o 1% dos mais ricos no Brasil e o roteiro “Goma de mascar”: Miami, Washington, Wall Street.

  2. Vices olímpicos

    Bem… se os chefes de delegações olímpicas forem os respectivos vices de cada país eu acharia que a linguagem diplomática prevaleceu.

    Ao vice o que é do vice.

    Quem vai querer ter sua imagem colada na do vice golpista?

  3. Não sou otimista.
    Existe um

    Não sou otimista.

    Existe um oceano de papel pintado pelo mundo em busca de ativos reais. O Brasil é visto como oportunidade de solução de problemas econômicos por muita gente graúda. A banca e os governos estão a favor do golpe. Resmungos e muxoxos têm pouco potencial de reverter situações deste tipo.

    Se dependesse de “protestos” e notinhas na imprensa Siria, Ucrânia, Libia, Egito, etc., não teriam sido destroçados.

    Ademais, as forças golpistas internas estão sendo acicatadas de lá de fora mesmo. Se não mostrarem serviço, empenho estarão todos ferrados de qualquer jeito. Não vão parar, portanto. Vão até o fim. Só a entrega total do país pode dar-lhes alguma sobrevida.

    1. Oi Lucinei
      Concordo com

      Oi Lucinei

      Concordo com você.

      Para continuar entregando o Brasil, considerando o aumento das manifestações, o golpista Temer, terá que tirar das mangas as Forças Armadas, que devem estar rosnando de vontade  de pegar petralhas, comunistas, cutistas e por ai afora.

      Saudações

    2. Sou apenas 99%

      Sou apenas 99% pessimista.

      Ainda acredito que 1%, que é a juventude que está indo às ruas, possa fazer a diferença.

      Está muito difícil, mas o jogo não está completamente perdido. Ainda há esperança, pouca, mas há

  4. as relações exteriores irão

    as relações exteriores irão “atender à sociedade e não a um partido. Uma afirmação dessas só poderia partir de um interino golpista como o Serra. Que sociedade? aquela pequena parte que apoia o golpe? Cresce no mundo inteiro o repúdio a esses golpistas apoiados pela globo. A juventude estar acordando e há protestos no Brasil inteiro contra o golpe. Serra, você faz parte dos interinos golpistas e não representa o Brasil. Não adianta disfarçar com colocações odiosas. O Brasil cresceu nos governos de Lula e Dilma. O desmonte que tentam efetuar ao Brasil vai se voltar contra vocês. O povo já percebeu qual era o plano do golpe apoiado por vários setores de instituições… Vamos vencer o golpe porque queremos restaurar a democracia…

  5. onde estão os RICS?

    Pena que a China, umbilical com os Estados Unidos, afinal recebe deles todo mês um baú de ouro, para que os americanos lhes pague o serviço da dívida, não se manifestou. A Rússia teve um espamo que parecia promissor mas parece que os americanos os calaram. Os BRICS parece que dançaram. 

    1. A China

         Vem para participar da possivel “razzia” de Temer , comprando terras, empresas, pedaços de estatais ou elas próprias, financiar infraestrutura colocando suas empreiteiras ( desde que se alterem certas leis trabalhistas e ambientais ).

    2. É incrível o prazer orgástico

      É incrível o prazer orgástico com que os coxas, ops, trouxas comentam tudo o que significa, em suma, a declaração de Dependência do Brasil  e o afundamento de um projeto de soberania e projeção internacional. Se não for  pura burrice, pode ser baixa estima ou masoquismo.  Mas, seja lá o que for, é impressionante!

  6. 30 “eurodeputados”

         Outra forma de dar esta suposta “manchete” : Menos de 5% dos eurodeputados apresentam moção contra o impedimento de Dilma .

          UNASUL : Um belo prédio em Quito, tremendo cabide de emprego – como é a OEA – de onde nunca saiu nada que preste ou teve relevancia.

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