Jornal GGN – O economista Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que, com apoio da mídia, que vai pintar um quadro de otimismo, o governo do presidente interino Michel Temer pode conseguir fazer a economia crescer. O custo, no entanto, vai ser o aumento da desigualdade. “A imprensa vai começar a dizer: ‘aumentou o emprego’. A forma como as coisas são vistas é importante na economia. Você infunde otimismo numa situação muito ruim”, disse. “Dado o grau em que a economia encolheu, eles têm os instrumentos para começar uma recuperação”.
Para Belluzzo, essa recuperação será baseada “no estilo tradicional brasileiro”. “Eles vão fazer a economia crescer reduzindo a ascensão dos de baixo, que foi muito importante no período Lula e no primeiro mandato de Dilma”.
Da Rede Brasil Atual
‘País pode ter crescimento, mas com aumento da desigualdade’, diz Belluzzo
Por Eduardo Maretti
Para economista, governo Temer, com Henrique Meirelles, vai “fazer a economia crescer reduzindo a ascensão dos de baixo, que foi muito importante no período Lula e no primeiro mandato de Dilma”
São Paulo – Após a primeira coletiva do novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo avalia que, diante das dificuldades econômicas do país, o início do governo Michel Temer tem possibilidades de conseguir, com o apoio da mídia, obter resultados. “A imprensa vai começar a dizer: ‘aumentou o emprego’. A forma como as coisas são vistas é importante na economia. Você infunde otimismo numa situação muito ruim”, diz. “Dado o grau em que a economia encolheu, eles têm os instrumentos para começar uma recuperação.”
Essa recuperação, porém, se houver e se não forem cometidos erros de percurso, será baseada “no crescimento no estilo tradicional brasileiro”, segundo Belluzzo. “Eles vão fazer a economia crescer reduzindo a ascensão dos de baixo, que foi muito importante no período Lula e no primeiro mandato de Dilma.”
Para o economista, um dos principais fatores que levaram a economia à depressão foi a operação Lava Jato. “Ela colocou problemas graves para as grandes empreiteiras, que são grandes devedoras no mercado financeiro, o que inviabilizou muitas empresas médias e pequenas.” Em dezembro de 2014, Belluzzo já alertava para o problema. “Observo uma tendência na sociedade brasileira de achar que não tem importância em destruir a Petrobras e as empreiteiras. Só que elas são responsáveis por uma parcela muito importante do investimento no país”, afirmou à época.
Ainda no final de 2014, Belluzzo também apontava para os problemas da economia brasileira com a adoção do programa de Joaquim Levy, então recém-nomeado ministro da Fazenda da presidenta Dilma Rousseff. “O que vai acontecer? Eles vão cortar renda e emprego. Só que isso vai ser feito com uma recessão”, previu.
Em entrevista à RBA, Belluzzo comentou as perspectivas da economia com o novo ministro Henrique Meirelles, que, por ironia, era o preferido de Lula para comandar o Ministério da Fazenda de Dilma, que preferiu Joaquim Levy.
Como vê as possibilidades na economia com o governo Temer?
Houve o choque negativo produzido de 2014 para 2015, o choque de tarifas, a economia desacelerando. O PIB cresceu 0,1% em 2014, e vinha em desaceleração. Começamos 2015 com a economia com forte desaceleração. Aí o governo deu um choque de tarifas, elevando a inflação para 10,75%, gerando um desemprego hoje de 11%, fruto da queda do PIB. O déficit primário (receitas menos despesas, descontando os juros) foi a 0,6% no final de 2014 e está em 2,3% (do Produto Interno Bruto). A economia estava desacelerando. Aí você dá um choque de tarifas. Isso pega todas as cadeias produtivas, serviços e tudo o mais. Ao mesmo tempo você eleva a taxa de juros para 14,25%. A subida das taxas de juros, mais os cortes do Joaquim Levy em investimento, colocaram a economia não numa recessão, mas numa depressão.
Mas, no cenário atual, as quedas dos juros e da inflação já não estavam previstas, mesmo que a Dilma não caísse?
Sim, certamente. Como cai a inflação? Você saiu de 6,4%, foi a 10,75% por causa do choque de tarifas, agora está voltando para estimativas de 7% ou 6,5% em 2017. Um percurso absurdo. A inflação foi puxada para baixo pela contração da economia e aumento do desemprego. Isso permite uma queda na taxa de juros. Nesse intervalo, a Lava Jato colocou problemas graves para as grandes empreiteiras, que são grandes devedoras no mercado financeiro, o que inviabilizou muitas empresas médias e pequenas. Com o choque de juros, as dívidas subiram a níveis inimagináveis.
O único fator positivo foi o cambial, que fez com que a balança comercial brasileira passasse de déficit para superávit. Essa melhoria reduziu o déficit em conta corrente, que inclui pagamento de juros e outros serviços. A economia continuou caindo, mas em velocidade menor. O que ficou disponível para a política econômica (de Meirelles) é a redução rápida dos juros, mais rápida do que seria imaginável. Não sei se eles vão fazer. Muita gente diz que é preciso colocar a inflação na meta para reduzir os juros. Se não reduzirem, o setor privado não vai poder reagir.
O governo Temer pode se beneficiar de expectativas positivas do mercado?
Eles perceberam que era preciso retomar o investimento em infraestrutura para dinamizar a economia, senão a coisa não vai. É o que o Meirelles tentou explicar e não conseguiu. Disse que precisamos reduzir a relação dívida/PIB e ao mesmo tempo dar impulso à economia. Mas estão com a faca e o queijo na mão, se fizerem a coisa corretamente e reduzirem a dívida pública.
A economia chegou a um momento em que, com qualquer movimento mais favorável, queda dos juros ou recuperação do investimento público, por exemplo, você vai puxá-la para cima e vai parecer um sucesso. Tudo vai depender do que vai acontecer com a indústria. Não dá mais para valorizar o câmbio. A indústria foi muito machucada nos últimos 20 anos, inclusive pelo governo do PT, que deixou o câmbio valorizar. Eles têm condição de fazer uma reversão da economia.
Se não quiserem produzir o superávit primário a qualquer custo, se fizerem isso ao longo do tempo e reduzirem a taxa de juros, a situação melhora muito. Até porque o mercado internacional vai começar a olhar para o Brasil de maneira favorável, porque a economia tem chance de recuperação.
Não é curioso que Lula queria Henrique Meirelles para a Fazenda?
Por que o Lula queria o Meirelles? Porque ele sabe que o Meirelles é flexível. É que Meirelles não consegue se expressar direito, mas o que ele disse? Ele disse: “vou chegar ao ajuste fiscal daqui a dois anos, ao longo do tempo”. Se você fizer de repente, você vai agravar a situação. Isso já custou o desemprego, a inflação está se ajustando pelo desemprego, pelo fechamento de empresa, pela desorganização de serviços, pela perda de participação do salário na renda. Se você gera uma taxa de desemprego cavalar, aí a inflação cai mesmo.
Já que o impeachment foi apoiado por setores do mercado financeiro e especuladores, e Temer é apoiado por esse mercado, pode-se esperar algo bom para o povo, mesmo que a economia melhore?
É provável que a economia comece a se recuperar, mas se eles cometerem o erro de misturar isso com as reformas, principalmente a trabalhista, para o povo não vai ficar nada bom. E eles não disseram que vão acabar com o Bolsa família. Seria um tiro no pé.
Mas o Meirelles deixou claro, em outras palavras, que o Bolsa Família vai ser visto com cuidado, que vai ser objeto de critérios rigorosos etc…
Eles vão querer encolher (o Bolsa Família), fazer cortes etc, mas ao mesmo tempo estão montando um programa em infraestrutura para gerar emprego. Vai se tentar fazer uma recuperação típica do Brasil, em que os salários crescem bem abaixo da produtividade. Ele falou isso, eu vi a entrevista. Essa ideia da redução da desigualdade saiu de pauta. Agora é a lógica do crescimento em que a contenção dos salários ajuda a disposição das empresas a investir, mas com salário mais baixo.
Mas não se engane: dado o grau em que a economia encolheu, eles têm os instrumentos para começar uma recuperação. Não será nada brilhante. O que você pode apostar é que, se crescer, teremos um crescimento no estilo tradicional brasileiro, com aumento da desigualdade. Vai-se bloquear os programas sociais. E há outro aspecto: a economia mundial não vai bem.
A imprensa vai começar a dizer: “aumentou o emprego”. A forma como as coisas são vistas é importante na economia. Você infunde otimismo numa situação muito ruim. O que eles vão fazer? Eles vão fazer a economia crescer reduzindo a ascensão dos de baixo, que foi muito importante no período Lula e no primeiro mandato de Dilma.
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O mal-estar dentro do bem-estar.
Olá debatedores, bom dia.
Normalmente, digo que respeito bastante a opinião do r.professor Belluzzo.
Boa parte da análise dele aqui, portanto, tem a minha aprovação.
No entanto, pelos menos duas passagens do texto( da entrevista) causaram-me um certo “mal-estar”. Vejamos qual foi ela:
“É provável que a economia comece a se recuperar, mas se eles cometerem o erro de misturar isso com as reformas, principalmente a trabalhista, para o povo não vai ficar nada bom. E eles não disseram que vão acabar com o Bolsa família. Seria um tiro no pé.”(grifei)
“Agora é a lógica do crescimento em que a contenção dos salários ajuda a disposição das empresas a investir, mas com salário mais baixo.”(grifei)
Agora vejam vocês, meus caros debatedores atentos, o que exatamente meu causou o “mal-estar” de sempre quando o assunto gira em torno da tal “ciência econômica”.
Ora, tudo, dentro de uma sociedade, num território delimitado com a soberania individual( de cada um) transferida para esse Estado , que o faz soberano, só pode fazer algum sentido lógico se for única e exclusivamente para o bem de todos os seres humanos. Para o bem DE TODOS; e não para o bem de alguns em detrimento de outros.
Isso porque, a economia não passa de um INSTRUMENTO para que possamos alcançar O BEM DE TODOS. Ela não “é” em si mesma. Ela “deve ser” , ela ajuda a explicar, ajudar a fazer com que algo seja feito para o bem de nós mesmos. Ela serve-nos. Ela, portanto, não passa de um INSTRUMENTO.
Então , caberia a indagação:
A “economia” pode começar a se recuperar sem que seja única e exclusivamente para o povo? Resposta: NÃO, vez que ela só pode ser “útil” para o povo. Ela não se recupera de per si.
Noutras palavras, ela “não é” ou não serve para o “alienígena”, ou para os micróbrios,os vermes, os vírus, ou para os prédios, a rua, a lâmpada, o cigarro, a corda, o avião. Ela serve os seres humanos.
Ela, a economia, serve para “moldar” interesses do SERES HUMANOS e não de EMPRESAS!
Empresas NÃO SÃO SERES HUMANOS. Aliás, “empresas” não passam de uma ATIVIDADE( prefiro compreender assim)
Empresa é a atividade que administra um conjunto intencional de recursos a qual visa atingir OBJETIVOS para SERES HUMANOS.
Todavia, dentro de “empresas” há SERES HUMANOS. Alguns seres humanos que “auferem salários”, outros seres humanos auferem lucros, outros, que não são seres humanos a princípio, auferem tributos, outros juros. Mas, todos, ao final, são seres humanos!
E a “economia” vai definir uma fronteira de produção para atender aos DIVERSOS INTERESSES.
Portanto,para finalizar sem mais delongas, caberia mais algumas perguntas:
Quais interesses a “economia” ( O INSTRUMENTO) vai “defender” a partir de agora?
Seria os interesses do povo?
Seria os interesses dos SERES HUMANOS? Quais? Como?
Indaga-se ainda:
A dignidade da PESSOA HUMANA está contida numa EVENTUAL CURVA estudada pela “ciência econômica”( que não passa de um INSTRUMENTO)?
Ou o “custo de oportunidade” com valor presente líquido de um “projeto econômico” qualquer, pode descartar a principal RAZÃO DE SER da nossa REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL em processo de golpe?
Logo, é impreciso falar em “redução de salários” como fator atrativo para que as “empresas” invistam. Não faz sentido.
Ademais, “o povo” está contido nos “recursos”
Qual era a alternativa?
A “narrativa neoliberal” venceu por conta, em parte, de ser exaustivamente repetida pela oposição e pelos meios de comunicação. Mas essa vitória se deve TAMBÉM à dificuldade que homens como Belluzzo têm de expressar com clareza o que teriam feito no lugar de Dilma Rousseff (ou de Joaquim Levy). Sou leigo no assunto. Talvez haja toda uma riqueza de detalhes perdidos nas entrelinhas que me escapa. Seria demais pedir um pouquinho mais de especificidade? Se essa receita adotada por Dilma (e que continuará sendo adotada por Temer, ao que tudo indica) não é correta, o que deveria ser feito? Quando o problema chega aí, o leigo, apesar do desejo de concordar com as conclusões que Belluzzo tira, não consegue perceber de que premissas ele partiu.
tragédia grega.
A economia mundial não vai bem. Esse é o ponto. Nâo somos a Grécia, a Espanha, a França ou os EUa, mas não somos um vilha. O padrão ‘normal’ de crescimento brasileiro – ‘voo de galinha’ com concentraçao de renda – se tornou o padrão normal da economia mundial depois de 2008. Pode se dizer que a Grécia, com as todas as suas especifiidades, é o caso extremaoque ilustra bem o padrão: a cada novo governo, têm-se reversão de ‘expectativas’, a economia pode até crescer um pouco mas para isso se aumentam impostos, cortam-se gastos, fazem-se ‘reformas estruturais’. A concentração de renda aumenta, a repressão aumenta, o défict público não cede, o desemprego pouco se move e a recuperação de um ou dois trimestres vai por agua abaixo. E tudo recomeça de novo em uma espiral de descida em um poço que não tem fundo.. Da Grécia aos EUA ( o caso extremo na outra ponta) esse é o padrão de todos os paises engolfados sucessivemente pela crise desde 2008. Em resumo, estamos todos no mesmo Titanic.
Mais um vôo “daqueles
Mais um vôo “daqueles parentes dos dinossauros”… Sem a expansão do mercado, via crescimento da classe média, não vejo como sustentar a longo prazo a economia. Só entendo o capitalismo através do mercado de massa, porque aí a produção cresce, aumenta a concorrência e a eficiência e, devido a estes fatores atinge-se a saturação do mercado interno em algum ponto do futuro. Mas, os lucros auferidos no mercado interno, financiaram a pesquisa e a inovação tecnológica, e então as empresas partem para a conquista do mercado externo.
Entretanto, quando estamos falando de uma colônia…