Como foi planejado o ataque à UNB, por Mídia Ninja

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Mídia Ninja

Cai a máscara do fascismo na UnB

Bombas, taser, spray de pimenta e canos de PVC “disfarçados” de bandeira. Conheça como foi planejado o ataque de 17 de junho.

Se pairavam dúvidas sobre o fascismo existente no atentando da última sexta-feira (17) na Universidade de Brasília (UnB), elas acabam de ser elucidadas: nossa reportagem teve acesso aos diálogos do grupo criado no WhatsApp intitulado inicialmente como “Invasão CA Sociologia” para articular a dissimulada “manifestação”. As conversas explicitam as táticas e meios — como bombas, taser, spray de pimenta e canos de PVC “disfarçados” de bandeira — a serem utilizados para espalhar o terror e a violência. O objetivo do grupo é desmascarado nos diálogos em que revelam disputas políticas, violência física, chacina e intimidação dos estudantes e professores da universidade, além de preconceitos como homofobia, machismo, racismo e discursos de ódio contra a esquerda. Há ainda ameaças criminosas de espancamento a alvos específicos.

No dia do atentado circulou a informação de que o objetivo do grupo era promover uma confusão no Centro Acadêmico de Sociologia. Um dos envolvidos chegou a enviar uma foto para o grupo em que aparece com uma besta (arma com aparência de espingarda equipada com um arco de flechas acionado por um gatilho) perguntando se poderia levar o armamento. Na legenda, lê-se “guardado com carinho aos comunas”. Os participantes demonstram simpatia ao Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) — réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por incitação ao crime de estupro — e, inclusive, afirmam que o parlamentar tem conhecimento de quase todos os acontecimentos do gênero. Vale lembrar que não é a primeira vez que o nome do deputado em questão está relacionado a crimes do tipo. Em 2013, uma ação penal movida pelo Ministério Público condenou três indivíduos de Belo Horizonte por crimes de apologia ao nazismo e intolerância racial. Em meio aos pertences apreendidos, constava uma carta escrita por Jair Bolsonaro.

Ouça o áudio

Embora a pauta utilizada para a mobilização fosse um ato pela liberdade de expressão e pela Escola Sem Partido, o discurso predominante foi o da violência e opressão aos chamados comunistas e esquerdistas. Um dos envolvidos menciona que se houvesse violência, desmantelaria o movimento [da esquerda] a ponto de muita gente abandoná-lo “com medo de dar merda”. Justificam constantemente a utilização do aparato repressor como prevenção ao possível ataque que poderiam sofrer, seja ele verbal ou físico. Apesar de afirmarem na mesma frequência que os “adversários políticos” são “frouxos e covardes” e que revidariam as provocações somente com palavras de ordem e cuspes. Combinam provocações para ser o estopim das agressões, explicando a premeditação do atentado. “Se eles me chamarem de fascista eu vou pegar o primeiro que tiver cabelo grande já pelos cabelos, tacar no chão e tacar um pisão na cabeça (…) A gente tem que chega já nos berro e se possível já pegando e dando um tapão na cara de um”. Promete um agressor. Durante a ação, os extremistas chegaram a explodir duas bombas, ameaçar estudantes com uma arma de choque (Taser) e difamar de maneira homofóbica.

O grupo que arquitetou e colaborou com a “invasão” é formado por ex-alunos, servidores públicos, profissionais liberais e ativistas conservadores, liberais e da extrema direita, com a conivência de membros da universidade, entre eles, uma aluna integrante do Distrito Liberal (DL) se apresentou como “ponte” de diálogo entre o Instituto Liberal do Centro-Oeste (ILCO) e os demais envolvidos na ação. Percebeu-se a necessidade de ter universitários integrando a ação para que a mesma tivesse legitimidade. Porém, houve conflito entre os movimentos aliados, onde, em determinado momento, os integrantes da universidade se afastaram do grupo por discordâncias com a violência vinculada às suas respectivas imagens como mostra um dos argumentos: “Gostaria muito de pedir a todos vocês que estão organizando uma manifestação na UnB, que parem de querer arrumar confusão. Porque isso vai ficar muito feio pro nosso lado (…) Eu não concordo com nenhum tipo de violência, isso vai manchar os nossos nomes e principalmente o meu ali dentro (…) Se forem partir pra ataques e agressões, não façam isso na UnB. Já pararam pra pensar que é muito melhor que eles fiquem com fama de violentos e inescrupulosos? Que eles que são os agressores raivosos?”. Entretanto, os membros da universidade que se afastaram, mesmo tendo conhecimento da data, horário e o tipo da ação, não reportaram sobre o atentado. A impressão deixada é a de maior preocupação com o palanque político na preservação de alianças úteis, do que com a integridade física da comunidade acadêmica.

 

A ação de sexta-feira contou com cerca de dezoito pessoas e não foi a primeira protagonizada por membros do grupo. Nos diálogos há citações a atividades anteriores, como o lançamento do livro “A Resistência ao Golpe de 2016”, ocorrida no Beijódromo da universidade — em que comemoram o fato de oito fascistas terem enfrentado 1.500 estudantes. Outras ações visando a violência em outros estados também são orquestradas e incentivadas pelo grupo [sendo citado Rio de Janeiro e Bahia]. Após cobertura da Mídia NINJA sobre o atentado com ampla repercussão nacional negativa, parte do grupo se mostrou temerosa. Contactaram juristas e advogados, evitaram entrevistas à imprensa, e mencionaram a compra e veiculação de nota oficial em defesa do grupo [por R$2.900,00 reais] em jornal local, acionaram as redes sociais de direita para auxiliar na defesa, se questionaram e destruíram o chat do grupo, embora tenham reforçado a participação em outros grupos e a vontade em continuarem juntos. Conscientes de terem agido fora da lei, um deles afirma: “se sair um print daqui, vai todo mundo pra cadeia”.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. A meu ver, a justiça

    A meu ver, a justiça brasileira deveria estar atenta contra esses episódios esdrúxulos, que tem a forma e a cor de um movimento fascista que parece surgir das sombras para amanhã ser causador de muitos infortúneos para a nossa sociedade.

    Não podemos nos calar, e deixar que nosso país tome rumos tão nefastos, com pessoas movidas a tantos vícios selvagens.

  2. Linguagem

         O extremismo, de qualquer apice de facção, só respeita uma linguagem : a mesma deles.

          Com extremistas, quando em grupo, de nada adianta recorrer ao “dialogo”, é pura perda de tempo, aliás dá tempo a eles se organizarem, portanto podem até não concordar, mas contra este tipo de gente, deste tipo de turba, responde-se da mesma forma – na porrada, preferencialmente nos “lideres”, abater um deles, desorganiza o resto.

           Para os que preferem o “não confronto”, a melhor opção, é o que faziamos em épocas passadas – as quais pensei que não mais retornariamos – , como controle das “redes sociais”, dos “papos corredor”, de estabelecer uma rede e um perimetro de segurança em locais mais expostos.

           O pior é não confronta-los, extremistas, tanto de esquerda como de direita, ou étnicos/religiosos, nascem pequenos, agrupam-se em torno de alguma “liderança” – na maioria das ocasiões, o “lider” de “frente”, não é o lider real, é um “laranja”por opção ou mesmo convicção, na real : um mané manipulado, mas que manipula outros, e como qualquer manipulado, um medroso de origem, portanto deve ser confrontado, ou “cresce”, e mesmo que dispensavel, é perigoso.

            Ações, ou como classificamos ” erupções”, extremistas – NÃO importa o espectro politico – mesmo que não diretamente dirigidas, são perigosas a sociedade, pois pessoas interessadas analisam estes movimentos teoricamente espontaneos, mas de massa, e podem coopta-los através de varias formas, adapta-los a seus propósitos, e leva-los a participes de processos politicos, sendo muito uteis quando em situações que a democracia esta fraca, a liberdade de opinião/comportameto encontra-se em cheque.

            E pouco adiantam ações no ambito juridico institucional, o que importa a eles, é a publicidade de seus atos, e serem processados, até mesmo detidos, os alimenta – é como o caso de extremistas islamicos, são muito parecidos, presos tornam-se lideres inconstestes de suas organizações, feridos são vitimas de opressores, mortos são martires – mas estes martires tem uma vantagem para os orgãos de segurança : Não falam, desaparecem, pois outros vem depois.

             Extremismos, por proteção a democracia, ao livre pensamento, a liberdade de todos, DEVEM ser exterminados no nascedouro, pois é prerrogativa do Estado de Direito e da própria Democracia, que o Estado atue contra – eliminando mesmo, da forma que for – qualquer demonstração de extremismo politico.

  3. Besta armada com besta.

    Besta armada com besta. Arma certa nas mãos certas. A Idade Média, que criou as universidades e a poesia trovadoresca, entre outras coisas, não merece uma coisa dessas. Um anacronismo, no mau sentido do termo. Ainda mais em nosso caso, que nem passamos pela Idade Média europeia, evidentemente. Ou será que por ela passamos, justo agora?

    É preciso parar esses fascistas o quanto antes. Porque ainda são minoritários e medrosos, por saberem que não podem agredir quem está quieto.

  4. Quando esses filhinhos de

    Quando esses filhinhos de papai estiverem com a bundinha no banco dos réus, aí papai manda parar com isso, senão suspende a mesada.

    Queria ver um idiota desses trabalhando duro e sendo explorado pelos patrões, pra ver se ele teria tanto ódio assim dos “comunas”.

     

  5. Pelo que li, em outros sites,

    Pelo que li, em outros sites, nenhum desses malucos fãs de bolsonaro foi detido. Foi feito um boletim de ocorrência, o PT protestou e…. Não li nada mais sobre as consequências juridicas de tais atos. Se ficar por isso mesmo, apenas com depoimentos e logo liberados, certamente ganharão força para atacar mais vezes e em diversas universidades.

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