Crise da Cantareira: aspectos hidrológicos e previsões para 2015

Em maio fiz uma simulação da situação hídrica do Cantareira (aqui). À época imaginei que as chuvas de verão conseguiriam repor, pelo menos, a água do volume morto. Mas os parâmetros hidrológicos do cantareira foram se deteriorando acima daquelas projeções iniciais e, em fins de agosto, minhas estimativas (aqui) indicavam a necessidade de chuvas 40% acima da média histórica para que fosse possível tal reposição de água.

Desde então diversos fatores agravaram o problema hídrico: continuou chovendo abaixo da média histórica nos últimos dois meses (setembro e outubro); a sabesp continua retirando muita água do sistema (mesmo passado o 2º turno, quando imaginava-se que a responsabilidade e o bom senso retornariam); e o governador Alckmin continua afirmando que não haverá racionamento (sic)!!

Sob o ponto de vista hidrológico, os parâmetros do sistema estão se deteriorando mês a mês, ficando cada vez mais claro e patente o completo colapso do cantareira como um sistema de produção de água nos níveis de retirada atualmente utilizados. Este colapso pode ser inferido em razão de uma característica que vem se manifestando fortemente ao longo de 2014, que é a baixa vazão de afluência de água nas represas, mesmo em eventos de chuva intensa como as que tivemos em alguns períodos no início do ano e agora, na primeira semana de novembro.

Observem na figura abaixo (retirado do site da ANA) que apenas em 3 eventos de chuva este ano (em março e abril) a afluência no sistema cantareira (em azul) superou a retirada de água (em vermelho). No restante do período, o sistema foi deficitário, inclusive na recente chuva nesta primeira semana de novembro.

Realmente está chovendo muito pouco na região das represas e, além das baixas precipitações (outubro choveu apenas 32% da média histórica para o mês, por exemplo), a afluência é, proporcionalmente, ainda menor (a vazão de afluência em outubro foi da ordem de 15% da sua média histórica). Ou seja, além de escassas, as precipitações que ocorrem não estão se transformando em vazão de afluência dentro do que seria o esperado para o sistema. Esse fator que indica a conversão da precipitação em afluência, será chamado de “coeficiente de deflúvio” ao longo deste texto.

Tal anomalia no coeficiente de deflúvio ocorre, prioritariamente, em função do baixo nível dos reservatórios e, consequentemente, da baixa umidade do solo do seu entorno. O coeficiente de deflúvio é diretamente impactado pelo chamado “fator esponja” do solo que, metafórica e simplificadamente, expressa a necessidade de haver, primeiro, a absorção e a saturação do solo na bacia de drenagem das represas para que, posteriormente, o excesso da água das chuvas contribua efetivamente como afluência perene ao sistema, a chamada vazão de base. O comentarista do GGN Rogério Maestri também já abordou esse assunto (aqui).

O coeficiente de deflúvio é variável ao longo do ano. Na tabela abaixo encontram-se os percentuais históricos dos coeficientes de deflúvio mensal e aqueles verificados ao longo de 2014. Em todos os meses de 2014 o coeficiente de deflúvio foi menor que a sua média histórica. Observe que no mês de outubro, apenas 13% da precipitação acumulada do mês adentrou, efetivamente, nas represas do sistema Cantareira. A tendência é que esses baixos coeficientes de deflúvio permaneçam pelos próximos meses.

 

Ao analisarmos a maior represa do cantareira (Jacareí/Jaguari), verificamos que ela tem uma área de drenagem de 1.230 km2 e uma área inundada de 50 km2 (hoje esse espelho d’água é da ordem de 16 km2). Como atualmente a água dessa represa está 28 m abaixo do seu nível máximo (o que corresponde à altura de um prédio de 10 andares), essa “esponja” no entorno do reservatório, representa, hoje, um volume total (aguardando ser preenchido com água) da ordem de 33 bilhões de m3 {(1230 – 50) x 0,028 x 109}.  

Como a capacidade de armazenamento de água do Jaguari/Jacareí é de 1 bilhão de m3, grosso modo, para que seu volume de água aumente em 1 m3, também terão de ser preenchidos os vazios de uma “esponja” ao seu redor com o tamanho correspondente a 33 m3.

A quantidade de água necessária para preencher esses poros da “esponja” depende das características pedológicas da região, da cobertura vegetal, da própria chuva (frequência, duração e intensidade), dos índices de evaporação, etc. e, portanto, é de difícil estimativa sem um estudo bastante aprofundado. 

Entretanto, mesmo sem termos valores precisos desse fenômeno da “esponja”, é possível fazer estimativas factíveis das vazões de afluência futura, confrontando o comportamento atual com o passado do sistema. Muito provavelmente os coeficientes de deflúvio só voltarão a se aproximar da sua média histórica quando o nível de água do sistema cantareira voltar aos seus patamares médios de operação, ou seja, da ordem de 40 a 70% do seu volume útil (hoje, 6/11, está em menos18,1%).  

Os baixos coeficientes de deflúvio somados às reduzidas precipitações na região fizeram com que a vazão de afluência apresentasse seus menores valores históricos em todos os meses de 2014 (ver figura abaixo).

Verifica-se que ocorreram significativas anomalias no coeficiente de deflúvio dos meses de março e abril pois, mesmo com a precipitação alcançando os valores médios esperados (105% e 96%), a vazão de afluência nesses dois meses foi, respectivamente, de apenas 23% e 31% da média prevista, quando deveria ter sido próxima dos 100%, tal qual a precipitação.

Por exemplo, quando chove 70% da média histórica, o esperado é que a vazão de afluência seja, também, de 70% da sua média, com uma pequena flutuação entre meses próximos, tal como ocorreu nos meses de set/13 à dez/13. E não é o que vem ocorrendo no Cantareira ao longo de 2014.

Os primeiros dias de novembro também são um espelho desse comportamento dramático do sistema. Em 6 dias de chuvas relativamente abundantes (acumulado de 54 mm), a média da vazão de afluência foi de apenas 7,2 m3/s, não impedindo o déficit no sistema (em razão da retirada média de 22 m3/s), ou seja, o nível do cantareira continuou a cair mesmo nesse período considerado como moderadamente chuvoso.

A partir desse histórico de dados, especialmente o baixo coeficiente de deflúvio ao longo de 2014 e do reduzido nível dos reservatórios, foram simulados os valores esperados para a vazão de afluência (m3/s) dos próximos 6 meses no sistema cantareira, para três cenários de chuvas, conforme indicado na tabela abaixo.

A partir dessa estimativa da vazão de afluência dos próximos 6 meses foi possível prever a situação do nível do cantareira em função da adoção de determinadas vazões de retirada de água do sistema equivalente (do tunel 5) para envio à RMSP. Considerou-se três cenários para o período projetado.

  • Cenário I – retirada de 18 m3/s (manutenção da mesma retirada verificada em outubro).
  • Cenário II – retirada de 12 m3/s (reduzindo-se em um terço as retiradas atuais)
  • Cenário III – retirada de 6 m3/s (reduzindo-se em dois terços as retiradas atuais).

Nos cenários II e III adotou-se como início do racionamento o dia 15/11. Para todos os cenários foi considerada também, uma retirada média mensal de 3,5 m3/s para a bacia do PCJ (menor que a atual, que é de 4,5 m3/s).  Os resultados encontrados para os três cenários são apresentados nos gráficos seguintes, conforme a intensidade de chuva que se queira considerar.

Para qualquer dos três regimes de chuva que foi simulado, manter a retirada de água atual (cenário I), nos fará chegar em maio/15, início de novo período seco, com o volume morto II praticamente esgotado (estaria com menos 26,3% do seu volume útil, na melhor hipótese) – isso se operacionalmente for possível retirar tal volume anunciado pelas autoridades.

Mesmo que a retirada de água do cantareira seja reduzida para apenas 1/3 (33%) do que é hoje (cenário III) – o que implicaria em um drástico racionamento – somada à hipótese de chover 20% acima da média histórica nesses próximos 6 meses, ainda assim o cantareira chegaria em maio/15 tendo recuperado apenas metade do volume morto consumido até o momento (estaria com menos 8,7% do seu volume útil).

Ou seja, quaisquer que sejam as simulações de chuva e de cenários de retirada de água elaborados acima, chegaremos no próximo período seco, em maio de 2015, numa situação extremamente pior que a desse ano. Relembremos que em 01/05/2014 o nível do sistema era de 10,2% positivos, ou seja, acima do volume morto.

Ao que parece a crise hídrica se tornará, muito em breve, uma catástrofe social. E textos fundamentais postados no GGN pelo comentarista Sérgio Reis apontam, com muita propriedade, que a administração estadual de São Paulo é a maior responsável pela tragédia que se avizinha (aqui).

As ONG’s, CREA, Universidades, movimentos sociais, integrantes dos comitês de bacias, grandes usuários, etc…, não se manifestam sobre o problema. Estão, escandalosamente, apáticos sobre a questão! A meu ver o contexto exige muito mais protagonismo da intelligentsia técnica paulista – e também de outros segmentos da sociedade organizada – para que a blindagem midiática dessa tragédia possa ser rompida e as necessárias, mas já tardias, ações emergenciais e contingenciais possam ser executadas pela sabesp, pelo governo do estado e pela defesa civil.

Ficarei muito feliz se os cálculos, hipóteses e estimativas que fiz estiverem completamente equivocados, pois caso contrário, será um preço muito alto que a população de São Paulo pagará pela irresponsabilidade dos seus governantes.

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. O modo tucano de governar

    São Paulo tem muitas bacias hidrográficas de onde pode retirar água. Mas, nunca fizeram nada. Este é o Modo Tucano de Governar. Privatizam  o que já existe e foi construído pelos governos anteriores e ficam esperando que as empresas abram mão dos seus gordos lucros para investir em alguma melhoria, pois sim!

    Agora, seguindo o caminho do menor esforço, querem avançar sobre o Paraíba do Sul. Única fonte de porte para o abastecimento do Rio. A bacia é toda do Rio com suas nascentes em S. Paulo. Da mesma forma o Cantareira tem suas nascentes em Minas Gerais. Imagina se os mineiros decidem desviar esta água para outro lugar. É o que Alkimim quer fazer com o Paraíba do Sul. Embora São Paulo tenha outras fontes de água, a dar com um pau, em outros lugares.

    Este é o modo Tucano de governar. Piratas, privatas e bocas tortas de tantas mentiras.

  2. o PCJ sugere que o que o governo federal aplicou no nordeste é a

    melhor solução:

    Cisterna é ‘saída’ melhor para crise que Aquífero Guarani, afirma PCJ

     

    Captação de água de chuva em casas e indústrias seria solução ‘barata’.
    Francisco Lahóz é contra uso de manancial citado por governador Alckmin.

     

    http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/11/cisterna-e-saida-melhor-para-crise-que-aquifero-guarani-afirma-pcj-piracicaba.html

    1. Tudo indica que soluções

      Tudo indica que soluções simples, baratas e eficientes não são adequadas aos novos donos da água. O caminho escolhido foi de tornar a água uma commodity escassa, cara e lucrativa.

      Fundos de investimento estão investindo pesado em direitos sobre água no mundo todo. Uma vez posicionados, basta esperar os preços subirem.

  3. Não torço por uma tragédia em

    Não torço por uma tragédia em lugar nenhum. E o silêncio de (As ONG’s, CREA, Universidades, movimentos sociais, integrantes dos comitês de bacias, grandes usuários, etc…,) é realmente uma prova da fragilidade da nossa democracia e participação cidadão.

     

    Comentar sobre a mídia e sua prática golpista de manipulação sempre contra os interesses do povo é desnecessário. Pior é constatar que o judiciário paulista parece esperar o pior acontecer para se posicionar.

     

    Repito: espero que as chuvas sejam suficientes para evitar o pior na terra que atualmente abriga uma parcela dos piores eleitores do planeta: gente xenófoba, racista, alienada e cega ante a degradação dos políticos em que votam. 

  4. Ele NUNCA dirá a palavra

    Ele NUNCA dirá a palavra RACIONAMENTO!

    Em minha opinião a palavra RACIONAMENTO hoje para o governador tucano significa, em parte, desistir uma possível campanha a presidência.

    São Paulo foi quem deu grande votação ao aécio – ele perdeu em mInas – e a tática é deixar o aécio se expor e em 2 anos ele já estará DESGASTADO e sofrerá fogo amigo(?) e perderá a condição de postulante ao cargo.

    Por isso, não haverá declaração de racionamento, ainda que ele venha acontecer silenciosamente….

  5. Deus quis

    As ONG’s, CREA, Universidades, movimentos sociais, integrantes dos comitês de bacias, grandes usuários, etc…, não se manifestam sobre o problema. Estão, escandalosamente, apáticos sobre a questão! A meu ver o contexto exige muito mais protagonismo da intelligentsia técnica paulista – e também de outros segmentos da sociedade organizada – para que a blindagem midiática dessa tragédia possa ser rompida e as necessárias, mas já tardias, ações emergenciais e contingenciais possam ser executadas pela sabesp, pelo governo do estado e pela defesa civil.

     

    É assustadora a inercia e a obtusidade social. Dizem que o brasileiro é omisso, displicente, desleixado improvidente.

    Em siturações como esta, apesar de defender amiudemente este valoroso povo, a gente fica desconsertado.

    Geralmente as pessoas somente reagem na ultima hora.

    E ai é um Deus quis pra la… Deus quer pra ca. E a responsabilidade pela incuria cai na natureza ou em Deus.

    O negocio tá sério…

     

     

    1. Falta de chuvas, causa ou consequência ?

      DE ONDE VEM a ÁGUA…??

       

       Acorda São Paulo !!

       

      A falta de chuvas, a estiagem em SP , principalmeente em São Paulo, não é CAUSA …. é CONSEQUÊNCIA..!!

       

      O alerta vem sendo dado, pelo meu conhecimento, desde 2009, na Conferencia Nacional de Sáude Ambiental… e pelo relatório VULNERABILIDADE DAS MEGACIDADES BRASILEIRAS às MUDANÇAS CLImÁTICAS  / Região Metropolitana de São Paulo, editado por UNICAMP  /  INPE , Carlos A. Nobre e Andrea Young.

  6. Alkimim Caira.
    Ele eh o Alkimim mas nao alquimista.
    Mentira tem pernas curta. Nao vai longe.
    Espero que mude o cenario das chuvas para o bem de SP.
    Se confirma a seca e a falta de agua nao havera santo nem midia que segure, ainda correndo o risco de serem apedrejados.
    Alkimim cairah.
    Prepare para a substituicao e o segundo governador.

  7. E a Folha tenta mudar de assunto

    Para deixar o governador em paz, a Folha voltou com o assunto do apagão do  setor elétrico.

    Ora, ora…..

    Mudar o foco para tentar levar o tema da falta d´água para a falta de energia é coisa doida, máxime porque no País de anunciados apagões pelo PIG, isto não aconteceu em uma seca histórica. 

    Eles não se conformam com o fato de Dilma ter construído em nosso País um sistema extraordinário para a manutenção da energia elétrica, inclusive nas pequenas propriedades rurais com luz para todos.

    Ora, por que não buscar a verdade e mostrar por que está faltando água em São Paulo.

    Com lampião,  dá até  para viver. Sem água, o ser humano não vive.

    Agora, o tal do lampião só apareceu no tempo do FHC. Depois de Lula/Dilma, o lampião sumiu. Onde ele está? Ninguém sabe, ninguém viu. Só a Folha tem uma baita saudade dele.

    Até a Inezita canta:

    Lampião de gás
    Lampião de gás
    Quanta saudade
    Você me traz.

    Agora, falta a música do pote d´água cheio.

  8. Alguns verbetes das crises

    Alguns verbetes das crises recentes pelas quais São Paulo passa:

    1.) – Quilômetros de lentidão: significa engarrafmento;

    2.) – Pontos de alagamento: significa inundação ou enchente;

    3.) – Economia hídrica: significa racionamento de água.

  9. Dúvida

    O desmonte do Sistema Cantareira é apenas incompetencia criminosa ou parte de uma agenda para abrir espaço para a comercialização de águas de outras fontes, mais intensivas em tecnologia e de maior valor agregado, como a água reciclada de esgoto ou dessalinizada? Quem são os fornecedores dessas tecnologias?

    Isso explicaria em parte a falta de investimentos na recuperação de mananciais, preservação de nascentes ou interligação das bacias paulistas.

     

    1. Já existe…

      Os comitês de bacias em SP já criaram um protocolo de cobrança do uso da água para a agropecuária e estão esperando o momento ideal para obter a sanção do governador para mais uma taxação junto aos produtores rurais.

      1. Mais elementos para análise

        http://www.popularresistance.org/wall-street-mega-banks-are-buying-up-the-worlds-water/

        Nessa ampla matéria, que dá uma idéia de como anda a financeirização da água no mundo, são citadas 10 áreas quentes para investimento no mercado da água no mundo, identificadas pelo Citibank. As duas principais são justamente:

        1. Sistemas de dessalinização

        2. Tecnologias de reuso da água

        Justamente as duas “estratégias” mencionadas pelo governador para combater a “crise hídrica”.

        Como vemos, até na questão da água o governador parece muito mais afinado com a lógica de Wall Street do que com as necessidades do povo de São Paulo.

         

         

    2. O colapso d’agua e a Cantareira

      Consordo com o comentário ‘Dúvida”.

      Olha , participei, em Dez/2009, da Conferẽncia de Saúde Ambiental, em Brasilia. Promovida pelos Ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Cidades. A Conferencia reuniu todo os confins do Brasil. Uma iniciativa inovadora, uma vez, que há uma etapa municipal, estadual e a fnal, que reúne todos os delegados das cidades de todo o Brasil, na Conferencia Nacional.

      Pois bem, uma Ong paulista relatou a gravissíma situação da Cantareira, como principal fonte de abastecimento. O relato, nada tinha haver com falta de chuvas. Mas… obviamente, se tornaria caótico, com prolongada estiagem. Pasmen… isso em 2009.

      Pois bem, acabo de ler, o Relatorio Final : Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas , Região Metropolitana de São Paulo, coordenação  e edição  UNICAMP / INPE, Carlos A.Nobre e Andrea F. Young.  Dez/2011. Novamente, apontado, com dados científicos, estudos, pesquisas, o mesmo problema , que agora se escancara de forma trágica ,para a população.

      Falta de chuvas, é a consequência final…!! as causas da falta de chuvas, é que foram, relevadas, e mais desprezadas,pelas autoridades do estado de São Paulo.

    3. Bingo

      Levantou a lebre certa. Não faz sentido a SABESP não ter feito projetos e/ou estudos para compensar o impacto da demanda de água para São Paulo. Só alguém totalmente inepto poderia pensar que a recarga natural do sistema seria suficiente para atender a cidade, que não para de crescer. SP é a locomotiva do país. Com certeza sim, a SABESP sabia o que fazer. Só não deixaram que o trabalho fosse feito.

  10. Excelente

    Gostaria de parabenizar o autor pela qualidade da análise e a riqueza de detalhes técnicos e explicações ao mesmo tempo claras e sofisticadas, para mostrar o quão desesperadora está a situação do sistema Cantareira.

    Mesmo com racionamento violento, que reduza o consumo a um terço do que é hoje, e um quinto do que era um ano atrás (antes da redução da captação), assim mesmo não haveria recuperação do nível do sistema.

    Como você bem disse, é impressionante que “As ONG’s, CREA, Universidades, movimentos sociais, integrantes dos comitês de bacias, grandes usuários, etc…, não se manifestam sobre o problema”, parece que está tudo absolutamente dentro da normalidade. Na verdade, quem já está se manifestando são as empresas: várias delas já reduziram ou cortaram turnos por conta da seca e outras estão deslocando suas atividades para outras regiões devido à falta de água.

    As consequências econômicas, ambientais, de saúde pública, etc. são inimagináveis.

    Parabéns novamente ao Bill e ao Sérgio Reis pela excelente contribuição para o conhecimento e a divulgação dessa tragédia anunciada.

     

  11. Bill, parabéns por mais esse

    Bill, parabéns por mais esse artigo tão excelente e necessário. Eu não canso de me impressionar com o fato de que nós, que estamos aqui fora, estamos produzindo esses materiais que expõem tão claramente a gravidade do problema (e que apresentam diagnósticos bastante similares entre si), ao passo em que a SABESP e o governo são incapazes de publicizar algo que seja minimamente parecido com isso. Pessoalmente, por trabalhar no setor público (e com transparência), fico estupefato com a forma abismal com que o governo Alckmin está tratando da questão. Eu não moro mais em SP, mas não fico nada menos do que desesperado por ver o despreparo (e/ou a má fé) de uma administração ao lidar com uma adversidade. Será que eles realmente estão tranquilos com a enganação que promovem por meio da produção desses factoides (água de reuso, disponível só em 2016; interligação do Paraíba do Sul, disponível só em 2017; São Lourenço, disponível só em 2018), absolutamente insuficientes para o endereçamento da crise no curto prazo?

    1. Sérgio, creio que não estão

      Sérgio, creio que não estão tranquilos não. Já devem ter percebido que essa “estória” das chuvas recuperar o cantareira não se concretizará, haja vista os níveis de afluência atuais, mesmo após a chuvarada desse início do mês. Vamos ver como a afluência se comportará nesse fim de semana, quando estão previstas novas chuvas. Mas creio que estão apenas aguardando uma oportunidade política (decisão judicial, por exemplo, negativa da Dilma de alguma obra que ele propôs, enfim, algum álibi para difundir na imprensa) para começar um drástico racionamento. Não quero acreditar que irão cometer mais essa irresponsabilidade de continuar tirando 18 m3/s e ficar sem água em 2015. Isso do cantareira, que tenho acompanhado, sem falar do alto tiête cuja situação é ainda mais crítica….     

  12. “Coeficiente de deflúvio”

    Como exatamente o autor calculou este chamado “coeficiente de deflúvio”?

    Por que tomando por base a média histórica de chuvas, disponível no site da Sabesp

    http://www2.sabesp.com.br/mananciais/DivulgacaoSiteSabesp.aspx

    e a vazão média disponível no site da ANA

    http://arquivos.ana.gov.br/saladesituacao/BoletinsDiarios/DivulgacaoSiteSabesp_10-11-2014.pdf

    não se chega aos valores mencionados no texto.

    Apenas para esclarecimento. E a partir daí, poderia-se esclarecer, também, como foram calculados os coeficientes de deflúvio para os meses futuros. O que não ficou claro. Pela média dos últimos meses?

    Enfim, este coeficiente, que foi usado, poderia ser melhor esclarecido.

    1. Coeficiente de Defluvio

      @rodp13

      Chamei de coeficiente de deflúvio a precipitação acumulada do mês dividido pela afluência acumulada desse mesmo mês.

      No site da sabesp, a precipitação média é dada em mm. O VOLUME de água precipitado é essa chuva em mm multiplicado pela área da bacia, que tem 1.934 km2.

      No site da ANA a afluência é dada em termos de vazão média (m3/s). Para usar essa afluência no cálculo do coeficiente de deflúvio preciso transformar essa vazão em VOLUME, ou seja, multiplico o valor da vazão de afluência pela quantidade de segundos do mês (60 x 60 x 24 x 30).

      Depois de feito isso, ajusto as unidades do numerador e do denominador e tenho, como resultado, a % indicada na tabela do post seja para os valores médios históricos seja para os valores mensais de 2014.

      Quanto aos coeficientes de deflúvio para os meses futuros, são estimativas pessoais que fiz após analisar as seguintes características do sistema cantareira:

      – quanto mais baixo o nível de água, menor o coeficiente de deflúvio;

      – os coeficientes de deflúvio dos meses chuvosos são menores que dos períodos secos (veja a tabela do post);

      – comportamento ao longo de 2014 do coeficiente de deflúvio tem sido, em geral, menor que a 50% da sua média história, com tendência de baixa (veja tabela do post); 

      Como não se trata de um texto técnico, não foram feitos os detalhamentos de cálculos e fórmulas.

      Espero ter esclarecido.

       

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