Crise: Os Vampiros de Wall Street

Enviado por Antonio Ateu

da Folha

Vampiros de Wall Street compraram o Congresso americano em 2014

Paul Krugman

No ano passado, os vampiros das finanças compraram um Congresso. Sei que não é gentil chamá-los assim, mas tenho meus motivos, que explicarei adiante. Por enquanto, porém, permita-me apontar que hoje em dia Wall Street, que costumava dividir seu apoio entre os dois grandes partidos, favorece esmagadoramente os republicanos. E os republicanos que assumiram o controle do Legislativo este ano estão tentando retribuir o favor matando a Lei Dodd-Frank de reforma financeira, adotada em 2010.

E por que a lei Dodd-Frank precisa morrer? Porque está funcionando.

A declaração pode surpreender os progressistas que acreditam que nada de importante foi feito para conter a disparada meteórica dos bancos. E é verdade tanto que essa reforma ficou aquém do que realmente deveríamos ter feito quanto que ela não produziu resultados óbvios e mensuráveis como os avanços nos planos de saúde propiciados pelo Obamacare.

Mas Wall Street odeia a reforma por bons motivos, e observá-la mais de perto os expõe.

Para começar, o Serviço de Proteção aos Consumidores Financeiros –concebido pela senadora Elizabeth Warren– está exercendo um grande efeito repressivo, de acordo com todos os relatos, sobre as práticas abusivas de empréstimo. E as primeiras indicações são de que a regulamentação reforçada dos derivativos financeiros –que desempenharam papel chave na crise de 2008– está produzindo efeitos semelhantes, reforçando a transparência e reduzindo o lucro dos atravessadores.

E quanto aos problemas de estrutura do sistema financeiro, algumas vezes simplificados em excesso pelo uso da expressão “grande demais para quebrar”? Quanto a isso, também, a lei Dodd-Frank parece estar produzindo resultados reais, na verdade superiores aos esperados por muitos dos defensores da proposta.

Como acabo de sugerir, “grande demais para falir” não define exatamente o problema, quanto a isso. As instituições financeiras se tornaram quimeras –parte bancos, parte fundos de hedge, parte seguradoras, e assim por diante. Essa complexidade permite que escapem à regulamentação mas que ainda assim sejam resgatadas das consequências de seus erros quando as apostas que fazem fracassam. E a capacidade dos banqueiros de se beneficiarem do sistema nas duas pontas ajudou a posicionar os Estados Unidos para o desastre.

A lei Dodd-Frank lidou com essa problema permitindo que as autoridades regulatórias sujeitem as instituições classificadas como “sistemicamente importantes” a regulamentação adicional, e que tomem o controle delas em momentos de crise, em lugar de simplesmente resgatá-las sem maior interferência. E a reforma também exigiu que as instituições financeiras obedecessem a requisitos mais severos de capitalização, o que reduz seu incentivo a assumir riscos e a probabilidade de que esses riscos resultem em falência.

Tudo isso parece estar funcionando. Os “bancos paralelos”, que criavam riscos em escala bancária mas escapavam à regulamentação usual dos bancos, estão em retirada. Pode-se perceber o efeito em casos como o da General Electric, uma companhia industrial que se tornou operadora financeira mas agora está tentando voltar às raízes.

Também se pode ver o efeito em termos dos números gerais do setor, com a recuperação dos bancos convencionais –ou seja, dos bancos sujeitos a regulamentação relativamente forte. Escapar às regras, ao que parece, já não é tão atraente.

Mas os vampiros estão contra-atacando.

OK, por que eu os chamo disso? Não porque drenam o sangue da economia, embora o façam; existem muitas indicações de que setores financeiros superdimensionados e pagos em excesso –como o nosso– prejudicam o crescimento e estabilidade da economia. Mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) concorda.

 

Mas o que realmente torna o emprego da palavra “vampiro” apropriado, no contexto, é que eles não suportam a luz do dia. É difícil encontrar alguém que defenda abertamente o direito de Wall Street de voltar aos seus velhos hábitos.

Quando os institutos de pesquisa direitistas tentam afirmar que regulamentação faz mal, e prejudica a economia, sua postura não parece firme. Por exemplo, o mais recente “estudo” desse tipo pelo American Action Forum tem um total de quatro páginas, e até mesmo o autor, o economista Douglas Holtz-Eakin, parece embaraçado quanto ao seu trabalho.

O que temos, em lugar disso, são argumentos do tipo “escravidão é liberdade”, segundo os quais as reformas na verdade facilitam a vida dos vilões: por exemplo, que regulamentar as instituições grandes e complexas demais para falir de alguma forma beneficia empresas mais escusas, uma afirmação negada pelos esforços desesperados das grandes instituições para evitar a classificação “sistemicamente importante”.

O ponto é que quase ninguém quer ser visto como servo explícito do setor financeiro, e muito menos as pessoas que na verdade almejam a essa posição.

E isso por sua vez significa que, pelo menos por enquanto, os vampiros estão recebendo bem menos do que esperavam pelo dinheiro investido. Os republicanos adorariam derrubar a Lei Dodd-Frank, mas temem, com razão, a exposição negativa que defensores da reforma como Warren –inspiradora de temor notável entre os malfeitores– produziriam para combater seus esforços.

Será que isso significa que tudo vai bem na frente financeira? É claro que não. A Lei Dodd-Frank é melhor que nada, mas fica bem aquém daquilo que realmente precisamos. E os vampiros continuam aguardando em seus caixões o momento de atacar de novo. Mas as coisas poderiam estar piores.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

Redação

2 Comentários

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  1. Então…………………………..

     

    O que Paul Grugman, cita, não é nada mais que o óbvio.

    Quem não sabe, ou talvez por conveniência não queira saber que as democracias, não só nos EUA como no resto do planeta, são governadas e manipuladas pelas Corporações.

    Ao invés de Sistema Republicano ou Democracia, o nome correto deveria ser ” DEMOCRACIA CORPORATIVA”, ASSIM O NOME ESTARIA MAIS DE ACORDO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 

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