Cunha e Calheiros venceram, por Janio de Freitas

Da Folha de S. Paulo

Os vencedores e seus aliados

Por Janio de Freitas

Eduardo Cunha e Renan Calheiros venceram. E venceram andando no fio da navalha. Ambos merecem o reconhecimento de que se impuseram às adversidades e aos adversários. Se amanhã caírem, não será uma negação de sua vitória atual. Nem será surpresa para eles.

Eduardo Cunha entrou a semana sobrecarregado de perdas na sua tropa de deputados e danos pessoais. Atingido pela acusação na Lava Jato de extorquir US$ 5 milhões, consumiu as férias parlamentares ilegais esforçando-se para aparentar inteireza, mas o abatimento e certo desespero não se escondiam.

Em 24 horas, seus comandados estavam todos, outra vez, de braços com ele. As vestais do PSDB na Câmara perderam os escrúpulos e se entregaram a Cunha. Que se viu de braço dado ainda com PDT e PTB, até então “governistas”. Condições ótimas, portanto, para acionar a pauta-bomba, como foi feito.

O que sobrou de voz adversária a Eduardo Cunha, na semana, foram dois editoriais. Mas não é Eduardo Cunha o alvo adequado de críticas à pauta-bomba e ao boicote da Câmara a medidas do “ajuste fiscal”. As bombas são criadas na cabeça dele, é certo. Quem as detona, porém, são os peemedebistas de Cunha com o apoio decisivo do PSDB, secundados pelo restante da oposição. E, em certas ocasiões, também de ditos aliados do governo e até do PT.

Em artigo na Folha (“Somos todos Câmara”, 7.ago), diz Eduardo Cunha: “Não sou ativador de pautas-bomba”. E joga uma pequena bomba no colo dos seus companheiros de bombardeio: “As pautas são elaboradas pelo colégio de líderes”. Mas também é verdade que a maioria dos líderes, a começar pelos líderes de bancadas oposicionistas, é dominada por ele. E estende a sujeição às bancadas.

Aí está a usina da crise, nesse conluio de oportunismos mesquinhos, entre aproveitadores e ambiciosos levianos. O que foi feito da crítica moral à eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, já como personagem de suspeitas e acusações graves? Onde foi parar a grande reação moral às explicações fraudulentas de Renan Calheiros, quando revelada sua dependência ao cofre da empreiteira Mendes Jr. e mais ilegalidades? Dos dois casos para cá, não sobrou nada de caráter nos deputados indignados e em seus dirigentes partidários para manter um pouco de dignidade na relação com seus ex-criticados?

Não. Logo, merecem estar sob o comando de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, beneficiários, porém nenhum dos dois culpado da baixeza alheia. Mas muito menos culpado é o país. E está pagando, no presente e em comprometimentos do futuro, pelo estado ensandecido que a Câmara esparge no país, e se tem chamado apenas de crise.

Pode-se perceber essa origem com clareza, se não houver o propósito preliminar de acobertar oposicionistas e a obsessão de atingir o governo. Nos últimos dias, por exemplo, a situação caótica agravou-se e a pregação de impeachment recrudesceu, com a arrogância de Aécio & cia. querendo derrubar, além da presidente, a própria Constituição em suas regras sucessórias.

O governo errou muito, em política e em economia (vale a pena: para afinal entender o que levou à crise econômica, recupere o artigo fácil e inteligente da professora Laura Carvalho na Folha de sexta 7.ago, pág. A24). Mas o que fez o governo na semana passada que agravou a situação crítica? Nada. Humildemente nada.

Houve o agravamento, no entanto. Todo ele produzido na Câmara e no Senado. Com votações antigoverno, que incluíram o exame de contas de governos passados para preparar a reprovação das contas de Dilma, caminho para o impeachment. E com a ameaça de reprovação à permanência de Rodrigo Janot, como punição à decência do seu atual mandato.

Eduardo Cunha e Renan Calheiros subjugaram parte dos adversários e inutilizaram os demais. Dois vencedores. Apesar de si mesmos.

A propósito, ou quase: antes de discutir a delação premiada, Fernando Soares, ou Fernando Baiano, dado como elo de grandes lances de corrupção envolvendo figuras do PMDB, decidiu providenciar a ida da mulher e dos filhos para os Estados Unidos. Sinal de que alguém perigoso está sob risco de revelações.

Redação

12 Comentários

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  1. Eduardo Cunha está

    Eduardo Cunha está aproveitando a calmaria para tentar cuasar mais alguns estragos. Ao que parece, Renan foi avisado que vai se safar (por enquanto) e está preparando com rapidez a aprovação de Janot. Quando isso ocorrer, Cunha acaba. Alguns políticos já estão até lançando nomes para substituí-lo.

  2. Jânio de Freitas enxerga além

    Jânio de Freitas enxerga além e nas entrelinhas. Entretanto, ele poupa o MP, a PF, o PJ e o juizeco da guantánamo paranaense e mídia comercial, para a qual ele escreve regularmente. Os dois canalhas podem ser considerados vitoriosos exatamente porque essas instituções apoiaram, acorbertaram ou se omitiram em relação aos dois presidentes das casas legislativas (apesar das graves denúncias contra ambos).

    1. Discordo caro Joao

      Na semana passada, Janio desmascarou completamente o Delagnol, mostrando claramente seu vies salvacionista na sua pregaçao na igreja. E já criticou o MPF, o tucano-juiz e o proprio STF. A PF tb ja foi criticada sem medo. Espero que ele continue a ser uma aguia na observaçao dos movimentos da plutocracia nacional.

      1. Sim, Ricardo Pereira, Jânio

        Sim, Ricardo Pereira, Jânio de Freitas já fez críticas às instituições que citei; ele tem experiência, conhecimento, coragem e credibilidade para fazê-lo. Entretanto, Jânio não tem feito as críticas com a intensidade necessária; e não é difícil deduzir os motivos. Embora faça parte do conselho editorial da FSP, Jânio não é  proprietário, grande acionista ou diretor da publicação. Se Jânio aumentar o tom das críticas, apontar realmente a trama e os principais diretores e o submundo das redações que ele conhece muito bem, provavelmente perderá o emprego. Mas sua observação foi muito lúcida. Saudações.

  3. Grande Janio!

    Que pena! Apenas você e Ilimar. Não tem como não ler esses dois grandes Jornalistas (maiúsculo mesmo). Vocês fazem a diferença nesta bagaça de pequenos jornalista.

  4. E haja paciencia, tem jurista

    E haja paciencia, tem jurista que está usando a constituição como justificativa para o golpe; tem muita gente comendo gibi e devolvendo estorinha em quadrinhos.

  5. O maior aliado de Cunha e

    O maior aliado de Cunha e agora Renan é a MIDIA VENAL FAMILIAR. 

    Se a GLOBO quisesse já teria tirado Cunha como tirou Severino e Renan…

    Aliás… Os dois saíram por muito menos.

  6. Meu Deus!!! A cegueira

    Meu Deus!!! A cegueira ideológica é tão grave que não consegue ver quem afinal é a grande aliada de Dudinha Coisa Ruim Cunha? Dilma!!! Ele não coloca faça no pescoço de nenhum deputado. A oposição, queira-se ou não, está aí pra fazer oposição. É o PT sabe bem disso. Qualquer pessoa que deixe a hipocrisia de lado sabe bem que o PT faria exatamente a mesma coisa. Quem colocou o poder no colo dele foi Dilma com sua completa inapetência para o exercício da liderança. Um país precisa de líder. “Dudinha” ocupou o vácuo. Simples assim.

  7. As pedaladas

    Ora, as tais pedaladas foram pagamentos, v. gratia, de pensões e aposentadorias no final do mes de dezembro e pagos aos bancos nos dias 3 ou 4 de janeiro do ano seguinte.

    Ora, que crime!

    E era coisa que acontecia desde FHC.

    O TCU pode até entender seja ilegal, mas no máximo deve fazer recomendações, máxime porque praticados pelo governo de FHC e de Lula, cujas contas estão sendo aprovadas. São fatos, na verdade, que não são graves, não desequilibram o orçamento e nem deixariam em má situação as finanças públicas. Ñão são graves também no sentido de permitirem que um congresso tocado hoje na base do quanto pior para o País melhor – não mexam comigo que sou fogo –  cassarem os votos de 54 milhões de brasileiros na última eleição.

    Há notícias de que o governador Alckmin devolverá somente no ano que vem o crédito de nota fiscal, ou seja, este dinheiro que deveria ser devolvido este ano restará, no caixa do governo estadual,  o ano todo, buscando cumprir as obrigações orçamentárias. Sequer poderão ser usados para o pagamento do IPVA, no início do ano que vem. O TC do Estado irá aprovar suas contas. No máximo, serão feitas recomendações.

    Não há diferenças básicas no que o governo Dilma fez e que o do Alckimin está fazendo.

     

     

     

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