Marco de crise global, quebra do Lehman Brothers completa 10 anos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Kelly Oliveira, Pedro Rafael Vilela e Wellton Máximo 
 
Na Agência Brasil
 
O marco da crise financeira internacional deste século, a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, completa 10 anos hoje (15). Conhecida também como crise do subprime, em referência aos créditos de alto risco vinculados a imóveis, que foram concedidos em larga escala e de forma irracional por décadas, esse processo resultou na formação de uma bolha financeira que explodiu no quarto maior banco de investimentos norte-americano, que tinha 158 anos.
 
O colapso dos mercados mundiais naquele dia e pelas semanas seguintes foi tão grave que obrigou o Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos, e o Banco Central Europeu (BCE), a injetar centenas de bilhões de dólares e euros no sistema financeiro. A crise alastrou-se mundo afora e causou impactos sem precedentes em países como Grécia, Espanha, Irlanda, Islândia e Portugal. Em todo o planeta, mais de 400 milhões de pessoas ficaram desempregadas na pior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial, só comparável à quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.
 
Os sinais dos problemas iniciaram-se em 2007, mas a crise dos subprime teve como início oficial a falência do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, quando a insolvência dos créditos imobiliários não pôde mais ser disfarçada e o FED não ajudou a instituição financeira. Na época, as agências de classificação avaliavam com nota máxima (baixo risco) grande parte dos títulos de contratos de hipoteca dos tomadores subprime, desconsiderando a renda e a estabilidade dos mutuários.
 
As condições de geração da crise partiram de uma questão localizada, no sistema de hipoteca imobiliária dos Estados Unidos, segundo o economista Reinaldo Gonçalves, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No entanto, a globalização financeira elevou as consequências para uma escala planetária. “Esses títulos ‘podres’ do subprime foram umas coisas mais inusitadas em 200 anos de história do sistema econômico moderno. Como a economia americana é o epicentro do sistema monetário e financeiro do planeta, os impactos foram extremos”, explica.
 
Professor de macroeconomia e economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif diz que a crise do subprime é inerente ao próprio capitalismo. Segundo ele, em épocas de crescimento, como nos anos 1990 e 2000, o mercado exagerou no otimismo e ignorou riscos. “Dois anos antes do estouro da bolha, em 2006, o economista Nouriel Roubini [especialista em prever crises financeiras] havia detectado o excessivo endividamento das famílias norte-americanas e alertado para o estouro da bolha imobiliária, mas foi ignorado justamente porque a economia mundial vinha de um ciclo de 14 anos de expansão”, recorda.
 
Injeções de dinheiro
Gonçalves lembra que, em 2009, por causa da intervenção estatal do governo norte-americano para salvar o sistema financeiro, o déficit público da maior economia do mundo subiu a 12% do Produto Interno Público (PIB). A dívida pública dos Estados Unidos saltou de 55% para 100% do PIB em pouco tempo. Os gastos públicos diretos, em programas de infraestrutura, de geração de empregos e de salvamento de grandes empresas, como a montadora General Motors, somaram cerca de US$ 750 bilhões.
 
Apesar do elevado volume em valores absolutos, Nassif, da UFF, classifica de tímido o aumento de gastos públicos. “Para o tamanho do PIB dos Estados Unidos, esse volume [em torno de US$ 750 bilhões] não representou muito”, analisa. Ele relembra que a principal contribuição para debelar a crise, no entanto, foram os quantitative easings, injeções de dinheiro pelo Banco Central dos Estados Unidos, que superaram US$ 10 trilhões. A medida foi repetida pelos bancos centrais Europeu, do Reino Unido e do Japão.
 
Segundo Nassif, embora os livros tradicionais de economia não recomendem o afrouxamento monetário em momentos de baixo crescimento e baixa inflação, a experiência dos Estados Unidos só deu certo porque o dólar, como a principal moeda internacional, melhorou a competitividade da economia norte-americana. “Por causa da importância do dólar, as injeções de dólares vazaram para o sistema financeiro global, desvalorizando a moeda em todo o mundo e aumentando as exportações norte-americanas”, explica.
 
Regulação
Paralelamente, o governo norte-americano reintroduziu a regulação do sistema financeiro, que tinha sido derrubada a partir dos anos 1980. Em 2010, o governo Barack Obama conseguiu a aprovação da Lei Dodd-Frank, que impôs obrigações às grandes instituições financeiras, como alocação de reservas para grandes crises e testes financeiros de resistência. O atual presidente, Donald Trump, tenta flexibilizar pontos da legislação sob o argumento de destravar o mercado de crédito no país, que ficou mais restrito desde então.
 
Segundo Nassif, a manutenção de travas que obriguem as instituições financeiras a adotarem medidas de prudência é essencial para que a especulação financeira não volte a produzir bolhas como a do subprime. “Crises de estouro de bolhas especulativas ocorreram diversas vezes ao longo da história. Somente a regulação financeira é capaz de impedir a valorização de ativos descolada da realidade”, ressalta.
 
Perspectivas
Com 4,2% de crescimento em ritmo anualizado em julho (quando o resultado de um mês é projetado para os 12 meses anteriores) e com desemprego atual em 3,9%, a economia dos Estados Unidos está plenamente recuperada da pior crise desde a Grande Depressão de 1929. Nassif diz que a redução de impostos para empresas que entrou em vigor no ano passado turbinou a economia norte-americana. Ele, no entanto, acredita que o efeito durará pouco.
 
“Esse tipo de política, de desonerar grandes empresas para estimular a economia, é semelhante à praticada no Brasil no início desta década. Gera resultados no curto prazo, mas resulta em inflação e baixo crescimento no médio e no longo prazo porque estimula a demanda, enquanto os empresários entesouram [não gastam na produção] o que deixam de pagar de impostos”, explica o professor da UFF.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. COMO OS PATINHOS CAEM NO CONTO DA CAROCHINHA?!!!!

    Os NorteAmericanos usavam de uma estratégia financeira para se endividarem com Taxas de Juros Negativas. Como o Milagre?  O Imóvel refinanciado várias vezes. Não passsava de uma ‘Pirâmide’, da tal ‘Corrente’. Até as pedras sabiam onde daria. O FED NorteAmericano nada sabia? Só o Madoff foi parar na cadeia? O ‘boi de piranha’ que a Opinião Pública estadunienese precisava para expiar seus pecados. Só que este extraordinário Volume de Capitais, esta tal Bolha Financeira, quando arrebentou levou junto o que? A Economia NorteAmericana? Esta esta melhor que nunca. Vejam os números de crescimento desde o Governo Obama? Este mundo de papel sem lastro levou embora Petrobrás, Vale do Rio Doce, Telebrás, Telesp, Hidrelétricas, CSN, Embraer,…a prata argentina, o cobre chileno, o gás boliviano, e todas milhares de Possibilidades Minerais, Comoditties e Resevas Naturais espalhadas por Países em Industrialização. Estes Gênios desde Menen a FHC, de Planos Econômicos que crêem ter sido a Sétima Maravilha do Planeta, achavam que era só Dolarizar a Economia para que Bancos Estrangeiros soubessem o real tamanho da sua Economia e Valor de seus Ativos em Reservas Minerias, Empresas Estatais, e depois pegar Dinheiro Barato, Capital em Excesso nos Mercados Industrializados (lembram da “Bolha Financeira? Dinheiro sem lastro? Sem passado e sem futuro?), dando sua Economia, Reservas  e Empresas como Garantias. Tudo isto livre da interferência dos seus Governos em administrações próprias comandadas por Agências Reguladoras. Lembram do Banco Central Independente? Independente de quem, Cara Páilda?! O que poderia dar errado? Bastou uma chacolahada no Comércio Internacional, um ‘aumentozinho’ na Taxa de Juros e um pouco de ‘papo furado’ dizendo que o Mundo iria acabar e Bancos recolhendo seus Ativos a Garantias e….. “o coelho sai da cartola”. Milagre das Privatarias. O que era Brasileiro, Argentino Africano, Chileno torna-se Italiano, NorteAmericano, Holandês, Suiço,…E toda esta gente ainda vem e se diz surpresas com os Acontecimentos. E os Brasileiros acreditam !!! Até hoje estão a procurar de onde saiu o coelho. Pobre país rico. Mas quem ção conhece sua história !! Privatarias iguais as feitas no Governo GV, logo depois no Governo JK. Com outro nome, com outro ‘truque’.    

  2. bom post.

    Perguntam a um “liberal” brasileiro as causas da crise.

    As respostas são as mais absurdas: Interferencia dos governos nos negócios, governos obrigando os pobres cidaões a se endividar, dividas publicas impagaveis, falta de reformas estruturais, etc,etc ,etc.

    Nenhuma palavra sobre o sistema financeiro e sua sede de ganhar dinheiro fácil e rápido!

  3. A tal da “crise”, que na

    A tal da “crise”, que na verdade não é crise nenhuma, são providências tomadas pelos detentores do dólar para achacar estados nacionais e reconcentrar a riqueza na iniciativa privada. Pergunta se algum dos irmãos Lehman ficaram pobres…

    Além do que essa história de que o estado dos EUA levou um susto, onde já se viu? Se são justamente os donos privados do dólar que gerem a coisa pública daquele país onde, lembremos, comprar voto de congresista não é crime, é atividade profissional regular, candidamente chamada de “lobby”.

    Esse golpe é tão oficial que tem até uma data oficial para ser comemorado: 15/09/2008.

    1. SIMPLES ASSIM

      Caro sr. Renato, o inacreditável é que querem explicar o porque perdemos e eles sempre ganham. Não entendem ou não querem fazer entender que entram no jogo de ‘cartas para além de marcadas’. Entram no Casino, crendo que Somos Nós que ficaremos com o Prêmio. E não o Dono do Casino. É a surrealidade elevada a décima potência. Mas esta Política não é gratuita, nem inocente. É a manutenção do Estado Absolutista inaugurado em 1930. São as Fortunas de Progressistas AntiCapitalista que juravam que combateriam ‘o lobo do lobo do homem’. Responsabilidade de uma Nação que se deixou influenciar por fantasias e extorsões. Hoje num Jornal Paulista, as políticas de Picolé e os Lucros Estratosféricos a seus Familiares. As divulgações das Contas da Filha de José Serra e outros milhares de casos. Nos remetem ao ano de 1978 e as promessas que faziam este “Honestos Despretenciosos do Interesse Particular”. Vitimizações e Fatalismos não cabem mais. A responsabilidade é absolutamente nossa. E as consequências também. Indústria da Pobreza. Nada como um dia após o outro. ‘Conheceis a Verdade. E a Verdade Vos Libertará’.  

  4. A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL 2008 – NAPOLEÃO E DESIRÉE
    A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL 2008 – NAPOLEÃO E DESIRÉE

    Estava sentando no banco da praça, esperando a minha esposa fazer suas compras e lendo notícias sobre a crise econômica mundial, quando ele se aproximou, acompanhado de sua fiel Desirée, uma linda cachorrinha Yorkshire.

    E era ele mesmo, aquele conhecido louco de rua, que dizia ser Napoleão Bonaparte e que me dera o apelido de Dude. Veio quase marchando, todo fardado e olhando fixo para o jornal que eu estava lendo e foi logo me dizendo:

    – Notei que estás lendo sobre a crise financeira mundial. Ela é pura consequência do liberalismo!

    – Está bem, outro dia falaste sobre isto, mas o que tem a ver com a crise? Explica-me!

    – É Dude, a crise, que hoje abala o mundo, é fruto do neoliberalismo, que não deixou os países fiscalizarem e intervirem no sistema financeiro mundial. E deu no que deu..
    – Mas como no Brasil ela foi mais frágil?

    – Por vários fatores o Brasil escapou de um caos. Todavia, foi o escândalo do PROER que praticamente nos salvou.

    – Escândalo do PROER?

    – Ele aconteceu no governo passado, lembras-te? Pois bem: embora o PROER tenha sido muito lesivo ao País, causando graves prejuízos aos cofres públicos, abriu nossos olhos.

    – Explica melhor.

    – Durante o período de hiperinflação no Brasil, os bancos promoveram desvios monetários, que eram acobertados pela inflação, pois a desvalorização da moeda era tão célere que não se conseguia fiscalizá-los. Eles especularam demais, com títulos da dívida pública do Brasil, deixando de financiar a produção.

    – E daí?

    – Com o advento do plano real, muitos dos balanços bancários, sem o auxílio inflacionário, acabaram no vermelho, mostrando debilidade financeira. Houve o perigo do sistema bancário entrar em colapso e falir, provocando a perda da poupança
    do povo brasileiro. E aí criaram o PROER, o Programa de Estímulo à Restruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.

    – Que nome complicado!

    – Através deste plano, o governo emprestou cerca de trinta bilhões de reais aos bancos, premiando-os, com títulos a serem pagos a longo prazo, amenizando a crise, de forma que a quebradeira deles e de nossa economia foi evitada, com o dinheiro do povo.

    – É sempre o povo que leva no lombo. Mas qual é a ligação disto com o Brasil não ter tido grandes problemas na crise atual ?

    – Dude, seja inteligente. É que, desde aquele tempo, houve a percepção de que era importante que o sistema financeiro fosse fiscalizado, controlado, evitando-se o crescimento do crédito sem condições de adimplência, similarmente à principal causa desta crise, que ainda se alastra e dinamitou economias no mundo todo e, aparentemente controlada, ainda irá trazer muitos problemas para o mundo.

    – Entendi. Certamente concorreu para isto a economia globalizada?

    – Estás ficando mais esperto, Dude. A crise mundial apenas nos afetou por tabela, face à globalização. Mas estávamos preparados pela lição que tivemos pelos fatos escandalosos, que antecederam a criação do PROER.

    – E aí passamos a fiscalizar os bancos ?

    – É isto mesmo. Fiscalizados e controlados, os nossos bancos não se aventuraram como os europeus e asiáticos e não aplicaram o dinheiro brasileiro no “buraco sem fundos” dos bancos americanos.
    – Então foi isto que aconteceu no mundo: faltou fiscalização no sistema bancário?

    – De fato, os bancos americanos vendiam títulos, com grande lucratividade, baseados em empréstimos, a maioria hipotecas de imóveis financiados artificialmente.

    – Artificialmente?

    – Sim, era muito fácil adquirir imóveis nos EEUU, pois não se olhava o perfil de quem estava comprando, mas o valor do imóvel, que garantia a dívida.

    – Então qualquer um comprava imóvel por lá?

    – Perfeitamente E não precisava, como no Brasil, provar sua renda, sua condição para adimplir a dívida e até ser o comprador uma pessoa direita, um bom pagador. Aqui, como todos sabem, não é só o valor do imóvel que é considerado garantia, mas também, as condições financeiras e pessoas de quem se está comprado. Isto se obteve com a fiscalização. Lá, no Tio Sam, podia até ser um malandro e não ter renda, mas o
    empréstimo era feito, com grande lucratividade.

    – Mas se o comprador não tinha dinheiro, como é que pagava ?

    – Muitos tinham bons rendimentos e pagavam o empréstimo, mas uma boa parcela não. Como havia muita procura, em virtude do crédito fácil, os imóveis valorizavam demais e os inadimplentes vendiam-nos até com lucro.

    – E como o sistema quebrou?

    – A valorização dos imóveis chegou ao teto máximo. Nenhum imóvel mais se valorizou. E a inadimplência começou a bater nas portas dos bancos. Com o sistema de garantia, os bancos ficavam com as moradias, que passavam a ser oferecidas.

    – A lei da oferta e da procura se inverteu? É isto ?

    – Sim. Começaram a oferecer muito mais moradias e mansões matando de vez a procura. Os inadimplentes não conseguiam mais vender com lucro e perderam as casas para os bancos, que não mais as conseguiam vender. E aí veio o pior.
    – O pior?

    – Para suportar a expansão do crédito, os bancos americanos emprestavam de bancos europeus e asiáticos, cegos pelos grandes lucros, sem analisarem que o crédito nos EEUU havia crescido muito além da imaginação.

    – Quanto?

    – Pelo que li, praticamente 50% do PIB americano! Dobrou a dívida americana para 100% do seu PIB

    – Como o povo americano iria pagar?

    – Precisariam trabalhar anos a fios e não gastar mais nada só para pagar a dívida.

    – Meu Deus!

    – Para se ter uma ideia, no Brasil o crédito ainda não chegou a 50% do PIB brasileiro.

    – Então aqui estamos muito mais seguros.

    – É isto. Os bancos brasileiros não se aventuraram, pois há controle por parte do Banco Central, impedindo transações de grande risco, mas isto não ocorreu na Europa e na Ásia.

    – Faltou mesmo a fiscalização!

    – Foi mais uma das consequências do neoliberalismo, que não admite a intromissão e fiscalização pelo Estado dos negócios bancários, que usaram e abusaram do crédito, que cresceu vertiginosamente.

    – O neoliberalismo é contra qualquer intervenção do Estado nos negócios?.

    – Perfeitamente. E o crescimento do crédito elevou a produção e o consumo e com a euforia, também, imoderada e fantasiosamente, o preço dos produtos, principalmente de commodities, com base na lei da oferta e da procura.

    – E o estado não percebia nada?
    – Foi o que aconteceu. E quando a inadimplência chegou, os bancos foram à falência e o crédito praticamente acabou.

    – E qual foi a saída?

    – A mesma do nosso PROER: todos os governos, nos países afetados pela crise, em todo o mundo, emprestaram bilhões e bilhões aos bancos americanos, europeus e asiáticos ameaçados de falência, dando-lhes prazos, para evitar o caos total, amenizando a crise.

    – Que barbaridade!

    – Dude, tudo isto é fruto de ambições desmedidas. Ratazanas por toda a parte. Um verdadeiro crime lesa pátria. No meu tempo, eu os guilhotinava todos.

    – E eu acreditando ainda na honestidade.

    – Agora estás vendo, não é Dude. Pois bem, as consequências ficaram muito claras.Com os preços elevados, o crédito tornou-se muito difícil, a procura pela compra diminuiu, a oferta aumentou e estourou a crise, com a derrubada geral de preços e queda na produção em todo o mundo, seguida do desemprego e de grandes sofrimentos pela população.

    – Meu Deus, o Napoleão virou economista ?!

    – É Dude, observo o mundo há mais de duzentos anos. Assim, penso que não podemos ter nem o céu nem o inferno. Tanto a livre iniciativa deve ter sua liberdade, mas o Estado tem que estar atuante e atento, controlando-a. A miséria é fruto da má
    distribuição de renda, amenizada atualmente por programas sociais, mas infelizmente ainda tímidos.

    – Parece que sabes tudo!

    – Dude, leio muito e frequento todos os sites que discutem economia. O mundo está se transformando muito rapidamente, mas muitas coisas são imutáveis.

    – Imutáveis ?

    – Sim, uma delas, por exemplo, é ambição e a corrupção. Elas são infinitas e perenes. Enquanto houver um ser humano, elas estarão presentes.

    O corso olhou-me, de repente, e disse:

    – Olha, já são 12:00 horas… O papo como sempre está muito bom, mas hoje estou com pressa. Tenho muitos compromissos e estou morrendo de fome. Vou passar, rapidamente, no La Casserole, aí pertinho, no Largo do Arouche e matar a vontade de comer um magret de pato ao molho de laranja. Mas estou em dúvida, talvez uma perna de cordeiro assada com feijões brancos. Sei lá?

    Dizendo isto, levou a sua cachorrinha, a Desirée, ao colo e, acariciando-a, passou a cantar:

    – Et si tu n’existais pás… dis-moi pourquoi j’existerais… pour traîner dans un monde
    sans toi…

    Enquanto ele cantava, Desirée, a cachorrinha, toda feliz abanava o rabinho; depois o louco maravilhoso levantou-se do banco, olhou novamente para mim e me disse:

    – À biêntôt!

    E foi andando pela rua em frente; logo virou a esquina e desapareceu …

    Ah, aproveitem a boa vontade do Nassif e ouçam a música que o louco, quer dizer, o Imperador cantava para Desirée, um sucesso dos anos 60, na voz de Joe Dassin:

    ET SI TU N´EXISTAIS PAS
    https://www.youtube.com/watch?v=p1Ux7TRKCv0

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