Mentiras de Natal, por Janio de Freitas

Progresso que não é progresso, Natal que não é Natal e desentendimentos na Lava Jato
 
Jornal GGN – A forma como a imprensa retrata o Natal, reduzindo a data a um evento economicista de “bom ou ruim” para o comércio, e o impacto da mercantilização dessa festividade na vida das famílias, tornando o evento a cada ano menos criativo e próprio em cada lar. E, ainda, os passos contraditórios da Lava Jato, após a comprovação de que o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, fez a doação de R$ 1 milhão à Temer, e não para Dilma, como intuíam erradamente os investigadores, são os assuntos da coluna de hoje de Janio de Freitas. 
 
Folha de S.Paulo
 
Janio de Freitas
 
Ceia de Natal resiste, mas já exala formalismo de programação comercial
 
As notícias começam com quatro, cinco meses de antecedência. Ano a ano. Não que falte coisa melhor para o mesmo espaço em jornais ou tempo nas tevês. É o domínio da burocracia: “Comércio espera Natal bom/ruim”, “Natal será mais caro/barato”, e outras embromações que nada significam.
 
O que rege esse noticiário não são os fatos, é o calendário. Com a aproximação de dezembro, “Importações de Natal crescem/diminuem”; “Indústria de calçados aposta no Natal”, e por aí vai. E então vêm as bobices sobre o movimento de compras, o que a professora comprou, “e você está comprando muito?”, “está tudo muito caro”, “o comércio aposta no 13º”, e as imagens sempre iguais.
 
Depois são as especulações sobre resultados e os resultados de fato. O Natal é só economia.
 
É mesmo o Natal? É, desde que Natal se tornou nome de um período da atividade comercial. O sentido de Natal ficou posto na formalidade das “vendas e compras de Natal”. Sim, a ceia resiste ainda. Mas já exala os formalismos de uma programação comercial, com os novos produtos industriais da publicidade, as ceias em bares e restaurantes, em clubes. E as vendas de ceias prontas, e não mais a obra típica de cada família, memórias remotas do paladar e da infância.
 
O progresso traz também mudanças que não são progresso. O Natal não escaparia aos ímpetos mudancistas e às maneiras que lhes dá a subcultura norte-americana difundida no mundo. À parte o uso que a religiosidade dele pudesse fazer, o Natal foi a mais bela das cerimônias. Quem a perdeu não foi o Natal, fomos nós.
 
AS MENTIRAS
 
À falta de resposta no Painel do Leitor, volto aos depoimentos contraditórios do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.
 
Seu advogado, Juliano Breda, disse em carta à Folha que “a mudança no seu [de Azevedo] depoimento perante o TSE ocorreu em razão da análise de uma prestação de contas dos partidos que se mostrou equivocada, e não em razão de um fato do qual ele teria conhecimento direto”.
 
O despacho 84/2016 da Procuradoria Geral Eleitoral, de 16.12.2016, diz que no depoimento para a Justiça Eleitoral em 17.11.2016 Azevedo “apresentou versão com traços divergentes em relação às afirmações feitas no depoimento prestado em 19.9.2016”, à Lava Jato.
 
Neste depoimento, Azevedo apresentou a história de um encontro seu com Edinho Silva e outro petista para acertar a doação de R$ 1 milhão à campanha de Dilma. Nas palavras da Procuradoria Geral Eleitoral (PGE), está claro que são duas declarações explícitas e contraditórias.
 
A segunda, quando em novembro Azevedo foi indagado pela PGE sobre a divergência, depois que a defesa de Dilma desmentiu-o e apresentou cópia do cheque de R$ 1 milhão nominal a Michel Temer. A Azevedo só restava desdizer-se.
 
Breda diz ainda que “os encontros com Edinho Silva realmente aconteceram, fato que o próprio ex-ministro já admitiu”.
 
O plural não estava no artigo. E o encontro para Edinho Silva pedir (e receber) R$ 1 milhão foi inventado por Otávio Azevedo: Edinho e seu acompanhante o negaram e, mais importante, a negação está implícita no reconhecimento de Azevedo de que o dinheiro não foi dado para Dilma, mas a Temer.
 
O despacho 84 foi mais longe, ao questionar a possibilidade de “desatendimento aos termos daquele acordo” (de delação premiada, com a Lava Jato). Por isso, e por ser assunto criminal, não eleitoral, remeteu a ação contra Otávio Azevedo “à Procuradoria da República em Brasília, para a adoção das medidas que entender cabíveis”, e à Procuradoria Geral da República.
 
Ainda há o caso da declaração de Otávio Azevedo, aos procuradores da Lava Jato, de doação a Aécio Neves de R$ 12,6 milhões, que depois reconheceu serem, na verdade, R$ 19 milhões. O primeiro valor dava cobertura ao declarado na (também falsa) prestação de contas da campanha de Aécio. 
Redação

9 Comentários

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  1. As propagandas ainda “pegam” muitos otários

    O comercialismo se mantém e se fortalece graças ao consumidor, que aceita bancar o otário am muitos casos. Certo dia conversava com uma colega de trabalho e ela dizia que havia mandado o marido de volta ao supermercado, quando ele chegou em casa com presunto e salsicha que não eram da marca Sadia. Aí eu perguntei “e você só compra Sadia?”. Ela, visivelmente orgulhosa, respondeu que sim. É também da Seara, já que “a Seara agora está boa, por causa da Fátima Bernardes!”.

    Fiquei alguns segundos tentando entender, pensando se a Fátima Bernardes agora era acionista, ou diretora da Seara, onde teria implantado mudanças e melhorias, quando ela explicou: a Fátima Bernardes estava fazendo as propagandas da Seara.

    Consumidor que acredita que um produto mudou ou melhorou só por causa da garota-propaganda merece ser enganado mesmo!

  2. Moro “lero-lero”. É só ler –

    Moro “lero-lero”. É só ler – se tiver paciência – suas longuíssimas, “noiosas”, sonolentas, cansativas e programadas (software) sentenças…

  3. A mercantilização do Natal – lavra de publicitários Cannes Lion

    Nada contra a Fátima Bernardes. Pelo contrário, vejo nela como uma exímia pessoa, figura que transmite muito simpática, gentileza e profissionalismo, ao contrário de outras jornalistas como Ana Paula Padrão (um horror só de arrogância e egocentrismo como ela conduz esse Masterchef na Band) e Mariana Godoy (em seu programa, é a vaidade dela que é a protagonista, não os convidados), para não dizer as da Globonews, que colocam uma excessiva subjetividade e tendencionismo no trato com as informações e notícias, na televisão.

    O problema é o que vem da cabeça desses publicitário brasileiros – gente expansiva, metida ao extremo (quem já teve a oportunidade conversar com essa gente sabe bem como são), sempre na esperança de arrebatar uma estatueta Cannes Lion.  Uma aberração mercantil até mais radical que as propagandas das TVs americanas, que antecedem ao Dia de Ação de Graças e a semena Black Friday.

    Quando vejo essas campanhas de marcas de cozinha natalina, logo me vem a mente a vontade de  passar o Natal na casa de amigos sitiantes, gente simples no modo e simpáticas no trato, no norte do Paraná, com direito a um frango caipira com quiabo e leitão pegado no laço, assado na boa cozinha do interior, ao tempero caseiro. E, é claro, regado a uma boa conversa simples e fraterna, nada de firulas típicas do marketing corporativo.

    Repito: o que esses publicitários fazem das festas natalinas é uma aberração, forçam mais ainda quando usam crianças ou o tema infância como protagonistas de campanhas de cunho apelativo-emocionais-mercantilistas de uma festa de cunho familiar.

     

     

     

     

     

  4. Raiografia da ignorância política
     

     

    Datafolha: 9 entre 10 brasileiros atribuem a Deus o sucesso financeiro

    Postado em 25 de dezembro de 2016 às 12:11 pm nShare

    Da Folha:

     

    Nove entre dez brasileiros dizem que seu sucesso financeiro se deve a Deus, mostra pesquisa Datafolha.

    A porcentagem supera 90% entre os religiosos, é de 70% entre os sem religião e aparece até mesmo entre os que se declaram ateus: 23% concordam com a declaração.

    Quanto menor a escolaridade e menor a renda, maior a gratidão a Deus pelas conquistas terrenas.

    Ainda assim, são 77% os graduados que atribuem responsabilidade divina às finanças, e 7 entre 10 entre os que têm renda mensal acima de 10 salários mínimos (R$ 8.800, pelo valor atual).

    DINHEIRO DOS OUTROS

    A disparidade de opinião entre os mais e menos escolarizados, ou entre os mais e menos ricos, fica ainda mais ampla quando se trata do dinheiro dos outros.

    Um terço de quem fez até o ensino fundamental e 28% dos que ganham até R$ 1.760 por mês concordam com a frase “As pessoas pobres, em geral, não têm fé em Deus, e por isso não conseguem sair dessa situação”.

    Em contraposição, são apenas 9% os graduados que atribuem pobreza à falta de fé, mesmo índice dos que ganham mais de R$ 8.800.

    O Datafolha ouviu 2.828 brasileiros maiores de 16 anos selecionados por sorteio aleatório, em amostragem representativa da população.

    Feita em 174 municípios, a pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos (nível de confiança de 95%).

    RELIGIÃO E ECONOMIA

    As origens da pobreza e as soluções para ela são vistas de forma diferente pelos dois principais grupos cristãos do país: católicos e evangélicos –termo que, no Brasil, designa os protestantes históricos, os pentecostais e os neopentecostais.

    Há uma parcela maior (28%) de evangélicos que acham que é a falta de fé em Deus que impede os pobres de deixarem essa condição.

    E enquanto a caridade é a solução mais citada pelos católicos, para os evangélicos a melhor saída para os pobres é levá-los para a igreja, segundo pesquisa do Instituto Pew com 2.000 brasileiros.

    A prática, porém, é outra, mostram os dados. Os protestantes são mais ativos não apenas em arrebanhar fiéis para suas igrejas (43% deles, contra 14% dos católicos).

    Eles também fazem mais caridade (63%, contra 45% dos católicos) e suas igrejas ajudam a achar emprego para seus membros (56%, contra 35% dos católicos).

    (…)

     

     

    De outros sites

  5. Se não tivessem provado a culpa do Temer…

    O Ótávio pensa que todos os brasileiros são otários. Após ser flagrado na mentira, ele desdiz tudo o que disse, tal qual uma Metamorfose Ambulante, e vem com, desculpas esfarrapadas, dizer o contrário.

    Já imaginou se a Dilma não tivesse mostrado o Temer com a calça nas mãos e o cheque no bolso? O ladrão teria se safado pela tangente, principalmente porque o Edinho confirmou não o recebimento do dinheiro, mas o encontro.

    Se um criminoso delator, no afã de livrar-se da punição e lavar seu dinheiro sujo, afirma que entregou dinheiro vivo ao Lula num encontro ocorrido numa determinada data e se esse delator provar que o encontro realmente aconteceu, o Lula será fatalmente condenado se não provar que não recebeu o dinheiro vivo. Nesse caso Lula será condenado não porque recebeu o dinheiro, mas por ter se encontrado com o delator premiável com impunidade e branqueamento do dinheiro sujo produto do seu crime.

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