Ministro revela ignorância ao negar efeito da Lava Jato no desemprego, por J. Carlos de Assis

Aliança pelo Brasil

Ministro revela ignorância ao negar efeito da Lava Jato no desemprego

por J. Carlos de Assis

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, é um ignorante em economia. Usou um discurso professoral e arrogante para sustentar que a operação Lava Jato não teve consequência sobre a economia e o emprego. Enquadra-se naquela categoria de ministros do Supremo dos quais um ex-colega deles, o incomparável Sepúlveda Pertence, me disse certa vez que, em  matéria econômica, todos eram “ignorantes específicos”.

Para centenas de milhares de trabalhadores brasileiros desempregados diretamente em função da Lava Jato a declaração do Ministro, do alto de seu emprego garantido e de salários engordados com todo tipo de indenizações ilegais, é um formidável tapa na cara e um acinte. Assim também se sentem centenas de empresários cujas empresas tiveram que fechar, reduzir drasticamente suas atividades ou simplesmente falir. Vejam por exemplo o Comperj.

É uma pena que não se ensinem  fundamentos de economia política nos cursos de Direito, ou que não constem temas a esse respeito nas apostilas de concursos para a magistratura. Um fundamento mesmo superficial de Economia evitaria que, em plena crise de emprego causada originalmente pela Lava Jato, e depois escalada pelo ajuste Joaquim Levy, houvesse uma interpretação tão irrealista dos efeitos pelo decano da Suprema Corte.

Quando se configurou a Lava Jato no último trimestre de 2014, creio ter sido o primeiro economista brasileiro a perceber a extensão do estrago em matéria de emprego. Escrevi, na ocasião, que aquilo custaria de 2 a 3 pontos percentuais do PIB. Depois veio o ajuste Levy, e refiz minhas contas. Anunciei que a economia brasileira sofreria uma contração em 2015 de 4 a 5%. Não fiquei orgulhoso por ter previsto certo. Preferiria ter errado. A propósito, a Fazenda também calculou a depressão devida à Lava Jato em 2015 em menos 2 pontos percentuais.

Neste ano o FMI prevê uma contração adicional de 3,5% enquanto o desemprego no ano passado fechou em 9,5%. Se considerarmos apenas os jovens, o desemprego está oscilando, nas capitais, entre 15 a 20%. Ainda é efeito da Lava Jato e do ajuste Levy, já que, infelizmente, o governo não mudou a política econômica de seu desastrado primeiro ministro da Fazenda comprometido até o pescoço com seus mandatários banqueiros. 

O ministro Celso de Mello doutrinou do alto de sua jurisprudência econômica que combate à corrupção não gera desemprego e crise econômica. Sim, claro. Todos somos contra a corrupção e queremos combatê-la. Mas o que torna combate à corrupção em desastre social é o manejo incompetente, ilegal e espetaculoso da Justiça, quebrando empresas e gerando desemprego em lugar de simplesmente saneá-las com as devidas multas.

Em nenhum país civilizado que tenha um sistema industrial maduro empresas são expostas à quebra sem maiores cuidados. Há um princípio denominado risco sistêmico que se procura respeitar. Uma grande empreiteira é um centro de recebimentos e pagamentos. Quando se quebra a cadeia de recebimentos, a de pagamentos vai junto, e toda uma estrutura produtiva que não tem nada a ver com corrupção é abalada.

Combate à corrupção é perfeitamente compatível com a preservação da atividade econômica do país e o normal funcionamento das empresas. Para isso, contudo, nossos magistrados teriam que ser um pouco mais sábios e ponderados. Da forma como está operando a Justiça da Lava Jato, que não estava distinguindo empresários de empresas (a situação mudou um pouco com os acordos de leniência), o país e o povo pagam caro pelo despreparo dos juízes.

J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ.

Redação

Redação

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  • O efeito é muito claro

    Numa justiça séria, por razões técnicas, deve ser detido o corrupto que segue de carro (sentido figurativo) pela estrada da economia, e levado para o encostamento onde é analisada a infração e aplicada – eventualmente - a multa.

    Já o esquema golpista brasileiro detém o transito todo, enquanto busca motivos para poder culpar e multar apenas os carros vermelhos.

  • Não é apenas despreparo, é

    Não é apenas despreparo, é bem pior do que isso. O ministro Celso de Mello, se cultivasse a honradez, já teria se aposentado depois de ter sido classificado como "juiz de m" pelo seu ex-chefe, o ex-ministro da Justiça Saulo Ramos, no livro Código da Vida (http://paginadoenock.com.br/decano-do-stf-ministro-celso-mello-ja-foi-definido-em-livro-autobiografico-do-jurista-e-ex-ministro-da-justica-saulo-ramos-como-um-juiz-de-merda/). 

  • aos desempregados, que comam brioches.

     

    La Marseillaise 

    Allons enfants de la Patrie

    Le jour de gloire est arrivé!

    Contre nous de la tyrannie

    L'étendard sanglant est levé

    Entendez-vous dans les campagnes

    Mugir ces féroces soldats?

    Ils viennent jusque dans vos bras

    Égorger nos fils, nos compagnes!


    Aux armes citoyens

    Formez vos bataillons

    Marchons, marchons

    Qu'un sang impur

    Abreuve nos sillons

    Tem ministro do supremo  (com letra minúscula mesmo) frequentando casa de político, recebendo prêmio de TV partidária e agora esse sr. dando entrevista para simpatizantes do golpe em praça de alimentação de shopping. Perdeu-se na Cage aux Folles a noção de autoridade, de respeitabilidade, sobretudo nesse momento de grave impasse político. Dar depoimento desastroso sobre crise econõmica e desemprego em paraíso de consumo (shopping) é, no mínimo falta de noção nesse momento. 

    O supremo - que de supremo nada tem -  mostrado-se cada vez mais partidário e as consequências dessa irresponsabilidade serão colhidas após a queda de Dilma. Serão cobradas desses Senhores que frequentam festas midiáticas e casas de políticos  as faturas atrasadas dos prejuízos por eles causados à Nação.

    No país divido que surgir  no day-after pode não haver espaço para festas luxuosas nem para passeios em shoppings, sr ministro.

    Bom apetite magistrado, boa Páscoa.

  • O cara continua insistindo

    O cara continua insistindo que a crise na economia é culpa da Lava Jato e do Levy? Francamente, nenhum economista com o mínimo de credibilidade insiste nessa besteira hoje em dia. Só essas figuras folclóricas afogadas na sua própria dissonância cognitiva.

    • É óbvio que a crise econômica internacional já está aqui...

      O que o J. Carlos de Assis está falando especificamente - se você não percebeu - é sobre o peso que a Vaza Jato e a política econômica suicida do Levy estão tendo na contração do PIB e nas vidas de famílias de carne e osso e de empresas de todos os portes (porque, quando você paralisa empresas enormes como empreiteiras de grande porte, isso se reflete em toda a sua cadeia de fornecedores, atingindo empresas de grande, médio e pequeno porte.

      Pode ser, também, que um NÃO tenha fugido da sua primeira frase...

    • efeitos

      Ozzy, o JCA minimiza o efeito da Lavajato que deve ser uma retração de 6,5%, atenuada pela política anti-cíclica do governo em 2,6% , resultando numa redução do Pib de 3,9%.

    • Matéria na Folha de São

      Matéria na Folha de São Paulo, de 19/01/2016:

      http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1731015-recessao-no-brasil-derruba-crescimento-global-diz-fmi.shtml

      "Em termos de composição por país, as revisões [para baixo, do crescimento] se devem em grande parte ao Brasil, onde a recessão causada pela incerteza política, em meio à contínua crise das investigações na Petrobras, está se mostrando mais profunda do que se esperava", diz o Fundo [FMI].

      Não são governistas que estão falando que a Lava a Jato, do jeito que foi feita, desmontou a economia nacional. É o insuspeito FMI.

      Certamente, o ministro Celso de Mello conhece as matérias de economia da Folha de SP, mas prefere ignorar.

  • Meus amigos

    Qualquer manual de administração ou economia reza que a estabilidade das regras, leis e costumes é essencial para o bom andamento dos negócios.

    Estabilidade.

    A justiça deve punir, mas que tal seguirmos o exemplo dos Estados Unidos ou da Inglaterra, onde os processos correm com discrição, executivos são punidos, empresas multadas e a vida segue...

  • E pelas entrevistas de alguns

    E pelas entrevistas de alguns economista na CBN, pró-impeachement, tudo que Dilma tentou fazer para enfrentar a gastança terminou em mais gastança. Quando diz que nos estados e DF as folhas de pagamentos são de 80% da arrecadação, insinua que com a troca de governo, se houver, além da inciativa privada, vão penar os funcinários públicos em geral; e eu digo que, pelo que conhecemos desses canalhas, não teremos apenas uma filha de FHC ou de outros oposicionistas de agora embolsando salário sem prestar serviços, mas que toda a administração pública será engordada com a parentela dos bandidos. 

    É importante ter-se em mente que a administração pública de hoje em nada se compara com as de tempos remotos. Será uma indignidade agir contra milhares de funcionários concursados, que tanto se esforçaram para conseguirem emprego. Collor subiu ao poder com esse discurso, e muito mal fez a muitos trabalhadores, fechando empresas, demitindo, e até forçando aposentadorias, depois de arrombar as contas dos brasileiros como se dono delas fosse. Pra quê? 

    O Parlamento virou uma casa de mãe joana. As ações dos pmdebistas contra Dilma é de um ridículo sem par. E o povo, que já perdeu o senso completo, querendo porque querendo tão-só ver a Presidente destituída do cargo, sequer se dá conta de que os golpeadores-mor não apresentaram até hoje nenhum plano de governo. Até o presente instante ninguémsabe o que será do Brasil se governado por essa corja de ladrões de dinheiro e de poder. A essa gente pouco importa quem seja Cunha, bem como se ele amanhã, por substituição a Temer, sentar-se-á na cadeira mais poderosa. 

    Aliás, vendo o documentário da TV Brasil de ontem, sobre os miliatares pró-Jango, em 1964, revivi aquele momento em que o Presidente se afastou e Ranieri Mazzili assumiu o cargo indevidamente, como um ladrão. Será que Dilma deveria se afastar do Brasil nesses dias? Quem garante que a história não se repetirá?

    • "A esperança é um urubu todo pintado de verde"

      Um exemplo: pergunte aos funcionários do judiciário da União o que eles acham de Dilma Rousseff e dos governos do PT. Possivelmente você ouvirá que se trata de um governo que os reduziu à miséria. Esquecem, claro, de como era composta a força de trabalho em tempos antigos e de quanto percebiam a título de remuneração os servidores de 20 e tantos anos atrás. Pelo que tenho escutado por aí, muitos acham que viverão uma autêntica era de ouro sob outros governos. "A esperança é um urubu todo pintado de verde", dizia o poeta Mário Quintana. A conferir...

      • Perfeito

        É isto aí Maria e Claus,

        A turminha que nasceu após 1986, se concursou após 2002 e para a qual tudo de ruim aconteceu nos últimos 13 anos não faz ideia do que vem por aí.

        Amigos, apertem os cintos, os salários dos servidores cairão, concursos acabarão, as condições de trabalho nas repartições se deteriorará.

        Não estou fazendo terrorismo, estou me pautando pelo que foram os governos Collor/Itamar, FHC I e FHC II para o funcionalismo e pelo que circula será o programa do Temer, um programa de liberalização radical e corte de gastos públicos.

        Gasto público inclui salário de servidor e manutenção da burocracia do Estado. 

        Desejo a todos uma Feliz Páscoa!

        Miope

  • Triste e com piores

    Triste e com piores consequências foi a aberração de um ministro de suprema corte ser levado ao ar em uma longa, bizarra e estranha entrevista dentro de um shopping center para uma pessoa desconhecida proprietária de um espaço desconhecido na internet,  tudo claramente montado para sair no telejornal da emissora das revoluções, reiterando a tese da oligarquia ressaltando que um impeachment aprovado pelo congresso não é golpe se atendido o dispositivo constitucional previsto (ou seja o inexistente crime de responsabilidade do mandatário).

    Lógico "se" atendido, esqueceram de informar que o golpe está  justamente no "se", pois não existe o crime.

    Antigamente a imprensa e os representantes da justiça se davam mais ao respeito e jamais fariam esse lamentável papel de um reality show montado e travestido de jornalismo pelo oligopólio da informação, para quebrar resistências e levar apoio de uma audiência facilmente manipulável a um golpe de estado.

    Senhor não os perdoai, eles sabem o que fazem.

     

     

     

     

  • "(...) do alto de seu emprego

    "(...) do alto de seu emprego garantido e de salários engordados com todo tipo de indenizações ilegais", por que razão ele se preocuparia em buscar as causas específicas do desemprego alheio? Basta se fechar em copas na lei dura e pronto. É só dizer que a Lava Jato nada tem a ver com a crise e pronto. Tudo resolvido. Não que a coisa não deva ser apurada, culpados condenados - mediante o devido processo legal -, valores devolvidos aos cofres públicos etc. Tudo isso deve ser feito. Mas será mesmo que foi levado a cabo tudo que era possível (com instrumentos meramente legais!) para preservar dezenas de milhares de empregos que viraram fumaça? A fala do ministro leva a crer que a resposta é não.

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