O fracasso da esquerda neoliberal no Chile, Itália e Brasil, por Petronio Portella Filho

Lula parece não se lembrar que a última presidente petista, Dilma Rousseff, pagou preço elevado por se render ao "mercado".

O fracasso da esquerda neoliberal no Chile, Itália e Brasil

por Petronio Portella Filho

No domingo, nas eleições para a assembleia constituinte chilena, a extrema direita derrotou o governo esquerdista do jovem presidente Gabriel Boric. Ela vai praticamente escrever a nova Constituição. 

Ao assumir o poder, em 2022, Boric entregou o Ministério da Fazenda a Mário Marcel, que era nada menos que o presidente do Banco Central do Chile. Boric se afastou das pautas econômicas desenvolvimentistas e abraçou o mercado financeiro. Ele combinou o neoliberalismo com uma pauta de costumes esquerdista que os religiosos e a classe média odeiam. Perdeu a frágil maioria que tinha. A extrema direita venceu as eleições de ontem com ampla maioria. 

Algo muito parecido aconteceu na Itália, onde a esquerda também entregou o poder a um ex-presidente do Banco Central. Mario Draghi, que presidiu o Banco Central Europeu, foi elevado ao cargo de primeiro-ministro pela esquerda. Draghi fez o que se poderia esperar de um banqueiro central. Proporcionou um período de baixo crescimento, com estagnação do emprego. Os eleitores insatisfeitos se vingaram votando na extrema direita. Draghi foi sucedido por Geórgia Melone, uma fascista.

O mesmo roteiro pode estar sendo seguido no Brasil. Lula nomeou um ministro da Fazenda fraco que está se deixando tutelar por um Presidente do Banco Central (ainda por cima bolsonarista). O Copom, sob o comando de Campos Neto, segue inflexível mantendo a maior taxa de juros básica do planeta. Não satisfeito, Campos Neto tenta ditar a política fiscal do governo Lula. Ele é a favor do austericídio, inclusive já deu entrevista afirmando que “você tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade”. 

Lula tem um Ministro da Fazenda que dá excelentes entrevistas, mas que não luta por suas ideias. Fernando Haddad preside o Conselho Monetário Nacional, órgão encarregado de fixar as metas de inflação. O Banco Central, nos termos da lei que lhe concedeu a autonomia, só pode elevar juros se for para cumprir as metas de inflação fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Infelizmente Haddad abdicou do direito de alterar as metas de inflação (onde Lula tem maioria) para não contrariar Campos Neto. A lei tornou o Banco Central autônomo, Fernando Haddad o tornou independente. 

Campos Neto passou a dar palpite também no Arcabouço Fiscal. Ele provavelmente induziu o governo Lula a incluir no limite dos gastos primários os repasses do governo federal aos bancos estatais. Isso é algo que nem os autores do teto de gastos fizeram. Haddad esbanja submissão enquanto Campos Neto esbanja arrogância.  

Infelizmente a esquerda brasileira, a exemplo da chilena e da italiana, acredita que abrir mão de seu programa econômico em nome de uma improvável conciliação com o “mercado” é algo “moderno”.

Lula parece não se lembrar que a última presidente petista, Dilma Rousseff, pagou preço elevado por se render ao “mercado”. Ela entregou, em 2015, o Ministério da Fazenda a Joaquim Levy, PhD de Chicago e funcionário do Bradesco. Dilma perdeu o apoio popular, sofreu impeachment e o vice assumiu, impondo ao Brasil uma plataforma ultraliberal e austericida que, na prática, elegeu Bolsonaro.

Nos anos recentes, toda vez que a esquerda abraçou o neoliberalismo para “acalmar o mercado financeiro”, ela perdeu o apoio popular e, na prática, estendeu o tapete vermelho para a vitória do fascismo.

Petronio Portella Filho, doutor em economia pela Unicamp, é autor do livro Mentiras que Contam sobre a Economia Brasileira. 

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Redação

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