O que pensam os executivos da Petrobras?

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da AEPET

Editorial: O que pensam os executivos da Petrobrás?

A pergunta está na cabeça dos petroleiros.

Afinal, o que pensam os diretores e executivos da alta administração e empregados de carreira da empresa, que estão implementando as decisões do atual governo de desintegrar a Petrobrás, privatizando-a em pedaços, quando estão na solidão do poder?

Alguns dirão que não estão preocupados, pois recebem altos salários e se aposentarão tão logo sejam substituídos. Pode ser, mas como enganam a si próprios, sabendo que causaram grandes prejuízos à empresa e ao país, ajudando a desempregar milhares de pessoas e entregando o que foi construído por várias gerações às concorrentes internacionais, tornando o país mais dependente e desigual?

É claro que há vários subterfúgios para enganar a si próprio, como “não podia fazer nada, foram ordens superiores”, ou “todo mundo ficou calado e, sozinho, não conseguiria mudar nada”, ou ainda “se eu saísse, seria muito pior”. E assim, vai cumprindo o papel que diz combater, para ser descartado no futur, quando então a criticar e seus superiores, dizendo que não tem mais jeito.

Vender campos de petróleo em produção ou altamente promissores, vender malhas de gasodutos e depois alugar em condições indefensáveis, anunciar a entrada em operação de plataformas cujos investimentos remetem há seis ou mais anos, como se fosse realização da atual gestão; planejar entregar 37% da capacidade instalada de refino aos concorrentes, abrindo mão do seu fundamental patrimônio, o mercado interno nacional, deveria estar sendo contestado por qualquer um que pertença aos quadros da Petrobrás. Os diretores e conselheiros de fora da empresa, ao fim da gestão, seguirão seus caminhos, através nas portas giratórias entre o público e o privado. Os empregados da Petrobrás que esperam ser convidados para futuros empregos, pagos a peso de ouro, fora da empresa, até podem ter sucesso, mas serão descartados tão logo entreguem seus contatos e conhecimentos levados da estatal. Lembrem-se da aventura da OGX [1].

Os governos passam e tem suas políticas para a empresa. Cabe aos seus empregados e executivos agirem com competência e profissionalismo, alertando para decisões que possam comprometer o futuro e boa gestão da companhia. Isto é o que a sociedade e os homens públicos preocupados com o país esperam.

Podemos citar alguns episódios ocorridos que podem servir de exemplo aos atuais dirigentes.

Luiz Otávio da Motta Veiga, presidente da Petrobrás entre março e outubro de 1990, se recusou a prejudicar a companhia favorecendo o empresário Wagner Canhedo, amigo de PC Farias, para a compra da VASP, que estava sendo privatizada e tinha dívidas com a BR Distribuidora [2]. Ao sair, comentou que não poderia atender a uma orientação do governo, representante do acionista controlador, pois estaria prejudicando a companhia e aos demais acionistas. Ele havia sido presidente da CVM entre 1986 e 1988 e sabia de suas responsabilidades e dos processos que poderia responder pelo ato.

Sérgio Portinho, um dos fundadores da engenharia básica da Petrobrás, respondeu a uma carta do diretor da empresa, em 1984, determinando a entrega de tecnologias utilizadas em projetos elaboradas pelo corpo técnico, a uma empresa de detalhamento nacional. Com toda a elegância, listou as consequências da medida e reencaminhou para a análise do diretor. Não se falou mais do assunto.

O ex-superintendente do CENPES (antiga denominação de Gerente Executivo atual), Álvaro Peres, em resposta à solicitação do diretor para a entrega da lista dos empregados que estavam em greve em 1995, informou que todos haviam retornado ao trabalho. Insistiram que a lista fosse entregue até o final da tarde daquele mesmo dia. Respondeu que não havia uma lista, pois não havia mais greve. Foi afastado do cargo e retornou ao seu posto de trabalho, para desempenhar a função para o qual havia sido contratado pela Petrobrás, com toda a dignidade que só possui quem sabe que as “funções de confiança” são passageiras e o cargo profissional  que é permanente.

O curioso nesta última história é que algumas pessoas que trabalharam na sua equipe não conseguiram perceber o que são valores e hoje participam da venda de ativos da companhia. Ou discordaram da decisão na época, achando que era romantismo e não questão de caráter, ou mudaram de posição ao serem testados nos cargos de confiança, dentro daquela máxima popular de que “se quiser conhecer alguém, dê-lhe poder”.

Por conta da intensa propaganda da mídia nas últimas décadas, muitos empregados se entregam com desembaraço à atividade de venda de ativos, parcerias estratégicas e outros nomes elegantes para substituir a palavra privatização. Deveriam ter em mente que quem lhes paga os salários é a Petrobrás e, portanto, devem dedicar o melhor de seus esforços para que ela alcance os melhores resultados, com o melhor de sua competência técnica.

Se lhes for solicitado algo que eles não fariam se a empresa fosse propriedade particular deles, tem a obrigação de alertar seu superior, nos seus estudos e relatórios sobre o assunto. Cabe ao gerente assumir a decisão pelo ato. Afinal, quantos foram penalizados por cumprirem ordens das quais discordavam, mas que assumiram como suas, sem qualquer tipo de contestação ou formalização, apenas para manter “funções de confiança”, ou mesmo para não desagradarem seus gerentes? Muitos outros agiram profissionalmente e se negaram a atender pedidos por estarem em desacordo com a recomendação técnica e o melhor dos propósitos que, na defesa do legitimo interesse da maioria dos brasileiros, são também políticos.

Aos que ainda preferem se omitir no seu dia a dia, dizendo que não vai dar em nada, quando qualquer iniciativa de mostrar sua discordância com o desmonte da companhia é sugerida, vale parar para refletir pois não serão preservados apenas porque foram condescendentes com a direção.

AEPET

[1] http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/artigos-da-aepet-e-colaboradores/item/982-diante-dos-fatos-qual-deve-ser-a-postura-dos-petroleiros
[2] http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,pc-farias-o-homem-forte-do-governo-collor,9034,0.htm

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Raros são os que pensam

    Raros são os que pensam assim: que os cargos de confiança são temporários. A grande maioria se apega a eles e depois não quer largar mais. No caso da petrobras, há algumas áreas que tem muito prestígio e por isso, é mais difícil mexer nos chefes. A exploração e produção por exemplo. Outro é o cenpes. As áreas mais desvalorizadas em geral não tem força para resistir ao assédio dos chefes superiores a não ser que tenham apoio interno forte, principalmente das áreas mais valorizadas. Se eu bem conheço a empresa, quem hoje ocupa estas chefias deve estar tentando atrasar ao máximo alguns cronogramas na esperança de que uma mudança de governo consiga frear a tempo o desmonte da empresa.

  2. Pensam?


    Será mesmo que pensam, avaliam, ponderam? O mais provável é que pensem por eles em Wall Street, na City, aqui mesmo na FEBRABAN e outros lugares afins. Eles apenas  devem avaliar ou imaginar quanto vão ganhar pessoalmente pelas atitudes irresponsáveis (como os reajustes desenfreados, por exemplo) e os crimes  de lesa pátria (a dilapidação do patrimônio da União na Petrobrás).

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