Requião faz balanço dos retrocessos em um ano de governo Temer

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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
 
Do Site de Roberto Requião
 
AVISEI, OS CANALHAS CUMPRIRIAM AS PROMESSAS SOB APLAUSOS DOS CÍNICOS
 
Há ano um atrás, apostrofei as senhoras e os senhores senadores que participaram do golpe parlamentar-empresarial-mediático que destituiu a presidente Dilma Rousseff.
 
Repeti a interpelação de Tancredo Neves a Moura Andrade, o esconjuro “Canalha! Canalha! Canalha! ” e cobrava:
 
– Se, mesmo sem culpa, esta Casa condenar a presidente, que cada um esteja consciente do que há de vir. Que ninguém, depois, alegue ignorância ou se diga trapaceado, porque as intenções do vice que quer ser titular são claras, solares”.
 

 
AS PROMESSAS
 
E, em seguida, naquele dia 12 de maio, há um ano atrás, eu enumerava o que estava por vir.
 
Dizia que ele cumpriria as seguintes promessas que ele havia feito em seu programa, chamado, “A ponte para o futuro”: 
 
1) o reajuste das aposentadorias e pensões seria desvinculado do aumento do salário mínimo. E que o salário mínimo não teria mais reajustes reais;

 

2) que a Previdência Social, o maior instrumento de distribuição de renda do país, seria destruída por reformas facinorosas;
 
3) que a CLT seria fulminada, com a revisão de direitos e garantias sociais dos trabalhadores;
 
4) que a pedra de toque, a cereja do bolo da reforma trabalhista seria a prevalência do negociado sobre o legislado;
 
5) que as despesas correntes e os investimentos da União, com a exceção das despesas financeiras com o serviço dívida pública, seriam congelados;
 
6) que seriam retomadas as privatizações e as concessões, selvagemente, como a entrega do pré-sal, do espaço aéreo, de nossas terras,  e nossos minérios e assim por diante;
 
7) que tudo isso aconteceria rapidamente, com a celeridade e a urgência de um gatuno pressionado pelo alarme que chama a polícia.
 
Desgraçadamente, malditamente, tudo aquilo que enumerava, até com certo exagero, diga-se, transmuda-se em realidade.
 
Neste plenário, naquele dia e dias seguintes, alguns senadores tentaram desclassificar as minhas previsões, dizendo-as precipitadas ou
catastróficas.
 
OS ILUDIDOS
 
Alguns peemedebistas e senadores do PDT, do PSB, do PP e mesmo do PR, que em um primeiro momento tendiam a ser contra o impeachment de Dilma, diziam-me não poder acreditar que o Governo Temer liderasse o recuo na legislação trabalhista, na Seguridade Social, nos programas sociais e nas áreas da saúde e da educação. Que eu estava exagerando.
 
Que o afastamento da presidente faria com que o Brasil retomasse o crescimento econômico e estancasse o desemprego, e outras mentiras semelhantes…
 
Na verdade, eu também errei.
 
Mesmo que dissesse que o governo haveria de agir com a velocidade do raio para aprovar as tais reformas e que seria lesto na abertura do país aos interesses multinacionais, previa pelo menos dois anos para que tudo isso acontecesse.
 
Errei.
 
Para os propósitos a que se reservou, o Governo Temer constitui um exemplo de eficácia e é um caso de sucesso.
 
Nunca, no processo legislativo, em toda a história da República se fez tanto em tão pouco tempo.
 
Esse Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados, age sob aquele ritmo da Constituinte de 88 imprimido por Ulysses Guimarães, e sua mantra: “Vamos votar! Vamos votar! “.
 
E vota-se, e vota-se, e vota-se.
 
Vota-se para destruir tudo da Constituição de 88.
 
Este Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados, na verdade, passa agir como se fosse uma Constituinte.
 
Embora caricata, com fortes tendências à galhofa e à fancaria, e irresistível tendência ao comércio, no varejo e no atacado, é uma Constituinte de fato.
 
Mesmo que usurpadora de poderes pois não fomos eleitos para redigir uma nova Constituição. E mesmo porque mais de 90 por cento dos brasileiros, fonte original do poder constituinte, rejeitam as reformas trabalhista e da Previdência.
 
UMA SÓ MEDIDA?
 
As senhoras e os senhores poderiam me apontar uma medida só, umazinha que seja, em benefício da população?
 
Uma só!
 
Nesse furor legiferante, nessa contrafação constituinte nem uma mísera vírgula em favor dos trabalhadores, urbanos ou rurais, dos aposentados, dos mais velhos, das crianças, dos pequenos agricultores, dos professores, dos desempregados, dos mais pobres, dos doentes e dos necessitados ou mesmo do empresariado efetivamente nacional.
 
ERAM PREPARATIVOS PARA UMA GUERRA CIVIL?
 
Há um ano atrás, naquele fatídico 12 de maio, dizia que o afastamento de Dilma -cuja Presidência eu criticava por motivos opostos ao dos golpistas-, franquearia o Palácio do Planalto a um governo cujas decisões poderiam ser enquadradas em duas categorias:
 
1º) a categoria do desmonte do Estado e do setor público, para abrir espaço à exploração e ao lucro privado.
 
2º) a categoria da precarização do trabalho, para ampliar o lucro do capital suportado pela banca.
 
Mais uma vez confesso a minha perplexidade e meu espanto por ver realizado o que eu previra em tão pouco tempo.
 
Naquele discurso de um ano atrás, fazia ainda uma advertência, dizendo:
 
– Essa combinação explosiva de entreguismo com medidas contra os aposentados, os assalariados, os mais pobres, contra direitos e conquistas populares alimentam contradições de classes, em consequência, a luta de classes”.
 
E perguntava:
 
 -As senhoras e os senhores estão preparados para a guerra civil.
 
Não? Entrincheirem-se, então, porque o conflito é inevitável. O povo brasileiro que provou por alguns poucos anos o gosto da emergência
social não retornará submissamente à senzala”.
 
Esse foi um dos trechos de meu discurso que colegas mais criticaram, de novo classificando-me de desmoderado, excessivo e de insuflar
movimentos.
 
Pois bem, menos de um ano depois, o que aconteceu?
 
Quarenta milhões de trabalhadores cruzam os braços, param o país na maior greve de nossa história, um movimento que, com a ajuda  os meios de comunicação, o governo tentou desclassificar, como as patéticas, ridículas declarações do ministro da “Justiça”.
 
E pensar que na cadeira em que hoje se encolhe Osmar Serraglio, lá sentou Diogo Feijó, Ruy Barbosa, Afrânio de Melo Franco, Osvaldo Aranha, Tancredo Neves, João Mangabeira, Prado Kelly, Luís Viana Filho, Nereu Ramos, Milton Campos, Petrônio Portela, Paulo Brossard….
 
O GRANDE ASSALTO DOS TORQUEMADAS ENTRE TOSTÕES E MILHÕES
 
Senhoras e senhores senadores, talvez, no discurso neste plenário de um ano atrás, tenha cometido mais um erro de avaliação: não levei em consideração a rapidez com que os ladravazes movimentariam negócios e nem previ tanta desinibição no assalto à Nação.
 
Nem esses tempos da Lava Jato, esses tempos dos Torquemadas, dos Savanoralla, dos Kraemer e dos Sprenger, nem as listas do Janot e do Fachin inibem os trapaceiros.
 
Querem um exemplo?
 
Ainda semana passada, este plenário aprovou uma Medida Provisória para eternizar o prolongamento de concessões na infraestrutura, sem licitações, patrocinada por um ministro suspeito de maracutaias grossíssimas.
 
E esse assalto à luz do dia, que impressiona pela ousadia e pela extensão do esbulho, faz-se com a cobertura generosa e entusiasmada da mídia monopolista; com a assistência dos 250 especialistas e comentaristas da Globo News e da CBN e dos economistas de mercado.
 
Pior ainda: e sob a indiferença cúmplice do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal do Daiello. Enquanto o trio justiceiro ocupa-se de tostões, negócios sem limites acontecem no Congresso Nacional, nos Ministérios, nas estatais, nas agências reguladoras.
 
Será que o juiz federal, o comandante da força-tarefa, o procurador geral, o relator da Lava Jato no Supremo e o comandante da PF não atinaram para o fato de que o apoio da mídia, do mercado, da banca, da embaixada norte-americana ao combate seletivo da corrupção no Brasil, nada tem a ver com ética, moralidade, reposição da decência e defesa dos bons costumes?
 
A pilhagem do país e a escravização do nosso povo, esse o preço do apoio que eles dão aos senhores da República
 
LADRÃO OU BARÃO?
 
” NAVEGAVA ALEXANDRE EM UMA PODEROSA ARMADA PELO MAR ERITREU A CONQUISTAR A ÍNDIA; E COMO FOSSE TRAZIDO À SUA PRESENÇA UM PIRATA, QUE POR ALI ANDAVA ROUBANDO OS PESCADORES, REPREENDEU-O MUITO ALEXANDRE DE ANDAR EM TÃO MAU OFÍCIO:
 
PORÉM ELE, QUE NÃO ERA MEDROSO NEM LERDO, RESPONDEU ASSIM: BASTA, SENHOR! EU, PORQUE ROUBO EM UMA BARCA, SOU LADRÃO, E VÓS, _PORQUE ROUBAIS EM UMA ARMADA, __TODA UMA NAÇÃO,__SOIS IMPERADOR?
 
ASSIM É. O ROUBAR POUCO É CULPA, O ROUBAR MUITO É GRANDEZA: O ROUBAR COM POUCO PODER FAZ OS PIRATAS, O ROUBAR COM MUITO, OS ALEXANDRES “.
 
“(…) de que eu trato(aqui) são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos.
 
– Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam”. 
 
Estes dois trechos do “Sermão do Bom Ladrão”, de Vieira, um ano depois da destituição da presidente Dilma retratam com precisão o Brasil de hoje, pilhado, retalhado, vendido.
 
Confesso: não esperava tanta rapidez, quer na destruição da soberania nacional quer na destruição do Estado Social. Que triste aniversário, que data funesta.
 
Citei Vieira, encerrado parodiando Gregório de Matos: “Triste Brasil, tantos negócios, tantos negociantes”.
 
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Redação

3 Comentários

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  1. A ser seguda a proposta de 15

    A ser seguda a proposta de 15 minutos pro almoço e higienização fisiológica antes do expediente de trabalho, de fato podemos ver nisso um retrocesso à Idade Média.

    Posta em prática a proposta, os trabalhadores já chegarão ao serviço sentindo-se pressionados. Impedidos de irem aos banheiros durante o expediente, vão urinar nas calças, ou terão que usar fraldas? Fraldas são muito caras.

    Seria bom que cada pessoa em sua casa fizesse um exercício para saber como conseguria engolir alimentos de um prato de almoço em 15 minutos. Eu vou fazer essa experiência.

    Mas, então, tais propostas podem levar essa população de trabalhadores a várias enfermidades, entupindo os postos de saúde, e hospitais. 

    Se alguém come sem mastigar direito, voltando ao sedentarismo, que é permanecer sentado num escritório, terá grandes chances de contrair esofagite, gastite, entre outras que médicos saberiam melhor informar.

    Se a gente evita urinar para mostrar serviço, e não ser punido, ou demitido, segundo as possíveis novas leis do trabalho, será candidata a problemas renais graves, e, aí, invevitavelmente será desligado do emprego, pelo menos para se tratar. Se não morrer, ou se tornar inválido, de acordo com a lei, a vigir, como ficaria sua vida? 

    É preciso dar mais transparência a essas propostas, tão conhecidas pelos senadores, como Requião, até agora, no entanto, longe do entendimento dos mais interessados.

    Não me conformo com Requião permancendo num partido, ao qual ele só tem críticas duras a fazer. Quando esse grande representante do povo paranaense vai declarar sua desfiliação dessa sigla? 

  2. “ANIMUS FURANDI”

    Pela  mesma pomada com que  meu dedo untado teve sua dor amortecida veio meu inimigo e o arrancou sem que eu sentisse.

    Nosso povo enganado e amortecido, nossa cidade enfeitada de vacas, todas lindamente pintadas pelas Avenidas Paulistas de patos e gado, segue ruminando, recolhendo-se todo dia ou noite ao curral longínquo onde rapidamente repousa para o retorno ao abate diário.

    Sim, a Avenida Paulista tem uma vaca em cada esquina, toda pintada, todos os anos como um símbolo da mais evidente submissão desse povo bovino  que acha que aquilo é arte. É a importada “cow parade”. Um escárnio.

    Mas, estamos combatendo a corrupção.

    Que se quebrem as louças, pisem o jardim, enfiem-se os pés na nossa porta e se  arrebatem os nossos bens na sanha justiceira. Autoridade é pra isso.

    Pobre Dilma, enganou-se.

    Ratos graúdos atacaram  a dona da casa em pleno dia de limpeza e a expulsaram. Fizeram a festa.

    E , corrupção perseguida é corrupção fortalecida. Com a casa tomada os ratos ficam à vontade.

    Os modos de surripiar tornam-se mais sofisticados. Não há coisa que desafie  mais  “animus furandi” do que dificultar a sua prática.

    Não há surpresas. Ratos fazem o que têm que fazer. Fizeram na Grécia, na Espanha, na América, na Ásia, em todo o mundo o fazem diretamente ou por sorteio.

    Só o povo brasileiro, como um bom gado, teima em não romper a cerca.

    Então, vivamos nossa paz bovina e recuperemo-nos, pois muito ainda temos para perder. Somos ricos.

    Aqueles que nos exploram já perderam tudo, Senador.

    Abraços.

     

     

  3. Discurso eloquente.

    Requião volta a tribuna do Senado para afirmar sua correta premonição dos fatos decorrentes do impedimento da Presidenta Dilma. Traça perfeito retrato das agruras dos brasileiros nestes tempos de ódio, de globo-moro, de degradação civilizatória atuais. Certamente este discuso antológico, inscrito nos anais do Senado será prova no futuro da existência de opositores lúcidos a esta enorme manada de criminosos oportunistas ou desavisados que se instalaram no poder e destroem o Brasil, sem contestação dos nossos guardiões.

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