Steve Bannon: ‘Agora que está livre, Lula vai virar um imã para a esquerda global’

Estrategista da extrema-direita ainda se referiu ao ex-presidente como um "rockstar internacional", dividindo o mundo entre os "globalistas" e "nacionalistas populistas"

Jornal GGN – “Há uma revolta populista nacionalista em escala global em nações individuais e uma ordem de demônios, da ordem estabelecida, vai lutar até a morte porque entende que, se nós ganharmos, vamos colocar os corruptos fora do jogo”. A frase, com termos fortes, é de Steve Bannon, em entrevista para a BBC News Brasil.

Bannon é o ex-estrategista-chefe do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e tem colaborado com ele e outros políticos de extrema-direita que ascenderam ao poder nos últimos anos, entre eles o brasileiro Jair Bolsonaro.

Fortemente ligado a teorias conspiratórias, e organizador da onda de movimentos extremistas em vários países, Bannon defende uma imagem de mundo dualista: a dos globalistas, representados pelos grupos que desejam manter o status quo, supostamente liderados pela esquerda, contra os nacionalistas populistas, representados pelos líderes da direita, como Donald Trump, Bolsonaro, Matteo Salvini (Itália) e até Viktor Orban (Hungria).

Bannon disse à reportagem da BBC News Brasil que, assim como o Brexit, movimento de separação dos Reino Unido da União Europeia, a eleição de Donald Trump, em 2016, e de Bolsonaro, em 2018, “são fatores intrinsecamente ligados”. “Você vê as mesmas coisas acontecendo”, completou.

“É irônico que no Halloween, em 31 de outubro, eles [parlamentares da oposição] votaram para formalizar o processo de impeachment nos EUA no exato mesmo dia em que o Reino Unido não deixou a União Europeia como previsto, três anos depois [do referendo do Brexit]. E o voto da nova eleição geral do Reino Unido, em 12 de dezembro, vai provavelmente acontecer a poucos dias do voto do impeachment contra Trump (…) Então, essas coisas mostram a ordem estabelecida se recusando a reconhecer o poder desse movimento populista e nacionalista”, prossegue em seu raciocínio.

Ele foi questionado sobre o cenário no Brasil. Em sua avaliação, o Judiciário, ao tomar uma decisão que beneficiou o ex-presidente Lula, que pôde sair da prisão, agiu no sentido de compactuar com os globalistas e contra o populismo nacionalista.

“Agora que está livre, Lula vai virar um imã para a esquerda global se intrometer na política brasileira. Ele é o ‘poster boy da esquerda globalista’. Entre todos no mundo, ele é o maior ídolo, agora que Obama está fora da política. E até Obama se referiu a ele. Com Lula, toda a corrupção antiga vai voltar”, disse.

“As forças antidemocráticas ganharam, elas tiraram as pessoas do caminho”, afirmou. Para Bannon, liberto, Lula “vai levar o Brasil a uma crise constitucional, porque agora há um líder ativo da oposição, que deveria estar preso, agora solto e pronto para dar fôlego a seu grupo e tentar impedir tudo o que Bolsonaro está tentando fazer.”

Na entrevista, Bannon se refere ao ex-presidente petista como “o esquerdista mais celebrado da história do mundo”, que instalou no Brasil o que ele chama de “reino do terror financeiro e da corrupção”.

Bannon ainda se referiu ao ex-presidente brasileiro como um “rockstar internacional da esquerda globalista”, mas não deixou de lado os ataques:

“Lula é uma figura trágica. Dado de onde veio e sua ascensão política, havia muitas, muitas coisas boas que ele estava fazendo. Mas ele é alguém que foi corrompido por dinheiro e poder. É evidente e, para mim, isso agora vai causar uma enorme perturbação política no Brasil”.

Por outro lado, Bannon prevê que, a soltura de Lula, irá fortalecer “as forças populistas” favoráveis à Bolsonaro. “Acho que isso é um tiro que ajuda a consolidar o controle de Bolsonaro e colocar um senso de urgência a seus seguidores”, pontuou.

O repórter da BBC News Brasil, Ricardo Senra, questiona sobre o escândalo das candidatas laranjas no partido que elegeu Bolsonaro e se existe um risco de o presidente brasileiro partir para o autoritarismo, lembrando da recente manifestação de Eduardo Bolsonaro sobre a possibilidade de um novo AI-5. O GGN tomou a liberdade de publicar esses trechos do debate entre Bannon e o jornalista na íntegra:

BBC News Brasil: O Sr. falou em corrupção. O PSL, partido de Bolsonaro, é investigado nesse momento por mau uso de recursos durante a eleição e no pagamento a assessores.

Bannon: Também aconteceu com o presidente Trump. Isso é non-sense, tudo o que está acontecendo é tangencial às mesmas coisas que aconteceram com Trump. Lula é corrupto. É por isso que ele é tão hipócrita. ele veio da pobreza e em algum momento foi idealista. Ele é a trágica figura da modernidade, que é corrompida pelo poder, dinheiro e influencia. Lula foi corrompido e estava preso por sua corrupção e por essencialmente permitir que todos fossem corruptos no governo Dilma. Mas isso (investigações contra Bolsonaro e o PSL) vai ser rapidamente contestado.

BBC News Brasil: Mas, diferente do que acontece com o presidente Trump, Bolsonaro está tendo problemas sérios com seu próprio partido. Ele teve discussões duras e públicas com o presidente do Partido…

Bannon: Isso não é verdade, isso não é verdade.

BBC News Brasil: Mas o próprio presidente admitiu que pode deixar seu partido…

Bannon: Trump teve enormes problemas com seu próprio partido. Outro dia, (o ex-senador republicano) Jeff Flake disse que, se o voto fosse secreto, 35 senadores republicanos votariam pelo impeachment. O establishment do partido republicano tolera Trump, não apoia Trump. E lembre-se que Boris Johnson e Nigel Farage (líder do Partido Brexit) apanharam do establishment do partido Conservador, os manda-chuvas do partido não querem um partido nacionalista populista. O mesmo establishment está fazendo isso com Bolsonaro. Tudo está intrinsecamente ligado. há uma revolta populista nacionalista em escala global em nações individuais e uma ordem de demônios da ordem estabelecida vai lutar até a morte porque entende que, se nós ganharmos, vamos colocar os corruptos fora do jogo.

BBC News Brasil: Mas, o que o Sr. está propondo? Se, nas suas próprias palavras, os partidos dos políticos que o Sr. defende são ruins e corruptos, qual é a saída?

Bannon: É preciso haver reformas contínuas. Transparência contínua.

BBC News Brasil: Centralização do poder?

Bannon: Sou o primeiro a dizer que deve haver reformas enormes em Washington. Há o termo “drenar o pântano”, que não uso porque acho meio etéreo demais, mas é preciso tirar da classe política os lobistas. O mesmo no Brasil e no Reino Unido. Lembre-se que a razão pela qual o Brexit não aconteceu foi porque os políticos não quiseram.

BBC News Brasil: Para muitos, a onda da direita nacionalista populista estaria se desfazendo mais rápido do que se imaginaria a partir de todos estes eventos que o Sr. cita.

Bannon: Eu digo a você que as mesmas pessoas me falaram isso quando eu comecei. Isso é ilusão. nós ainda estamos nos primeiros passos, isso é uma revolução global. Você vê isso ficando mais e mais forte.

Nem teremos todas as vitórias. Salvini vai voltar. Vamos ter obstáculos no caminho, tivemos obstáculos no caminho com o Brexit, tivemos obstáculos no caminho com o impeachment de Trump, tivemos obstáculos no caminho quando deixaram Lula sair da prisão.

BBC News Brasil: Mas e na Argentina (com a eleição de Alberto Fernández)?

Bannon: Tudo bem. Tudo bem. Aliás, as pessoas agora, e você vê isso, estão prestando atenção na diferença entre nacionalistas e globalistas a cada eleição. As mesmas pessoas que não nos deram crédito no começo estavam errados naquela época e estão errados agora. O grupo que diz que o movimento está enfraquecendo é o mesmo grupo de defensores da ordem estabelecida que estavam errados no começo. Eu sei que a BBC, a The Economist, o Financial Times, o New York Times, iriam todos amar ver o movimento acabar. Mas não vai acabar. Vai ficar mais forte todos os dias.

BBC News Brasil: O cenário que o Sr. está descrevendo, e não eu, é de desafios para os principais líderes do que o Sr. chama de movimento nacionalista populista. Se eles ficarem isolados, isso pode resultar em uma escalada em autoritarismo? O Sr. deve ter acompanhado o que aconteceu com Eduardo Bolsonaro…

Bannon: Você pode descrever assim, porque você é o partido da imprensa opositora. Entendo que vocês vejam (o líder húngaro Viktor) Orban, Trump e Bolsonaro caminhando para a repressão, mas as pessoas do nosso lado não vêm assim.

BBC News Brasil: Não, eu quero trazer um exemplo prático, me deixe completar. Eduardo Bolsonaro, o Sr. o conhece muito bem…

Bannon: Muito bem, sim.

BBC News Brasil: Eduardo Bolsonaro mencionou o AI-5, que foi um dispositivo usado usado na ditadura militar no Brasil para fechar o Parlamento, tirar mandatos de políticos, caçar ministros da Suprema Corte, usar tortura contra inimigos políticos como uma ferramenta possível no caso de a esquerda se radicalizar ou voltar ao poder.

Bannon: Mas você está usando um exemplo extremo.

BBC News Brasil: Não, o exemplo foi usado pelo filho do presidente, não eu.

Bannon: Mas você está interpretando de forma extrema. O que eu acho que ele está dizendo é eles não vão permitir que essa eleição seja derrubada por meios não democráticos e que certamente não vão deixar o Judiciário, junto a Lula, tentar por meios não democráticos reverter as eleições.

Não há nada de anormal, no que ele diz, ele está apenas afirmando um fato básico e acho que Eduardo Bolsonaro está 100% correto, como Trump está: as forças antidemocráticas, as forças fascistas são as do establishment contra o Brexit, do impeachment contra Trump e agora vejo o mesmo no Brasil: deixar alguém corrupto dos pés a cabeça sair da prisão para essencialmente ameaçar Bolsonaro. É o que vai acontecer. Isso é antidemocrático. nós tivemos eleições e a ordem estabelecida perdeu. Mas eles se recusam a deixar que a voz das pessoas seja respeitada.

BBC News Brasil: No Brasil, esta foi uma decisão da Suprema Corte. Uma decisão de 11 juízes. O Sr. está dizendo então que a Suprema Corte brasileira trabalha contra o presidente Bolsonaro?

Bannon: Acho que é bastante evidente. Que a Suprema Corte está tentando ajudar a reverter o mandato que Bolsonaro tem com uma vitória arrebatadora em 2018. Não tenho dúvidas sobre isso. não sou brasileiro, mas como um observador externo, não há dúvida de que Lula é corrupto e deveria ficar muito tempo preso.

*Clique aqui para ler a reportagem da BBC na íntegra

Redação

9 Comentários

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  1. Bannon, um ninguém que fez a vida espalhando mentiras, está preocupado com Lula, em gigante no cenário eleitoral brasileiro e no palco político mundial. Coitado do gringo. Lula não vai nem tomar conhecimento da medíocre existência dele.

  2. Afirmações categoricas sobre o que ele não conhece. Essa é exatamente a tática de Trump na presidência. Logo Trump, o político mais corrupto a chegar a casa branca em décadas. Nunca ganhou dinheiro honesto na vida.

  3. O mundo se encaminha para a demolição dos sistemas representativos do povo (chamados de democracia). O grande capital nunca lucrou tanto e já perceberam que o seu liberalismo dentro do sistema democrático não é viável. Ou vão pelas ditaduras (que já não funcionam) ou através de criações de crises representativas e governamentais, vão criando mais e mais ojeriza popular ao sistema político e desesperança às novas gerações. O jovem anda cada vez mais iludido e após terem acreditado que o mundo seria regulado via aplicativos já vão notando que os gestores destas plataformas querem este mesmo mundo controlado pela nova elite desumanizada, bem remunerada e com as armas tecnológicas e de fogo. Acresça-se a isto o declínio de recursos, com os esperados problemas com as mudanças climáticas e está formado o solo fértil para os que criam a divisão, crises e terrores. Steve Banon é apenas um símbolo.

  4. Um vampiro com sede de sangue vomitando um discurso hipócrita para seu público de asnos.
    Figuras das trevas como este indivíduo, têm em Goebbels seu grande mestre. Afinal, a frase abaixo (junto a das mil repetições da mentira) resumem toda verborragia desta direita infame
    “Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito”
    (Joseph Goebbels).

  5. Meu receio é que esta extrema direita reslouada mande bala no Lula. Eles não vão se conformarem com sua liberdade andando e pregando em caravanas pelo Brasil.
    Isto para eles vai ser a total desmoralização qdo ele carrear milhões de seguidores e o Bolsonaro ficar acuado em Brasilia sem poder sair!
    Todo cuidado é pouco pois bala perdida, sempre encontra seu destino!!!!
    E no caso de Lula é mais que certeira. Vide os atentados contra a caravana antes das eleições passadas!!!

  6. Bannon é um Hitler moderno e com tal deveria ser denunciado pela esquerda continental. Não é brincadeira o que falou sobre Lula. Perturbações significam que são facilmente resolvidas…A mensagem é clara. Meia palavra basta. O que está acontecendo na Bolívia prenuncia uma nova era. A via judiciária já foi exaurida.

  7. Para o debate: (esse conservador está “na dele”, professando uma visão inacreditável do mundo…) o que ocorre na Bolívia não será um terrível laboratório para o bolsonarismo? Pensem no que a extrema direita pode estar projetando para 2022. Com milícias, as cúpulas das forças armadas…..2018 poderá parecer quase uma brincadeira de criança! Há bons artigos, aqui, sobre o que a esquerda precisa levar em conta. Fato é que são diferentes os cenários, observando-se cada país da América do Sul. No Chile, agora à noite, Piñera cedeu à necessidade de uma nova Assembleia Constituinte. E quer um pacto social entre empresários e trabalhadores de lá, com as respectivas forças que os representam dando o aval. Será que o campo progressista na terra de Pablo Neruda e Salvador Allende construirá sua unidade, defendendo um programa que desmantele, em essência, o modelo pinochetista?

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