Temer tenta sair da areia movediça agarrado ao próprio cabelo, por Jeferson Miola

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Temer tenta sair da areia movediça agarrado ao próprio cabelo

por Jeferson Miola

No segundo pronunciamento desde a detonação da crise que pode ser terminal para seu governo, Temer faz como o desesperado que está chafurdado na areia movediça: se agarra ao próprio cabelo, na vã ilusão de conseguir sair do atoleiro.

Ele fez um discurso enérgico, incisivo e juridicamente bem orientado. Temer embarcou no barco oferecido pelo PSDB através da Folha e do Estadão – em contradição com a Globo, que pede a rápida renúncia dele – para questionar a autenticidade dos áudios com o empresário Joesley Batista e acusar fraude nas gravações.

A estratégia de defesa ficou clara: apelar para filigranas jurídicas [que não serão reconhecidas] para esconder o conteúdo e as práticas mafiosas reveladas nas conversas mantidas em encontro não registrado na agenda oficial, perto da meia noite, no Palácio Jaburu.

Um parêntesis: [um presidente formal da sétima economia do planeta, mesmo que não-eleito democraticamente, manter encontro com o maior empresário mundial da produção de carnes, em condições e horários tão extravagantes e extra-oficiais para tratar de corrupção e crime continuado, seria causa suficiente para o afastamento imediato].

No pronunciamento, Temer fez um ataque ao empresário denunciante que, por coincidência, é o mesmo mecenas que bancou a camarilha dele e do Cunha, Padilha, Moreira, Jucá e Geddel com milhões de reais para comprar a eleição de deputados e preparar o golpe de Estado com a fraude do impeachment.

Apesar do esforço, da preparação e do ensaio do usurpador Temer, soou como um discurso inverossímil.

Nenhuma pessoa de razoável inteligência; ninguém que tenha ouvido os áudios e visto o monitoramento feito pela PF dos momentos de entrega da propina de R$ 500 mil ao deputado Rodrigo Rocha Loures, preposto do Temer, e do repasse de R$ 400 mil à irmã do doleiro Lúcio Funaro, pode levar a sério esta pantomima ensaiada com advogados e marqueteiros e executada por ele.

O discurso serve unicamente para adiar a debandada de partidos políticos cada vez mais pressionados nas bases eleitorais e, por isso, tendentes a abandonar o barco.

Temer está totalmente isolado e sem condições de continuar ocupando a cadeira presidencial. O país está travado, e entrará numa espiral depressiva com sua permanência desmoralizada, agravando o desemprego e o caos social.

Temer ainda se mantém no cargo porque o PSDB, partido até recentemente presidido por Aécio Neves, um personagem investigado por crimes que vão da corrupção contumaz ao homicídio e ao narcotráfico, lhe dá aval.

Michel Temer e sua camarilha, que no dia seguinte à deposição perderiam o foro privilegiado que os blinda de investigações e condenações pelos múltiplos crimes cometidos, fazem o que qualquer criminoso desesperado faria: esperneiam.

A classe dominante momentaneamente está dividida, ainda não definiu a estratégia para o próximo período e o destino para o cadáver putrefato, mantido na UTI com o auxílio de aparelhos.

De um lado está a Globo, defendendo a renúncia do Temer e a continuidade do golpe e da agenda antipopular e antinacional através da eleição indireta do sucessor pelo Congresso ilegítimo e corrupto.

No outro lado estão os paulistas, ou seja, o centro dominante da oligarquia golpista capitaneada pelo PSDB, FSP e Estadão, que provisoriamente prefere manter o cadáver sentado na cadeira presidencial.

É certo que no momento devido, os dois blocos da classe dominante estarão juntos e unidos contra a democracia e viabilizando uma solução por cima para a continuidade do golpe, de costas para as aspirações da sociedade brasileira, que na quase totalidade [96%] pede eleição direta já.

A viabilização de saídas democráticas, que dêem início à reconstrução econômica e social do Brasil e à restauração democrática não se dará nos âmbitos do Congresso ou do judiciário, porque somente se confirmará se houver força das ruas e radicalização das mobilizações populares por diretas já e pelo fim das reformas antipopulares e antinacionais.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. E a narrativa “Temer nem queria ser presidente”???

    Se bem me lembro, a chegada de Temer à presidência veio acompanhada de uma narrativa de “sem querer”.

    Ele dizia que nem queria ser presidente… dizia que não queria ser reeleito… dizia que queria apenas colocar o Brasil nos trilhos… dizia apenas que foi algo ocasional… não tinha ambições de poder… era quase um fardo que ele aceitava carregar pelo bem do Brasil.

    Foi só aparecer motivos reais para sair do cargo que a narrativa foi abandonada imediatamente…agora ele se agarra como pode ao cargo… que é um direito dele… ninguém vai tirar isso de mim!!!

    NÃO RENUNCIAREI!!! REPITO!!! NÃO RENUNCIAREI!!! Eu nem queria mas agora eu quero e muito!

  2. O golpe paulista

    Isto tem que ser lembrado. A história não perdoa.

    Temer o representante da elite paulista.

    O JBS pagou os jatinhos para os deputados se deslocarem a Brasília para derrubar o governo Dilma.

    E os deputados-palhacos que votarm em nome da família. Tem coragem de olhar agora nos olhos de seua famílias?

    Fiesp, estadão, veja, folha, edir macedo etc.

    Um milhão na Av. Paulista. 

  3. Mesmo roteiro
    Os únicos presidentes eleitos que conseguiram terminar o mandato, foram FHC e Lula. Os dois de São Paulo.
    Collor e Dilma, como não eram de São Paulo, foram derrubados.

    Collor classificou Ulysses Guimarães (PMDB-SP) de “senil, esclerosado e bonifrate de interesses de grupos econômicos de São Paulo”.

    1992 – Golpe parlamentar no Collor para assumir o vice do PMDB, Itamar, que foi apenas um trampolim para o PSDB de São Paulo assumir em 1995.

    2016 – Golpe parlamentar na Dilma para assumir o vice do PMDB, Temer, que é apenas um trampolim para o PSDB de São Paulo assumir em 2018.

    Curiosamente, o dois presidentes da Câmara(ambos do PMDB) que aceitaram o pedido de impeachment, tiveram o mesmo fim. Foram cassados e substituídos por alguém do PFL/DEM.

    É o mesmo filme.

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