A mulher e o carcereiro 4, por Giselle Mathias

Chegamos ao final, e parece que ao fim mesmo.

Chegamos ao final, e parece que ao fim mesmo.

A mulher e o carcereiro 4

por Giselle Mathias

Chegamos ao final, e parece que ao fim mesmo.

A jornalista tem muita personalidade, é firme e consciente de si, mas também tem suas fragilidades, já teve seus amores, frustrações e rejeições como todo ser humano, mas aprendeu a encarar a vida levemente, e criou boas amizades no decorrer da sua história com esses homens que tentaram algemá-la, mas não conseguiram, e foi o que ela tentou fazer com o carcereiro.

Após a estranha conversa que tiveram, em que ele reclama de ter levado um fora, a jornalista decidiu escrever no whatsapp, porque ele desligara o telefone e não permitiu que ela argumentasse, encerrou repentinamente a conversa. Então, ela tentou explicar que não houve um fora, nem rejeição dela por ele, pois não havia relacionamento algum, eles apenas tinham ficado juntos por duas vezes, e a sua decisão após a revelação dele era para sua própria preservação, pois percebera que estava se envolvendo emocionalmente, e jamais se colocaria em algo que não fosse recíproco, nem disputaria o afeto de ninguém, porque não acredita em conquista, mas em escolhas.

Parece estranho ela ter se desnudado assim para ele, já que nos colocava a consciência de cada atitude dela diante daquele homem, mas depois eu entendi, porque só é possível trazer a luz do sol, retirar as sombras, quando desvelamos a verdade de nós mesmos, e assim poderemos ver o que está posto como real, seja pela resposta recebida ou pelo silêncio imposto.

Então, ela decidira que apesar de não querer mais o que se apresentava como relacionamento amoroso, queria manter a troca de saberes, uma amizade, um relacionamento intelectual, com conversas interessantes sobre os temas que mais lhe agradam, ela queria manter o que mais a despertara nele, porque o afeto do desejo, no dizer dela, começava a se dissipar.

E, mais uma vez, após alguns dias de silêncio, ela volta a conversar com ele (claro que virtualmente, risos) como se nada tivesse sido alterado, ela percebeu que não havia espaço para uma conversa franca de adultos, mas ainda assim ela disse que tentou, por diversas vezes, pois como eu disse ela gosta de mostrar que o rei está nu, e nesse caso seria o carcereiro.

Mas, ela se deparou com alguém que não lhe permitiu a cartada final, a qual por inúmeras vezes lhe rendera boas amizades, pois a eles não faltou a coragem para esse enfrentamento proposto por ela. Disse que achou melhor deixá-lo em seu silêncio.

Não sei o porquê dessa decisão, talvez tenha tentado algo novo, diferente do que costumava fazer ou apenas um cansaço diante de ter sofrido mais uma tentativa de ser aprisionada em uma cela, recebendo migalhas e lhe sendo exigido o silêncio e a se satisfazer com o pouco que lhe seria dado. Mas senti na fala dela e no seu olhar o carinho e até admiração que ela ainda tem por ele, talvez até um certo pesar por não ter restado nada dele em sua vida, pois essa foi a decisão que ele tomou quando silenciou, e para ela só restou respeitar a vontade que ele externara. 

Ela tem muitas outras histórias que talvez conte em outra oportunidade, mas aprendi com sua história a importância de ser verdadeira, de não ter medo de me posicionar, de dizer o que quero e como quero e, principalmente, de aceitar o não do outro e de me abrir quando recebo o sim, se assim desejar, e nunca deixar que me coloquem em celas onde apenas ouvirei o ranger das portas quando abertas ou fechadas, os passos próximos que nunca chegam, os rumores subentendidos, as chaves tilintando e os poucos momentos em que o carcereiro chega na penumbra, lhe toca e afaga, e depois discretamente leva o dedo a boca em um gesto de silêncio e exige que se cale.

Giselle Mathias é advogada em Brasília e integra a ABJD/DF, a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF.

Redação

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