A vida não permite outro rasgo a não ser pertencê-la

para escutar leitura do texto: 110408_003

Hoje, ao ler os jornais, novamente aquele salto pensativo sobre: fantasia e realidade. Essa disposição vital em guardar espaços no próprio corpo para pensar a união e os limites entre ficção e realidade. Eu guardando lugar em meu próprio cotidiano para perceber as dualidades da vida. A morte nunca é dual, além de ser bastante taxativa, com dia, hora, local e razões, ao menos segundo os jornais.

A morte é dual apenas na literatura, sendo tratada durante a vida e no pulsar das palavras, de cada palavra traçada com vida, isso que exige sempre um desejo descomunal para se ver além de. Entende?

Ouvi dizer que para encontrar fantasia e realidade, a poesia cava com as mãos, o corpo, os olhos, principalmente. A literatura narra uma possível escavação ao absurdo de talvez não se encontrar, nem a voz, nem os personagens e nem mesmo a história. E, de novo, a falta. A busca como fundamental e o não encontrar sendo isso que faz girar o que ainda não se sabe se movimenta apenas por essa obsessão pela palavra escrita. Alguns diriam, certamente é o desejo, que virou até mesmo manchete de jornal quando se soube que um grande escritor prosseguiu com suas novelas por ter desejo em escrevê-las. Sim. Apenas o desejo, e não muito mais.

Ouvi dizer que trabalhar a escrita de ficção e realidade não rende mais do que a elaboração de uma possível expressão própria. Única, seria a palavra. Assim: isso que eu escrevo, dessa forma e com essa entonação, supostamente seria dito apenas por mim. Neste lugar absolutamente feito para escrever, ou um lugar apenas nublado como dias de inverno. Assim, se não mentíssemos tanto, se não fingíssemos ainda mais. Afinal, a vida não permite outro rasgo a não ser pertencê-la, e, se possível, cada um a seu modo. Ah. A padronização da vida virou manchete de jornal.

Redação

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