Por: Eliana Rezende
Vez por outra sinto um grande mal estar e algumas perguntas me vem a mente: afinal, quem é que precisa de um deus, um inferno, um céu, um diabo se todos nos habitam no grande cortiço de nossas almas?
Nos espreitam, acompanham, se insurgem e nos movimentam sempre e tanto!
Mas é interessante como em todas as tradições religiosas são colocados para fora e para além do indivíduo como se longe ou perto significassem domínio sobre as forças do além.
O Bem mantido próximo significaria bem aventurança e local certo e garantido num locus que alguns chamam céu, paraíso, mas que significariam perfeição e eternidade. Colocados num futuro ad eternum, o indivíduo passa uma existência barganhando e negociando favores e fazeres.
O julgamento ora feito pelos que compartilham a fé em sua imediaticidade, ou um deus onipresente e onisciente põe em xeque princípios mínimos de privacidade: nada escapa aos seus olhos.
Do outro lado há o Mal, colocado quase sempre na fronteira entre o ser e o mundo, representa uma presença permanente em frestas de ações ou pensamentos. Oportunista se vale de um jogo de sedução e sedição, buscando na barganha com os céus corromper algum ‘íntegro’ desavisado.
A negociação entre o que perde e o que ganha também é jogada para fora e para frente onde ninguém sabe ao certo quem é o juiz e quem é o oponente.
No mundo maquiavélico as pessoas se esquecem de que o cortiço da alma aceita e cabe de tudo um pouco.
Não é lá fora, ou distante nos dias que tudo ocorre.
Em verdade, no cortiço de nossas almas os gritos das lutas travadas ocorrem todo o tempo e às vistas de todos. Tudo o que acontece em cada compartimento está lá: basta olhar!
A lama, o lodo e todos os odores dos recônditos do cortiço de nossa alma estão ali.
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