Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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O que diria Thomas Hobbes sobre a fala de Moro no Senado?, por Fernando Castilho

O Estado, chamado por Hobbes de Leviatã, passou a criar leis e punir infratores. Um rei foi escolhido entre os proprietários de terras para governar

O que diria Thomas Hobbes sobre a fala de Moro no Senado?

por Fernando Castilho

Thomas Hobbes, o autor de Leviatã (1651), deu um pulo dentro de seu caixão, o que lhe rendeu um galo na cabeça.

Hobbes, em sua obra, descreve o surgimento do Estado e a necessária criação de um governo.

Há milhares de anos, quando o ser humano começou a deixar a vida nômade para se fixar em terras férteis, plantando e criando animais para sua subsistência, despertou a cobiça pelos bens que começava a acumular.

O medo de ser morto por alguém mais forte, mais bem armado ou mais inteligente era a tônica do período, pois sempre havia alguém de olho na terra que ele cercou para si e sua família. E quando havia o roubo de um animal ou o assassinato do dono da terra, a vingança quase sempre era desproporcional. “O homem é o lobo do homem”.

É o que Hobbes chama de guerra de todos contra todos.

Para que se conseguisse mais tranquilidade para as pessoas viverem, foi preciso que abrissem mão de parte de sua liberdade para delegarem-na a uma instituição criada para pôr ordem na casa, chamada de Estado.

O Estado, chamado por Hobbes de Leviatã, passou a criar leis e punir infratores. Um rei foi escolhido entre os proprietários de terras para governar e fazer o Estado funcionar.

Feito este preâmbulo muito raso sobre a obra, vamos falar sobre o motivo do galo na cabeça de Thomas Hobbes.

Na última quarta-feira, 22, o ex-juiz, ex-ministro, ex-sócio-diretor da empresa Alvarez & Marsal e atual senador da República, Sergio Moro, em discurso na tribuna do Senado, fez a seguinte afirmação: “se eles vêm para cima com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles têm metralhadora, nós temos que ter um tanque.”

Ora, Moro acabou de abolir o Estado!

Não, amigo leitor, o senador não é anarquista. Ele ainda vive no período da história pré-Estado.

Se Bolsonaro tentava nos impor uma agenda medieval, Moro defende uma agenda milhares de anos anterior.

Aliás, vem à lembrança uma cena do filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida em que o herói se depara com um homem vestido de preto exibindo suas habilidades com uma espada.

Irritado e sem paciência, Indiana tira uma arma e mata o adversário com um único tiro. Revólver contra espada, certo, Moro?

Chama muito a atenção uma pessoa que passou num concurso para ser juiz, desconhecer a origem do Estado que, com certeza, é matéria nas faculdades de direito de qualquer país.

Ao fazer esse tipo de afirmação, agora do alto de seu importante cargo de senador, percebemos o quanto esse homem é medíocre, despreparado e desavergonhado.

A prevalecerem as ideias do ex-juiz, teríamos de volta a guerra de todos contra todos e ele seria um daqueles que não conseguiria dormir por medo de que alguém invadisse sua casa e o matasse e a sua família.

Talvez o próprio PCC.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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