Pequena reflexão sobre o Brasil e a Amazônia, por Franklin Frederick

Com um misto de raiva, impotência, tristeza e vergonha vejo as imagens das queimadas na Amazônia

Foto: Araquém Alcântara
Pequena reflexão sobre o Brasil e a Amazônia ou
Um desabafo!
Por Franklin Frederick

(Recordando Jorge de Lima)

«Estai alerta: de súbito ela se tornará visível.
Estai alerta, portanto, desde o amanhecer do dia.
É Mira-Celi que vem para viver convosco
(…)
Se vossa mente possui alguma sinistra idéia,
não a vereis jamais.
Se vosso dorso se curvou a um tirano qualquer,
Ficareis cegos de nascença.
Porque Mira-Celi nunca se mostrará,
enquanto divisar manchas em nossa terra.»
Jorge de Lima (1893- 1953)

Com um misto de raiva, impotência, tristeza e vergonha vejo as imagens das queimadas na Amazônia. A mesma raiva, a mesma impotência, a mesma vergonha e a mesma tristeza com que vejo o que vem acontecendo no Brasil desde o golpe que derrubou a Presidente Dilma. E sei que ainda vai haver muita destruição e muito sofrimento, pois o que está acontecendo na Amazônia é apenas mais um passo, mais um movimento dentro da lógica de destruição do Governo Bolsonaro, a mais exemplar encarnação da ordem neoliberal e de sua guerra total contra a sociedade e a natureza. Não podemos nos enganar: ao lado da indignação manifestada no Brasil e em todo o mundo por causa dos incêndios na Amazônia, há também a indiferença à vida que exulta e calcula, desde agora, os lucros que virão com as minerações, com a expansão agrícola e com a exploração de todos os recursos naturais da cobiçada Amazônia. Para a ordem neoliberal – da qual o Governo Bolsonaro é um instrumento – qualquer barreira contra a expansão do capital deve ser removida, não há limites. Uma floresta viva, protegida, com recursos minerais intocados é, do ponto de vista do capital, uma barreira à sua expansão. E o capital sempre cobiçou as riquezas da Amazônia. As queimadas indicam que Bolsonaro e seu ecocida Ministro do «Meio Ambiente» (!!!) Ricardo Salles deram o sinal verde para a exploração total da Amazônia. Não é coincidência que as queimadas ocorram no momento em que o Governo anuncia seus planos de privatizar os correios, a Petrobrás e mais todas as estatais que puder, a lógica é a mesma: queimem-se a floresta e queimem-se os bens públicos, tudo pelo bem do capital.

O momento em que ocorrem as queimadas e o anúncio das privatizações foi escolhido com precisão. Os escândalos em torno do governo se acumulam, a ligação da família Bolsonaro com o crime organizado e as milícias é cada vez mais evidente, fala-se em impeachment. As revelações do The Intercept Brasil sobre a Operação Lava Jato colocam em dúvida a própria legitimidade da eleição que colocou Bolsonaro no poder. É neste contexto que ocorrem as queimadas e o anúncio das privatizações, ou seja, os sinais enviados por Bolsonaro para os donos do poder, o capital internacional, de que este pode contar com o seu governo para se locupletar com as riquezas públicas e naturais do Brasil. O capital agradece e, sobretudo, segue apoiando Bolsonaro na presidência do Brasil. O apoio que mantém Bolsonaro no poder esta apenas em parte do Brasil, o apoio REAL vêm de fora, dos que, junto com a grande imprensa, o sistema judiciário e grande parte do Congresso. colocaram o Brasil nas mãos de um administrador colonial submisso ao imperialismo dos EUA. E todos os que manipularam para colocá-lo no poder tem culpa pelo fogo que se espalha na Amazônia e por toda a destruição que já ocorreu.

Os trezentos e tantos mil empregos perdidos só no setor da engenharia graças à premeditada destruição das grandes construtoras pela Operação Lava Jato em cumplicidade com a grande imprensa não serão recuperados, pelo menos não num futuro próximo. Os cerca de sessenta mil hectares queimados até agora também não serão reflorestados, é uma riqueza natural perdida, provavelmente para sempre. O Brasil de hoje é bem mais pobre do que o Brasil de pouco anos atrás, o Brasil de antes do golpe, e não apenas economicamente. O Brasil de Bolsonaro é mais pobre de possibilidades, de futuro – um futuro melhor, hoje, com toda esta destruição, esta muito, muito mais distante. O Brasil de Bolsonaro é mais pobre de alegria, de civilidade e de cortesia. É mais pobre de matas e de água limpa. Sinto uma profunda tristeza em ver que tantos se enpenharam tanto para levar adiante este projeto de destruição do país, de constatar tanto ódio e tanto desprezo de tantos brasileiros pelo seu próprio país e pela maior parte de seu próprio povo. Sinto raiva e vergonha de que tudo isso tenha sido possível e que ainda vá continuar por muito tempo, pois sobre isso não me engano. Tenho certeza de que Bolsonaro vai acabar com o bolsonarismo, que um dia vamos nos livrar de tudo isso, deste ódio que se implantou, de toda esta destruição. Mas sei também que isso ainda vai levar tempo e que o Brasil ainda vai sofrer muito…

Me sinto desanimado, deprimido, me recolho e procuro ler alguma coisa que me ajude a me sentir melhor apesar de tudo. Nem sei mais quantas vezes eu já li mas, quase por instinto, releio «Invenção de Orfeu» do poeta Jorge de Lima, este longo e misterioso poema que, como «Grande Sertão:Veredas» são desses acontecimentos absolutamente inexplicáveis. Reencontro lá os versos premonitórios que eu tinha esquecido e que parecem ser uma mensagem sobre o nosso tempo, uma reflexão sobre as nossas escolhas e sobre tudo isso que estamos vivendo no Brasil:

«Há a luz que é sombra só porque quer ser,
que amanhece nas almas vigiando-as,
que anoitece nos dias benfazejos.
Há essa luz também, luz que nos cega
como dois sóis que nos deixam sob as pálpebras
a sensação de estarmos enxergando;
e somos cegos da cegueira funda
que se esqueceu da noite de onde vimos
e que não vê a noite para onde vamos.»

 

Redação

4 Comentários

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  1. A associação com fogo que estes governos neoliberais (incompetentes e de merda) têm é impressionante: o “governo”Temer queimou junto com o Museu Nacional (mas suas cinzas produziram uma metástase na sociedade); e a “administração” (tabajara) Bozo queimou na Amazônia.
    Que ambos (junto de seus puxa-sacos e bandidos agregados) queimem junto ao Maligno

  2. A associação com fogo que estes governos neoliberais (incompetentes e de merda) têm é impressionante: o “governo”Temer queimou junto com o Museu Nacional (mas suas cinzas produziram uma metástase na sociedade); e a “administração” (tabajara) Bozo queimou na Amazônia.
    Que ambos (junto de seus puxa-sacos e bandidos agregados) queimem junto ao Maligno

  3. AntiCapitalismo de Estado. O Estado Absolutista Ditatorial Esquerdopata Caudilhista Fascista combatendo a Sociedade Civil Brasileira ‘ Livre e Independente ‘. Como colocar cabresto numa parte da Sociedade Civil que progride e prospera sem as amarras do Estado Brasileiro. Dirão alguns, mas o Estado contribuiu para esta gente tomar conta do País que é seu !! Basta voltar a pouco mais de 20 anos e ver como viviam os Brasileiros abandonados no interior de RR, RO, PA, AM, AC, MT, TO, GO, MA e a tal da “ajuda do Estado Brasileiro”. PUM DO BOI não colou. MST não colou. Reforma Agrária onde é preciso trabalhar? Não colou. Lotes abandonados e vendidos numa Grilagem Absurda patrocinada a Legislação e Dinheiro Público. O Estado tentou com “Operação Carne Fraca”. Obrigado pela ajuda e pela propaganda gratuita, caro Poder Político e Público Brasileiro. Grande Incentivo!!! Não colou. Queimadas de 2 décadas atrás? Menor nível de queimadas nestas 2 décadas? Personalidades Internacionais jogando a favor dos ‘seus times’? Erram no lugar. Entendem muito de Brasil. Aliás, peçam para que encontrem o Brasil no Mapa? Pampa Gaúcho não é Amazônia !!!!! Estamos Nos livrando do cabresto. E isto incomoda Estados Absolutistas, aqui dentro e fora do país. Milhares que cagam diariamente no Rio Tiête, se juntam, para pedir a salvação da Amazônia. Salvem primeiramente as Criança e Narizes dos Cidadãos Brasileiros de Pirapora do Bom Jesus / SP. Não sabem onde fica? Tenho certeza disto. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

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