Outro dia, lia sobre os 30 anos sem Rubem Braga, e, principalmente, sem as suas crônicas nos jornais. Diziam, já não há espaço para cronistas. Decretaram a morte da crônica pela falta de leitores, hoje, supostamente pouco sensíveis a divagações.
Mas escreve-se, também, para se ter leitores para qualquer tipo de texto. Assim, cria-se leitores. Escreve-se não somente o que sabemos será lido. Há escritas insistentes até que o leitor venha, ou nasça. Diria, pertenço a este último grupo: há de se correr o risco de não ser lida. Nunca soube escrever de outro modo, a não ser com essa voz que parece não conseguir escrever e apenas pergunta a cada palavra. Essa voz com a qual escrevo para o jornal necessita a constante pergunta-sem-resposta.
Afinal, são os jornais que querem ser imediatamente lidos e necessitam tal imediato consumo. Entende-se, mas não se justifica a ausência dos escritores de textos inúteis nas redações. Pois é necessário ter espaço para escrever a falta de utilidade óbvia da escrita. Poder perguntar sobre o texto, o nosso lugar no jornal e a voz com a qual se enuncia. Como poder falar que estive, tantos anos, em uma escola clariceana, também hilstiana e beckettiana, erguidas apenas pelos meus modos de leitura; ou poder escrever no jornal que minha escrita deve estar sublinhado para que seja repensado seu lugar de posse. Pois qual escrita é própria, a não ser apenas as escolas de leitura que podemos erguer anarquicamente no aprendizado cotidiano da palavra que vem de outros livros.
Há poucos cronistas, possivelmente, porque os donos dos jornais não cedem espaço para textos inúteis como este. São os grandes jornais que precisam rever seu desejo por um comerciante de palavras. Se escrever significa também este impossível acordo com o lucro. Mas aqui, neste jornal que é um privilégio, diria: escrevo à espera de leitores, enquanto isso, oferto reflexões no silêncio próprio da palavra.
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A perseverança de autoras como você é que alimenta a esperança daqueles que, como Antonio Candido, defendem o direito à literatura e seu papel humanizador.
Dias atrás publiquei neste mesmo Jornal GGN um artigo lembrando a vida e obra de Carolina Maria de Jesus e outro sobre a defesa do direito à liberdade encampada por Antonio Candido.
Eu li o texto "inútil". Presente!
Bonito, Maíra. Concordo com você. Abraço.