Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Tiradentes e o Descobrimento, bom como?, por Rui Daher

A História não conta, a lenda sim, ainda mais se me vem do céu. Relato-a conforme Ariano Suassuna o fez, pedindo confidencialidade.

Tiradentes e o Descobrimento, bom como?

por Rui Daher

A História não conta, a lenda sim, ainda mais se me vem do céu. Relato-a conforme Ariano Suassuna o fez, pedindo confidencialidade. Afinal, iria falar de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nominado, em 1965, pelo presidente Castello Branco, Patrono da Nação Brasileira. 

Desvencilhei-me: 

– Mas ele não foi o mártir, herói da Inconfidência, coisa dessas? Então.

– A senhora que me contou pediu encarecidamente não divulgar.

– Concubina, por acaso?

– Algo assim. Acompanhou-o, no anonimato, até o enforcamento, no Rio de Janeiro, em 1792. Ele estava com 45 anos e, segundo a donzela, tinha uma bela corda, ou cobra, não entendi bem. Deu uma piscadela.

– Como hoje, aqui, no cercadinho? Quero ouvir mais, Ariano.

– Aconteceu num sábado de manhã. Para mostrar sua força, a Coroa Portuguesa fez o dentista e alferes seguir do presídio ao patíbulo, acompanhado de toda a tropa local e de uma fanfarra.

– Milícias, porventura? 

– Não fui informado. A senhora conta que, apesar de arrancador de dentes sem anestesia e milico, Zéquim era querido pelos brasileiros natos, como ele, minerin’. Logo passou a se referir a ele como pessoas de ótimo humor, galhofeiro, e rápido nas respostas e piadas.

– Tô começando a gostar dele, embora uma das frases que li, durante a ditadura, escrita num muro do cemitério do Araçá, em São Paulo, “Morte aos Dentistas”, me fez rir bastante.

– Vais rir mais. Seguia o cortejo, como procissão, padres em pencas, quando passou um gajo carioca, completamente bêbado, provavelmente saído de um inferninho do centro do Rio, aproximou-se do barbudo, cabeludo e andrajoso condenado, e acenou alegre: “Bom dia, senhor”. Pra quê?

– Vixe!

A senhora disparou a rir.

– Zéquim enfrentou mais de dez soldados, tentava loucamente se livrar das cordas que prendiam suas mãos, e berrava:

“Bom pra quem seu bêbado rastaquera? Praquela puta Rainha-Mãe que assinou minha sentença? Lesa-majestade é o caralho. A vaca é que nos lesa com impostos e leva nossas riquezas pra enfiar no rabo dos portugas! Ô Dona Maria I, não quero clemência ou degredo, mas, porra, não poderia ter deixado a execução para amanhã, quando se celebra o Descobrimento desta colônia pastosa em fezes?”

– Zéquim tinha muita coragem. Não queria ser deslocado do descobrimento da Federação de Corporações que, sabia, duraria séculos até hoje enfrentar um vírus e um verme.  

– Tal reação, Ruizinho, fez com que, depois de enforcado, tivesse seu corpo esquartejado, cabeça pendurada em um poste em Vila Rica. Arrasaram sua antiga casa e salinizaram o terreno para que nada lá mais lá germinasse.

– Ariano, se foderam, pois quando visitei a região, vi atividades agrárias e minerárias excelentes. Não levaram. Este o motivo que não dou mais bons dias, tardes ou noites, pra ninguém. Nem respondo ou agradeço. Do jeito que estamos no Brasil, o que serão bons dias, tardes e noites? 

Inté, professor. Império Serrano, em 1949.

https://www.letras.mus.br/imperio-serrano-rj/473125/

https://www.youtube.com/watch?v=PIWbrbcjkw0

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

3 Comentários

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  1. Até o golpe militar que transformou este país numa república, Tiradentes não era visto como herói nacional, muito pelo contrário. Sua elevação ao posto foi iniciativa dos militares pois que, entre os inconfidentes, era o único da espécie. Interessante seria invocar seu espírito só pra saber o que ele pensa do “heroísmo nacionalista” dos nossos militares hodiernos.

    1. Mais um Bandido Mineiro elevado à Mártir. Queria roubar a Coroa e foi transformado em Inconfidente. São vários. Tem o Lunático que vendeu a Nação, enterrando-a em dívidas e inflação, para construir seu Sonho Megalomaníaco de nova Capital. Lacaio do outro, Familiar do Ditador Fascista, que implementou e prolongou o Estado Absolutista para tornar-se uma espécie farsante de Pai da Redemocracia. Filinto Muller manda lembranças a todos. Quem não vale nada é Ustra?! Sabemos. Revisionismo Histórico transformou 90 anos de tragédias e crimes produzidos por seus Heróis. Foi buscar farsantes até em séculos passados. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  2. Está coerente o governador, embora eu discorde completamente. Se ele acha que foi golpe, tem tudo a ver dar a medalha Tiradentes aos dois mais recentes golpistas do país: Temer e Moro

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