A maldição de “Blade Runner – O Caçador de Androides”

Clássico do cinema de ficção científica, “Blade Runner – O Caçador de Androides” (1982) é marcado por coincidências significativas que muitos interpretam como uma “maldição”: as empresas que colocaram seus logos e produtos no filme tiveram ao longo da década problemas financeiros, queda de receita ou simplesmente faliram. Sabendo-se que o filme foi baseado no livro do escritor gnóstico Philip K. Dick e o título do filme retirado de livros dos autores undergrounds William Burroughs e Alan Nourse, propomos uma hipótese sincromística: poderia o filme “Blade Runner” ter se tornado um cavalo de Tróia que sob uma embalagem comercial inoculou em Hollywood uma egrégora gnóstica de contestação aos demiurgos corporativos?

Pesquisando o campo do Sincromisticismo e motivados pela nossa última postagem do blog sobre as estranhas coincidências nas últimas tragédias em Washington (vela links abaixo), resolvemos voltar nossa atenção para estranhas coincidências que podem ser encontradas no campo da produção cinematográfica. É uma área rica em sincronicidades ou “coincidências significativas”, talvez por trabalhar com tantos arquétipos, formas-pensamento e egrégoras do inconsciente coletivo da humanidade. Muitas vezes esses sincronismos são popularmente denominados como “maldições”.

Um dos mais conhecidos são as coincidências que envolvem o personagem do Coringa na série Batman, principalmente após a morte do ator Heath Ledger: a sombra do poderoso arquétipo teria feito mais uma vítima, suspeita que ficou ainda mais forte após a declaração do ator Jack Nicholson: “Eu o avisei!”. Nicholson já havia interpretado o sinistro personagem no “Batman” na versão de Tim Burton (1989) e parecia saber de algo mais.

Isso sem falar das sincronicidades entre esse personagem e o infame massacre da cidade de Aurora, Colorado, em 2012 onde um atirador realizou uma série de disparos em um cinema onde estreava “Batman, O Cavaleiro das Trevas”. O autor teria declarado para a polícia ser o Coringa – veja links abaixo.

Ou então, a chamada maldição do filme “O Exorcista” (1973) sobre as mortes que ocorreram durante a produção e após o seu lançamento. Sem falar dos acidentes e o clima de tensão nos sets de filmagem.

No distópico filme de ficção-científica “Blade Runner – O Caçador de Androides” (Blade Runner, 1982) o foco da maldição é outro: estranhas coincidências cercaram as empresas que colocaram seus produtos no filme com finalidade mercadológica – crises financeiras, perdas de receita e, o que é pior, falências.

A maioria das marcas dessas empresas aparece no filme nas sequências em que os veículos voadores (spinners) circulam por entre os prédios de uma sombria Los Angeles, em meio a gigantescos painéis luminosos publicitários.

Em um deles há um estranho anúncio japonês em que uma japonesa em estilo gueisha engole uma pílula dizendo “Iri Hi Katamuku” que literalmente significa “o pôr do Sol afunda”. E parece que afundou mesmo para muitas empresas que viram no filme de Ridley Scott uma oportunidade mercadológica de colocação de produto.

Quais empresas foram atingidas pela “maldição”?

(a) Para começar a RCA, que até então era o conglomerado líder em eletrônica e comunicação, foi comprada pelo conglomerado da General Eletric em 1985 para mais tarde ser desmantelada;

(b) O Atari, que dominava o mercado de vídeo games à época do lançamento de “Blade Runner”, nunca mais se recuperou da recessão do ano seguinte, e na década de 1990 passou a existir apenas como uma marca. A Atari hoje é uma empresa totalmente diferente, usando apenas o antigo nome da ex-empresa;

(c) A Cuisinart, conhecida fabricante de pequenos utensílios de cozinha e processadores de alimentos, faliu em 1989 para depois ressurgir sob nova propriedade;

(d) O monopólio da Bell System foi quebrado nesse mesmo ano: todas as operadoras regionais resultantes mudaram seus nomes e se fundiram para formar a nova AT&T;

(e) A Pan Am sofreu um atentado terrorista no voo 103 de um boein 747 que fazia a conexão Londres-Nova York. O avião explodiu a 10.000 metros de altitude sobre a cidade escocesa de Lockerbie causando 270 mortes entre passageiros, tripulação e habitantes da localidade. A Pan Am foi à falência em 1991;

(f) Embora seja extremamente popular, a Coca-Cola sofreu perdas após o fiasco comercial da introdução da New Coke em 1985.

Parece que essa “maldição” focava apenas empresas norte-americanas. Em uma sequência o personagem Deckard (Harrison Ford) compra uma garrafa de cerveja Tsingtao de um vendedor ambulante em um bairro oriental de Los Angeles. Embora desconhecida para os espectadores orientais, é uma cerveja chinesa popular com produção desde 1903. Passou intocável pela “maldição” e continua sendo uma das mais vendidas naquele país.

“Blade Runner” foi um cavalo de Tróia sincromístico?

O filme “Blade Runner” foi baseado no livro de Philip K. Dick “Do Adroids Dream of Eletric Sheep?”(1968). A ideia desse livro veio quando fazia pesquisa para o livro “The Man in the High Castle”. Dick tinha conseguido permissão para pesquisar os arquivos com documentos da Gestapo da Segunda Guerra Mundial. Ele ficou perturbado com a frieza e crueldade contidas na observação de um diário de um homem da Gestapo em serviço na Polônia: “Não conseguimos dormir toda noite por causa dos gritos das crianças morrendo de fome”.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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