Deadpool, filme digno de um Oscar, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Há muitas coisas que podem ser ditas sobre este filme. A primeira e mais óbvia é que o herói é um anti-herói, pois  Wade Wilson não quer salvar ninguém além de si mesmo. No princípio do filme Deadpool ataca o vilão não porque ele  é malvado, mas porque quer recuperar a beleza do seu rosto, E mesmo quando resolve salvar alguém o anti-herói age por razões egoístas: Deadpool faz o que é necessário para impedir a morte de sua namorada. A mocinha não é lá grande coisa, mas é a parceira sexual dele. E ele sofreu bastante durante o período que ficou sem ela. Resumindo: amor de xana quando pega inflama.

O filme tem piadas sobre sexo, HQs, heróis, outros filmes e, é claro, sobre os próprios personagens. Algumas são boas, outras são banais e grosseiras. Mas o que domina a cena do início ao fim é a violência. O ex-militar que trabalha como mercenário, pegou câncer, aceitou o tratamento médico alternativo oferecido pelo vilão e se transformou num monstrengo que não pode ser morto, mata e mutila seus adversários do começo ao fim do filme. Entre uma violência e outra ele está fodendo com sua namorada.

Wade Wilson é um norte-americano típico com os problemas e as ambições de um norte-americano típico. Isto explica o sucesso do filme nos EUA. Muitos ex-soldados e mercenários norte-americanos certamente tem motivos para se identificar com Deadpool e fizeram fila para ver o filme.

Esta obra de Tim Miller é lamentável. O excesso de violência me causou náuseas. As piadas foram esquecidas assim que deixei o cinema. Deadpool me fez lembrar do filme “Meu ofício é matar” (1954 lançado em 1955). John Baron, personagem interpretado por Frank Sinatra, também é um ex-soldado, um “natural born killer” que como Wade Wilson trabalha como mercenário.

As semelhanças entre John Baron e Wade Wilson são grandes, mas a forma como eles foram tratados é bem diferente. O cinéfilo é levado a odiar o vilão de “Meu ofício é matar” e a gostar do anti-herói Deadpool. A violência de um é dramatizada e retratada de maneira negativa, a do outro é satirizada e transformada em algo perfeitamente aceitável.

“Meu ofício é matar” é considerado um filme B. O ganhador do Oscar em 1956 foi Marty, melodrama cujo protagonista é um é um açougueiro bonachão e solteirão que vive no Bronx, em Nova Iorque. Marty Piletti se sente rejeitado pelas mulheres e, por insistência da mãe vai a um baile. Lá ele conhece uma professora tão problemática quanto ele. O relacionamento de ambos é complicado, mas tudo acaba bem.

Deadpool custou 58 milhões de dólares, faturou 12,7 milhões de dólares num final de semana e poderá render até 65 milhões de dólares http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-119282/. Marty foi rodado com 350 mil dólares e faturou 4 Oscars. Infelizmente, não consegui levantar o custo e a bilheteria de do filme “Meu ofício é matar”.

A indústria do cinema norte-americano mudou desde os anos 1950, mas não necessariamente para melhor. O negócio se tornou mais rentável à medida que passou a explorar e a valorizar sexo e violência. O prejuízo para a dramaturgia me parece evidente. Nos dias de hoje um melodrama como Marty provavelmente não seria rodado. Se fosse provavelmente levaria o estúdio à bancarrota se custasse o mesmo que Deadpool.

Tim Miller conseguiu provar que quanto mais sexo e violência melhor. Também provou que a grande rentabilidade de um filme pode estar relacionada aos diálogos rasteiros e piadas grosseiras. Quando menos elaborada for a trama maior o sucesso de bilheteria. Depois da super exploração do nu feminino e masculino, o cinema norte-americano conseguiu finalmente ultrapassar o fundo do poço. Deadpool é o que existe de mais fino em matéria de baixezas. Alguém ficará surpreso se ele for indicado para o Oscar, vencer e entrar para a seleta lista que contém melodramas como Marty?

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

4 Comentários

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  1. Tudo misturado para dar no mesmo

    Vi o trailer, mistura de homem aranha com tartarugas ninjas e zumbis. Me lembro de quando assistia filmes de kung-fu, qualquer piscadela era para ver quem sacava antes, digo, socava antes. Filmes pouco inteligentes pois a violência virou o mote principal. Quem quer assistir não quer saber de história, é um vale tudo ou UFC. Engraçado que a maioria dos filmes onde tem muito tiroteio,  e como matar pessoas de outras ideologias está ficando  “politicamente incorreto”, agora acham pixels, zumbis, lobizomem, ets, monstros sa e etc. Tudo para manter o circo atratível.

  2. O autor nao é fã de HQ

    Fonte: http://www.seriemaniacos.tv/off-topic-deadpool/

    Criado em 1991 por Rob Liefeld e Fabian Niciesa, Deadpool acabou se tornando uma figurinha pop da Marvel. De vilão para integrante de variadas equipes do panteão da Casa das Ideias, o “mercenário tagarela” ganhou espaço e uma base de fãs que justifica todo o hype em cima de sua figura, mesmo sendo a encarnação do politicamente incorreto. Sua participação em “X-Men Origins: Wolverine” foi uma alegria que durou pouco, descaracterizando totalmente o personagem, uma surpresa nada agradável. Então com o anúncio dessa segunda empreitada nos cinemas minhas expectativas atingiram o chão. Apesar da massiva (e inteligente) campanha de divulgação e do empenho de Ryan Reynolds não coloquei fé nessa segunda adaptação. E quebrei a cara! “Deadpool” (2016) é talvez a melhor adaptação de HQs que a Fox já fez.

    O filme reconta a origem do anti-herói, limado por completo o que foi visto em “Origens: Wolverine”, conseguindo aliar ação, romance e a zoeira típica do personagem em um bom filme. Zoeira essa que começa nos créditos de abertura (jogando luz sobre os clichês de filmes de heróis) e termina na cena pós créditos (sim, há uma!), continuando durante todo o filme. O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (de Zumbilândia) não perdoa ninguém, fazendo piadas com tudo e todos. A linha do tempo confusa e a troca de atores dos filmes de X-Men, a atuação de Reynolds, Alien 3, Senhor do Anéis, Wolverine, Lanterna Verde e mais uma miríade de tiradas sarcásticas certeiras que mantem o ritmo frenético humorístico da película. A química entre o casal principal (Reynolds e Baccarin) é interessante e faz com que as sequencias românticas (com o habitual desvirtuamento ético) sejam um dos pontos altos do filme. O dia Internacional das Mulheres nunca mais será visto da mesma forma…. Outros personagens ganham certo destaque, principalmente Colossus (Kapicic), Negasonic Teenage Warhead (Hildebrand), Weasel (Miller), Blind Al (Uggans) e Ajax (Skrein) que mesmo sendo o vilão soa um pouco genérico as vezes.

    A ação é dirigida por Tim Miller de modo inventivo nos dois primeiros terços do filme, usando flashbacks, slow motion e quebra de quarta parede (marca registrada do personagem) para contar como chegamos ao momento do clímax, quando o filme descamba para a ação desenfreada regada a uma trilha sonora totalmente sarcástica. Falando na trilha, temos um efeito parecido com o de “Guardiões da Galáxia” com uma trilha repleta de hits de décadas passadas que caem como uma luva em momentos insólitos, criando pequenas pérolas ao decorrer da exibição. E justamente nesse terço final do filme que ele perde um pouco a força narrativa ao se render ao processo pasteurizado dos filmes do gênero. Mas não perde o brilho conquistado desde o começo. Deadpool é um grande acerto e um entretenimento de qualidade, mesmo apostando num humor tipicamente adolescente e um pouco apelativo. Quanto a censura, a classificação de 16 anos é mais do que adequada devido ao teor um tanto ácido para um público mais jovem. Há nudez e violência sim, mas nada que justifique os temidos “18 anos” na censura.

    O filme acerta por justamente trazer as características principais do personagem, a violência que seria verdadeira numa situação dessas e ao frear um pouco a mão, para tornar-se um filme mais generalizado, engessa a chance de se tornar uma obra prima por completo. Talvez se abraçasse de vez a “zoeira” o filme fosse bem melhor do que já é. O primeiro passo foi dado e possivelmente uma continuação, ou inserção em outras equipes, é quase certa. O filme é bom, vale o investimento do ingresso e garante umas boas risadas, mesmo sendo “mais do mesmo”, porém bem melhor do a Fox vem apresentando até agora. “A zoeira nunca acaba”. Teremos de esperar para ver…

  3. Lembrou me de ter detestado

    Lembrou me de ter detestado ambos “o” filme de Spike Lee e praticamente tudo de Tarantino porque a linguagem era tao vulgar e tao mal usada.  O trailler desse filme -que nao consegui assistir ate o final- nos traz a perola “mas voce ta com cara do lado de dentro de um reto”, entre outras.  So que “reto” eh palavra, digamos, “especializada” demais pro dialogo do filme e outra palavra eh usada.  Advinhem qual.  (Nem me leve a mal:  nao eh o “palavrao”.  Eh o USO especifico das palavras. Ou use palavrao bem usado e enderecado ou nao use:  ponto final.)

    Mais tarde, nem Lee nem Tarantino jamais tiveram -exceto especialissimas ocasioes- seus filmes na televisao e nao tem ate hoje:  o publico pra palavrao-substituindo-communicacao virtualmente nao existe.

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