Li “Feminino”, um livro de poesias do mineiro Ivan Cupertino Dutra.
Instigante. Por exemplo,
Poema II
O que somos senão lacunas?
seres desejosos e desejáveis
querendo sempre mais?
O que somos senão vazios?
Espaços incompletos, fragmentos,
retalhos de desejos somados?
O que somos senão silêncios?
Bocas e pernas e braços e mãos
na desesperada vontade de encontrar?
O que somos senão desejos?
Olhos tateando os outros olhos
à espera de um olhar?
O que somos
senão senões?
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
O prefácio de “Feminino” foi escrito por Lúcia Castelo Branco com o sugestivo título “A Feminina Voz do Silêncio” que é, por si só, uma gostosa peça literária. Um trecho:
“Ora, o paradoxo que reside na tentativa de dizer o indizível e, mais ainda, de dizer que o indizível não se diz, constitui-se num gesto tipicamente feminino, se considerarmos, com Lacan, que é de fato nessa esfera do inefável, do intangível, que o gozo da mulher se situa. Como exemplo dessa dicção do indizível, basta tomarmos os vários textos de Clarice Lispector, tipicamente femininos, para verificarmos como se podem produzir páginas e páginas, obras e mais obras acerca dos impossíveis da linguagem.”
Mais sobre Ivan Cupertino Dutra pode ser lido em
http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/ivancupertino/dados.pdf

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