No Ceará não tem disso não, por Walnice Nogueira Galvão

Brasil teve 21 escolas públicas com nota 10 nos anos iniciais em 2023, segundo dados do Ideb, 15 delas estão no Ceará

© DAVI PINHEIRO / GOV DO CEARA; REDENÇÃO

No Ceará não tem disso não

por Walnice Nogueira Galvão

Assim pontificou o grande Luiz Gonzaga, é verdade e dou fé. O Ceará é o estado do Brasil com melhor desempenho em ensino público básico.  Dentre todos os estados brasileiros, é aquele que detém o primeiro lugar no número de alunos diplomados do ensino médio que vão fazer o Enem. A proporção, altíssima, é da ordem de 89.9 % e foi medida no final do ano passado.

Expandindo o âmbito da indagação para lá das fronteiras do estado até a região: o Nordeste tem as únicas escolas do país com nota 10 no Ideb nos anos iniciais (do 1º. ao 5º.ano)

Indo da região até os limites do país: o Brasil teve 21 escolas públicas com nota 10 nos anos iniciais em 2023, segundo dados do Ideb, divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Todas as escolas estão na região Nordeste, com destaque para o Ceará, que chegou a 15 unidades com nota 10. Alagoas vem em seguida e Pernambuco logo depois

Antes que o leitor fique perdido no emaranhado das siglas, uma palavra sobre o Ideb e o Ioeb, ambos  objeto de tanta discussão: o  Ideb  é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, enquanto o  Ioeb  é o Índice de Oportunidades da Educação Brasileira. Em suma, grosso modo podemos equacionar o Ideb com o diagnóstico, enquanto o Ioeb mede a melhoria. E aqui vamos contar com a ajuda de Teresa Perez, diretora da Ong Roda Educativa e perita nesses índices.

Mais recente, concebido para reajustar o outro e atualmente na quinta edição, o Ioeb leva em conta dois tipos de indicadores.

O primeiro, de desempenho, é uma versão “corrigida” do Ideb. Tradicionalmente, o Ideb leva em conta 1) a taxa de aprovação e 2) a nota de cada estudante em uma avaliação externa e independente, a Prova Brasil. A versão utilizada no Ioeb é estatisticamente ajustada para reduzir os efeitos da condição socioeconômica dos alunos nas notas.

O segundo, de melhoria, envolve:

– quantidade de docentes com nível superior,

– duração da jornada escolar, 

– proporção de diretores que ficam vários anos na mesma escola

– percentual de crianças de 4 a 6 anos matriculadas na educação infantil

“O índice Ioeb tenta dar conta não apenas dos resultados em educação e não somente para um pequeno grupo, mas das oportunidades disponíveis para todas as crianças e jovens de um território”, explica Tereza Perez.

Uma boa panorâmica da questão é dada nos 4 episódios de um documentário, cujo título já encaminha o debate: Educação que dá certo. O documentário trata de perquirir as razões da existência, nas regiões mais pobres e atrasadas do país, de polos de excelência em escolas públicas. E isso entra ano sai ano.

Um dos lugares escolhidos é a capital do Piauí, Teresina. Nela se instala um paradoxo, De um lado, é a capital brasileira com menor PIB per capita. De outro lado, sempre quando comparada às demais capitais, sobressai como a que tem a melhor rede pública. Dentre todas as capitais do país, saiu-se com o melhor Ideb.

Em Alagoas, no município de Coruripe, a busca de melhoria necessitou de imaginação para configurar uma solução original. O objetivo perseguido e alcançado nos últimos anos foi duplo: trazer o péssimo ensino rural para o nível do ensino urbano, ao mesmo tempo concentrando numa única escola regional os alunos esparsos pela área rural

E o Ceará merece mais do que uma palavra, pois enche de assombro não só o Brasil como outros países, que ali vão buscar soluções. O Ceará é o campeão nacional de resultados, tanto na rede estadual quanto na municipal. Mas isso é consequência de mais de 20 anos de dedicação, pois a reforma iniciou-se em 2000/2001, e vem se aperfeiçoando desde então.

Um exemplo desse aperfeiçoamento constante é o Programa de Alfabetização na Idade Certa, de 2007, que fincou as bases da reforma que viria, com atenção aos seguintes pontos:

– Lideranças políticas engajadas com a Educação

– O Estado é responsável não só pela rede estadual mas também pela rede municipal.

– É preciso comprometer todos os agentes da mudança, de alto a baixo

– Foco na sala de aula

– Engajamento de toda a sociedade

Como eixo principal, a meta da continuidade, pois os resultados demoram a aparecer, o que exige perseverança.

Walnice Nogueira Galvão é Professora Emérita da FFLCH-USP

Leia também:

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Enquanto os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí vão aos poucos melhorando o seu ensino público aqui no Sul Maravilha o governador Tarcísio, cotado para ser candidato a presidente da República repassa a adminstração das escola para a tal de iniciattiva privada e nada faz para melhorar o nível do ensino, nem para criar escolas de tempo integral, absolutamente nada como é normal no bolsonarismo onde a ciência, o conhecimento, o ensino são mal vistos e a ignorância é saudada como uma virtude natural.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador