O livro “Crianças e Exílio- Memórias de Infâncias Marcadas pela Ditadura Militar”, revive relatos de crianças afetadas pelo período

Organizado por Nadejda Marques e Helena Dória Lucas de Oliveira, a obra não só preserva a memória de um tempo marcado pela repressão e pela violência, mas também dá voz aos sobreviventes

Crianças e Exílio – Memórias de Infâncias Marcadas pela Ditadura Militar- capa do livro
FOTO: Reprodução

Na próxima terça-feira (18), será lançado o livro “Crianças e Exílio- Memórias de Infâncias Marcadas pela Ditadura Militar”, da Carta Editora, uma obra que traz à tona relatos e lembranças de um dos períodos mais cruéis da história política do Brasil.

Organizado por Nadejda Marques e Helena Dória Lucas de Oliveira, o livro não só preserva a memória de um período marcado pela repressão e pela violência, mas também dá voz aos sobreviventes que foram atingidos, e revela como essas crianças foram “escondidas, caladas, silenciadas, banidas e ultrajadas” pela ditadura empresarial militar de 1964. 

Caco Barcellos, jornalista e escritor responsável pela análise da obra, se emociona ao lembrar dos relatos de infância dos exilados. “Chorei de alegria na leitura e releitura de cada história, surpreendido e emocionado pela escrita de rara beleza”, comenta o jornalista, que destaca como ficou tocado pela experiência vivida pelas crianças daquela época.

Segundo Barcellos, “Crianças e Exílio” é o resultado de uma grande reflexão e exercício de memória, que ressalta a brutal perseguição sofrida pelos filhos dos militantes revolucionários de esquerda. “Meio século ainda não apagou do cérebro daquelas crianças os gritos da tortura, nem o ruído do fuzilamento de seus pais, no dia em que se tornaram órfãs dentro de casa”, observa. 

A obra apresenta o impacto do exílio, com muitos dos relatos resgatando a lembrança do banimento forçado: a expulsão do Brasil, acompanhada de um doloroso processo das pessoas se acostumarem com uma nova realidade de vida clandestina, tanto no Brasil como nos países de acolhimento. 

Um dos relatos mais marcantes descreve: “Aprendi criança a ter respiração silenciada, imperceptível, a caminhar com passos suaves para fugir pelos telhados, a ter medo da própria sombra e a imitar a prática das corujas, um estado permanente de alerta.”

Além de detalhar como essas crianças, acharam forças e maneiras de aprender a lidar com emoções tão difíceis, como a dor e a solidão. 

“Chorei, chorei, chorei tanto, abraçado ao pescoço do Pancho, na despedida do meu querido cão vira-lata”, escreve um dos autores.

Enquanto outro conta como foi precisar mudar de país cinco vezes, se adaptar e aprender novos idiomas e a convivência com 32 cachorros. “Na solidão, aprendi a admirar os bichinhos perto de mim: os insetos, os voadores, as asas deles, as perninhas… eram meus únicos amiguinhos, os mais admiráveis e encantadores”.

Mesmo que estivessem vivendo um ‘inferno’ durante a infância, seus corações puros ainda conseguiram ter momentos especiais, como ir para a escola, Caco Barcellos destaca como foi importante o acolhimento de países de base socialista como Chile, Cuba, Suécia, já que a maioria das crianças foi alfabetizada em boas escolas públicas, teve acesso a academias de esportes olímpicos, universidades e formação profissional dentro destes países. 

“Na adolescência e juventude, muitos tiveram acesso gratuito às academias de esportes olímpicos, às universidades e à formação profissional em Cuba, nas áreas de cinema, música, literatura e diplomacia política”, afirma Barcellos.

Eles viveram tantas coisas, mas ainda assim, não conseguiam se esquecer de suas origens, por isso muitos mantiveram a esperança de um dia poder retornar ao Brasil. “Na lista dos desejos e sonhos durante o exílio, todos relatam saudades da pátria verde e amarela imaginada”.

O jornalista define “Crianças e Exílio- Memórias de Infâncias marcadas pela Ditadura Militar”, como um livro sobre as odisseias individuais de pessoas que foram condenadas a viver sem pátria. Todos unidos pelo sofrimento e pela resistência, portanto, essa produção não é apenas um relato de um período que entrou para a história, mas, uma nova esperança de recomeço e de deixar viva a mensagem, para que nunca mais aconteça.

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