por Bruno Mateus
Basta olhar atentamente. Nas fichas técnicas de importantes discos lançados nos anos 1970 e no início da década seguinte encontra-se o nome de um recifense de 79 anos, batizado Djair de Barros e Silva, mas popularmente conhecido como Novelli – o nome artístico veio em meados dos anos 1960 por ter feito parte do Nouvelle Vague, conjunto se apresentava em bailes e festivais de Garanhuns e cidades vizinhas. Não foram poucos os artistas que contaram com os serviços de Novelli, cujo baixo aparece em álbuns de Marcos Valle, Gal Costa, Elis Regina, Naná Vasconcelos, Tom Jobim, Egberto Gismonti, Nara Leão, Beth Carvalho, Edu Lobo, Chico Buarque, João Donato, Raul Seixas, Alaíde Costa, Ney Matogrosso, Simone e tantos outros.
Da turma do Clube da Esquina, Novelli gravou com Lô Borges (“Lô Borges”, ou o “disco do tênis”), Toninho Horta (“Terra dos Pássaros”), Beto Guedes (“A Página do Relâmpago Elétrico”) e, claro, Milton Nascimento. O baixista pernambucano integra a banda que registrou belezuras como “Milagre dos Peixes”, “Minas”, “Geraes”, “Milton & Chico” e “Clube da Esquina No. 2”, o qual também produziu, para citar alguns.
Na discografia do multi-instrumentista, cantor e compositor constam alguns discos coletivos, caso de “Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli, Toninho Horta” (1973) e “Naná, Nelson Angelo, Novelli (1975)”, e um único disco solo: “Canções Brasileiras”, que completa 40 anos neste 2024. Em 1984, o LP, gravado no Studio Sextan, em Paris, que também abrigou Alceu Valença e seu “Saudade de Pernambuco” (1979), foi lançado somente na França, pelo pequeno selo independente Maracatu.
Eis que agora, “Canções Brasileiras” finalmente ganha lançamento no Brasil, graças ao projeto Rocinante Três Selos, fruto da parceria inédita entre a fábrica de vinis e gravadora Rocinante, a gravadora Três Selos e a loja Tropicália Discos, sediada no centro do Rio de Janeiro. A partir desta quinta-feira (22), a jóia de Novelli, em edição de vinil, envelope com letras e texto do jornalista e pesquisador Bento Araujo, pode ser comprada exclusivamente pelo site do projeto (www.rocinantetresselos.com).
Em “Canções Brasileiras”, Novelli canta e toca baixo, piano e órgão. “Teia de Aranha”, que abre o álbum, “Sem Fim” e “Profunda Solidão” foram escritas em parceria com o poeta mineiro Cacaso (1944-1987). A tocante e instrumental “Andorinha” é só Novelli e o piano. Melancólica, a belíssima “Fábio Novellinho” é embalada pelo cello de Jean-Charles e pelo violão lamentoso de Thoninho Ramos. “Minas Geraes”, que anos antes saíra em “Geraes” (1976), de Milton Nascimento, é resultado da tabelinha entre Novelli e Ronaldo Bastos. A dupla também assina “Janela Aberta”. “Fim de Abril” tem coautoria de Marcio Borges. “Quem vai chorar seus mortos?/ Quem vai chorar você? Cheiro de sangue e vinho/ Cheiro de sangue e vinho”, canta Novelli.
O projeto da Rocinante Três Selos traz novidades. Três canções extras gravadas por Novelli na década de 1980 – a inédita “Um bocadinho”, dele e de Cacaso, “Triste Baía da Guanabara”, que foi gravada por Djavan em seu álbum Alumbramento (1979), e “Alvorada”, parceria com Carlinhos Vergueiro – se juntam ao material lançado há 40 anos.
A reedição em vinil de “Canções Brasileiras” celebra o aniversário deste importante disco, faz um acerto de contas com o passado e realça os múltiplos talentos de Novelli, artista sensível que tem seu merecido lugar entre os grandes da nossa música popular.
“Canções Brasileiras” (Rocinante Três Selos)
Lado A
Teia de aranha (Novelli, Cacaso) 2:55
Sem fim (Novelli, Cacaso) 4:07
Profunda solidão (Novelli, Cacaso) 4:19
Andorinha (Novelli, Cacaso) 3:38
Valsa para Bill Evans (Novelli) 4:05
Triste Baía da Guanabara (Novelli, Cacaso) 3:03
Lado B
Fabio Novellinho (Novelli) 3:34
Minas Geraes (Novelli, Ronaldo Bastos) 4:05
Janela aberta (Novelli, Ronaldo Bastos) 3:17
Fim de abril (Novelli, Marcio Borges) 2:35
Um bocadinho (Novelli, Cacaso) 3:35
Alvorada (Novelli, Carlinhos Vergueiro) 3:06
Leia também:
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.