Ednardo, o Eterno Pavão Mysteriozo, por Marquinho Carvalho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Mas aí eu o relembrei do verso final da primeira canção que ele cantara pra mim: “Eles são muitos, mas não podem voar”.

“Ednardo, o Eterno Pavão Mysteriozo”

por Marquinho Carvalho

Quando eu tinha 10 anos de idade ouvi pela primeira vez “Pavão Mysteriozo”. “A música começa com um embate, uma nota pedal de uma toada nordestina e desemboca, após essa breve introdução anunciativa, numa batida hipnotizante, com certa melancolia indígena, tambores e outras percussões”*.

Creio que posso afirmar que foi a primeira vez que me dei conta da magia da música instrumental, mas que veio acompanhada de um belíssimo poema. E quando me dei conta lá estava eu “cantando as belezas daquele “Pavão Mysteriozo” e dizendo a ele que “…se eu corresse assim, tantos céus assim, muita história eu tinha pra contar.”

Oito anos depois, saindo da adolescência me reencontrei com o “Pavão Mysteriozo”. Ele seguia compondo e cantando músicas novas e não menos lindas, porém, cansado dos tempos bicudos, resolvera utilizar o “Berro” como alternativa para alertar as pessoas “…do vexame de morrer tão moço…”.

Mas onde já viu uma coisa dessas? O “Berro” não pode ser emitido pelas aves. Então, o “Berro” foi censurado.

Mas eis que a misteriosa ave tinha as suas artimanhas que “…Desmancha isso tudo que não é certo não…” e decidiu publicar os versos que acompanhavam a melodia do seu “Berro” de uma forma disfarçada que somente aquele que se “…guarda moleque de eterno brincar…” poderia ler.

Eu li! E lá estão os transcendentes versos: “O eterno é embaraçoso e difícil. A fugacidade das coisas me fascina e me mete medo. Mas eu sei que existe sempre um recomeçar – assim como recomeça o mar no levante das ondas. Então, se no peito de cada um, existe um incontido BERRO, pra que ser só ouvidos? No espelho desse passado minha imagem, não contente em somente horrorizar-se com as rugas, quebrou o cristal em muitas arestas, onde cada uma delas é um tipo de corte que é um tipo de festa ou um tipo de fresta por onde escapo da morte. O eterno é embaraçoso e difícil. A fugacidade das coisas me fascina e me mete medo. Mas eu sei que, onde se imagina fim de caminho, está plantado o marco de uma nova e possível estaca zero”.

Pouco tempo depois o “…Pavão Mysteriozo nessa cauda aberta em leque…” me conduziu para a “Terra da Luz” e lá me ensinou que “Aquele mestre ensina justamente aquilo que não interessa saber. Esquece de dizer meninos nossa sina é saber viver. Impõe, impera e vocifera. É que ele tem vara de condão da transformação, da conformação, da educação, da evolução. É que são tantos os verbos de persuadir, de sujeitar o sujeito a não existir. É que são tantos os objetos indiretos condicionais do porvir…”.

Mas aí eu o relembrei do verso final da primeira canção que ele cantara pra mim: “Eles são muitos, mas não podem voar”.

Décadas se passaram desde esses meus primeiros contatos com o “Pavão Mysteriozo”. Eu aprendi todos os seus cantos e, por certo, “…Muita história eu tinha pra contar…”, mas como “…Tudo é mistério nesse teu voar…” deixarei ele mesmo contar as suas histórias pra nós na entrevista que ele me concedeu no meu programa “Almanaque do Vinil” na TV GGN.

Com vocês Ednardo, “O Eterno Pavão Mysteriozo”!

*Trecho retirado do artigo – Uma singela leitura da atualíssima Pavão Mysteriozo, canção de Ednardo, escrito por Bruno Eliezer em 03/05/2017.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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