Pensar nos caminhos da Revolução Brasileira, por Roberto Bitencourt da Silva

Falar em fascismo, como usualmente se fala nas rodas das esquerdas brasileiras atuais, chega a ser piada. Porque é muito pouco.

Pensar nos caminhos da Revolução Brasileira

por Roberto Bitencourt da Silva

Foi exibido nesta quinta-feira, no Canal Brasil, o imperdível documentário “Barretão”, que trata de aspectos da trajetória e da perspectiva cinematográfica de Luiz Carlos Barreto, um dos nomes mais importantes da cultura brasileira. Lá pelas tantas da película, do alto da sua longa experiência de vida, Barretão afirma que a situação política no Brasil de hoje é muito pior do que a situação que motivou o golpe de 1964 e a que dele se desdobrou. Argumenta ainda que os interesses econômicos e geopolíticos dos nossos dias são muito mais poderosos e que a ingenuidade campeia entre a nossa gente, a respeito de tais desafios. Concordo em tudo.

O projeto das classes dominantes domésticas e gringas, na atualidade, é nos converter somente à destrutiva condição de território. Anular qualquer laivo de existência coletiva, como nação, cultura, mercados de consumo e trabalho. Território. Escassez crescente de recursos naturais (em função de padrões capitalistas de consumo ocidental nocivos à Humanidade), assim como a mudança climática, são fatores que se encontram na agenda geopolítica das potências do capitalismo que nos subjugam.

Falar em fascismo, como usualmente se fala nas rodas das esquerdas brasileiras atuais, chega a ser piada. Porque é muito pouco. Mas, as lentes da Europa informam muitas cabeças ditas bem pensantes. O nosso caso é colônia. É feitoria. Tudo o mais é decorrência. Trevas densas.

Enquanto isso, campeiam as ilusões salvacionistas, do ex-presidente Lula e do seu agrupamento político, que pretensamente irão nos redimir, a despeito de nada terem feito para evitar o golpe de 2016, nada terem feito para politizar as classes trabalhadoras e médias. Então, desprezaram a necessária convocação popular. Ocupa(ra)m-se do exercício rotineiro de cargos na máquina pública e em governos. Esse o horizonte de ação. Não têm projeto de poder, muito menos querem alterar a estrutura do poder no Brasil.

Outros, como o avizinhado cirismo, municiados de um projeto inteligente, bem urdido, acham, contudo, que ideias bem debatidas resolverão as nossas terríveis mazelas. A luz das ideias sem lutas de classes, só na base do debate eleitoral. Alçado eventualmente ao governo federal, Ciro tudo descortinaria e resolveria. Tudo ilusão. Pensamento mágico.

O que se deve pensar, de maneira rigorosa, corresponde a formas efetivas de ruptura com o projeto neocolonial e ultraliberal ora imposto duramente. Em ruptura com a dependência e o subdesenvolvimento, que são os seus lastros mais duradouros.

Em algumas paragens de esquerdas fala-se bastante em movimentos sociais que se façam presente nas ruas. Seguramente é um caminho e um instrumento necessário. Mas, se requer mais. Projetos, horizontes do que se pretende alcançar para o país, organizações coletivas que não se restrinjam ao calendário eleitoral. Mas, quais tipos de movimentos?

No Brasil, aí num intervalo de cerca de 4 anos, entre 2013 e 2016/7, diversos movimentos e protestos ganharam as ruas, com orientações inovadoras e progressistas. Envolveram ações de natureza defensiva e ofensiva, estudantes, profissionais de certos setores, como professores, bombeiros, garis, defesa de moradias populares e investimentos em transportes, saúde e educação, lutas contra um golpe de Estado etc. Uma miríade de iniciativas heterogêneas, vibrantes, mas sem qualquer coordenação e destituída, pois, de projeto mais amplo de país.

No Chile, cerca de dois anos atrás, no curso de algumas semanas, inúmeros e radiantes protestos populares também ocorreram. Agora ocorrem na Colômbia. Nos últimos anos, aliás, como sempre, aqui e acolá, salpicam revoltas e protestos populares em demais países da América Latina. Muita energia pulsa, irradia, mas também se gasta, tritura e desgasta.

Restringindo-nos exclusivamente ao Brasil, entre tantas coisas que precisamos pensar e arregaçar as mangas nessa equação renovadora e mesmo revolucionária é de projeto de nação e de organizações.

Organizações que organizem e mobilizem, deem sentido às escolhas e promovam convicções aos seus adeptos e militantes. Ações, protestos e movimentos que forçosamente afetem a circulação e os ganhos do capital. Isso é imprescindível. Líderes que realmente lideram, politizam e mobilizam. Urge pensar nas formas e nos caminhos da necessária Revolução Brasileira.

Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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