Jorge Alexandre Neves
Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.
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Pesquisas de Intenção de Voto: ruim com elas, pior sem elas!, por Jorge Alexandre Neves

Reconhecer que pesquisas de intenção de votos têm problemas não significa dizer que não são desejáveis. Muito pelo contrário! Apesar de ter limitações, elas são a melhor fonte de informações que temos.

Pesquisas de Intenção de Voto: ruim com elas, pior sem elas!

por Jorge Alexandre Neves

            A pandemia de Covid-19 e a discussão no Congresso Nacional sobre uma nova legislação com propósitos reguladores esquentaram um importante debate sobre as pesquisas de intenção de votos no Brasil. A pandemia contribuiu para o debate, ao forçar muitos institutos de pesquisa – até o IBGE foi forçado a fazê-lo – a realizar levantamentos não-presenciais. A discussão no Congresso Nacional, ao explicitar que regras e formas de controle precisam ser criadas, sim.

            Nos EUA, depois de 2016, houve muitas discussões sobre os erros de previsão das pesquisas que buscaram prever os resultados da eleição de Donald Trump. A esmagadora maioria dos levantamentos previu a vitória de Hillary Clinton, o que todos sabemos não ter ocorrido. Há, no caso dos EUA, uma complexidade muito maior para as pesquisas de intenção de votos, por duas razões principais: a) o fato de que o voto não é obrigatório e; b) a complexidade do sistema eleitoral de caráter indireto, com a eleição sendo definida em um Colégio Eleitoral formado por delegados eleitos em cada estado da Federação.

            Em 2017, a associação nacional que reúne as empresas de pesquisa dos EUA promoveu um encontro para fazer um balanço das razões do fracasso das pesquisas na eleição presidencial de 2016. Uma das soluções encontradas é, acredito, de grande relevância para os institutos de pesquisa em nível mundial, qual seja, o uso de pós-estratificação, de ponderações dos dados após a conclusão da coleta dos mesmos.

            De modo geral, costumamos identificar em pesquisas de intenção de votos problemas relacionados ao fato de que as amostras utilizadas não seguem procedimentos totalmente probabilísticos. Isso varia bastante entre os tipos de amostras, mas costuma ser visto como um problema, pois os procedimentos estatísticos usualmente utilizados para a análise de dados de pesquisas de intenção de votos foram elaborados para análises de dados de pesquisas com amostras totalmente probabilísticas.

            Todavia, é importante ressaltar que no mundo real das pesquisas sociais e políticas, mesmo amostragens probabilísticas têm problemas. Como costumam ser feitas por seleções em estágios múltiplos, as amostras probabilísticas utilizadas em pesquisas sociais e políticas costumam subestimar os erros (algo que é relativamente fácil de corrigir). Outro problema costuma ser um pouco mais complicado, pois costuma gerar vieses de seleção (*). De modo geral, esse segundo problema se deve às recusas a responder as várias tentativas (geralmente, três ou quatro) dos pesquisadores de realizar as entrevistas ou outros fatores que levem a frustrações de tentativas. Essas rejeições e frustrações de tentativas costumam gerar vieses de seletividade, pois estão associadas a algumas categorias de indivíduos. Ao se fazer novas seleções aleatórias em um processo que tende a se repetir várias vezes, é comum, por exemplo, que se termine com amostras que sobrerrepresentam mulheres e sub-representam homens. No caso das pesquisas realizadas antes das eleições presidenciais de 2016 nos EUA, por exemplo, um problema recorrente que não foi identificado com antecedência foi a sobrerrepresentação de pessoas com níveis mail elevados de escolaridade. Esse tipo de problema é de fácil solução através da realização de ponderações nos dados por pós-estratificação. Todavia, é necessário que se tenha uma boa noção de que variáveis podem ser utilizadas para fazer essa correção nos dados.

            Portanto, um problema que precisa ser observado pelos institutos de pesquisa é a taxa de recusa. Como regra geral, quanto maior a taxa de recusa, mantido tudo o mais constante, maior tenderá a ser o viés de seletividade amostral.

            Pesquisas não presenciais – feitas por telefone ou internet – tendem a ter taxas de recusa bem mais elevadas e, portanto, demandam que os pesquisadores responsáveis pelo levantamento sejam bastante cuidadosos, realizando um bom trabalho de pós-estratificação dos dados. Todavia, o problema também, em menor grau, existe em pesquisas com coletas de dados na forma presencial. Por exemplo, nas faixas de renda mais elevadas, as taxas de recusa costumam ser muito altas, mesmo em pesquisas presenciais (os entrevistadores têm enorme dificuldade de fazer contato com os moradores de condomínios, por exemplo). Assim, é muito importante que os pesquisadores responsáveis pelos levantamentos façam uma boa análise das taxas de recusa, identifiquem possíveis vieses de seletividade e busquem corrigi-los, ponderando os dados a partir de pós-estratificação.

            Reconhecer que pesquisas de intenção de votos têm problemas não significa dizer que não são desejáveis. Muito pelo contrário! Apesar de ter limitações, elas são a melhor fonte de informações que temos. Precisamos é ter o maior número possível de pesquisas de intenção de votos sendo feitas, pois isso torna possível a obtenção de estimativas mais precisas, a partir da agregação matemática das mesmas. Proibir a divulgação de pesquisas de intenção de votos vários dias antes dos pleitos é um desserviço à sociedade, pois irá limitar o acesso ao melhor tipo de informação disponível a uma ínfima minoria das pessoas que pode pagar para ter seus próprios levantamentos e, ainda, criará uma situação ideal para a geração e propagação de informações falsas. Precisamos andar para a frente, com pesquisas cada vez mais precisas e com total transparência de informações, não retroceder a situações que gerem desinformação.

(*) O problema do viés de seletividade amostral em pesquisas científicas nas áreas sociais tomou as manchetes da mídia com um curioso e prosaico problema ocorrido no site Prolific, comumente usado por grande número de pesquisadores como plataforma de recrutamento de indivíduos que se dispõem a responder questionários. Ver: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/10/13/como-video-de-uma-tiktoker-arruinou-cerca-de-4600-pesquisas-cientificas.htm.

Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997.  Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.

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  1. Eu vou votar no Lula.Esse Bolsobosta está acabando com o País.As pessoas estão passando dificuldade desemprego Fome e miséria.A fome e a pior tristeza da Vida.Sem Contar a inflamação aumento da Gasolina Alimentação Gás de cozinha a Carne um absurdo o Brasil com esse Governo está na Merda.Principalmente o Pobre.E Lula para o Pobre voltar a comer carne alimentar melhor.Co.

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