A Coréia do Norte e a Ascensão do Bobo da Corte

 


Em priscas eras, medievais pra ser mais exato, o soberano era mesmo soberano, sua palavra era a lei, ninguém se atrevia a contestar o Rei, muito menos ridicularizá-lo. Ninguém, menos o Bobo da Corte! Bobo da Corte, bufão ou bufo, e em inglês Joker, ou Jester tinha como função entreter o Rei e a Rainha e fazê-los rir. A este, que se vestia com roupas coloridas e espalhafatosas, e se sentava ao lado do Rei, só que agachado no chão, era garantido o direito à troça e à crítica ao Rei, desde que feita de forma jocosa, caricatural e grotesca. O corpo do bufão caracteriza-se pela deformidade e o exagero, sendo o excesso uma de suas principais características. Era muitas vezes odiado por nobres e conselheiros do Rei, por sua proximidade com este.


Jung, o grande estudioso da psiquê e seus elementos, teria considerado o Bobo como uma espécie de alter ego do Rei. Em sua terminologia própria, seria a Sombra.



“Em 1945, Jung deu uma definição mais direta e clara da sombra: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser” (CW 16, parág. 470). Nesta simples afirmação estão incluídas as variadas e repetidas referências à sombra como o lado negativo da personalidade, a soma de todas as qualidades desagradáveis que o indivíduo quer esconder, o lado inferior, sem valor, e primitivo da natureza do homem, a “outra pessoa”  em um indivíduo, seu próprio lado obscuro. Jung era perfeitamente consciente da realidade do MAL na vida humana.


“Vezes e mais vezes enfatizou que todos nós temos uma sombra, que toda coisa substancial emite uma sombra, que o EGO está para a sombra como a luz para a penumbra, que é a sombra que nos faz humanos.”

“Todo mundo carrega uma sombra, e quanto menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é. Se uma inferioridade é consciente, sempre se tem uma oportunidade de corrigi-la. Além do mais, ela está constantemente em contato com outros interesses, de modo que está continuamente sujeita a modificações. Porém, se é reprimida e isolada da CONSCIÊNCIA, jamais é corrigida, e pode irromper subitamente em um momento de inconsciência. De qualquer modo, forma um obstáculo inconsciente, impedindo nossos mais bem-intencionado propósitos (CW 11, parág. 131).”



Logo, podemos sem erro afirmar que o Bobo era a sombra do Rei, mas nesse caso, a sombra integrada e parceira do Ego (consciência) terapêutica e amiga.


Todos nós temos a nossa sombra. Ela pode ser nossa amiga, na medida em que, ao nos conhecemos melhor, e identificarmos aspectos que preferimos ignorar, trabalhamo-los e os trazemos à luz de nossa consciência  como o bobo que se senta ao lado do rei. Pode também ser uma inimiga cruel, sempre que a escondemos nos recônditos mais profundos do nosso inconsciente, onde ela tramará armadilhas nas quais inevitavelmente cairemos, repetidamente.


Pode-se identificar projeções dessa Sombra mal resolvida em nossas vidas, quando odiamos uma pessoa que mal conhecemos, ou de quem pouco sabemos. Essas antipatias automáticas são altamente reveladoras. Estamos cara a cara com aspectos nossos que preferimos ignorar, mas que reconhecemos no outro, e detestamos quase automaticamente  por medo de acabarmos revelando o que temos de mais escuro. Quem prefere ignorar a própria Sombra está totalmente perdido e cegado pela luz que a projeta, sempre atrás de nós.


No macrocosmo mundial as nações também acabam projetando suas Sombras. Como é muito mais difícil ‘tratar’ a psiquê de uma nação que a de um indivíduo, o mundo vive em uma constante guerra de projeções. Guerreamos o ‘outro’ em nós, que reconhecemos no Outro externo, numa projeção que costuma ter todas as condições de chegar às ultimas e fatídicas conseqüências. No macrocosmo a situação é muito mais complicada, pois temos projeções cruzadas, além da possibilidade de manipular mesmo a psiquê do indivíduo, e confundi-lo ao ponto de confundir supostos inimigos da pátria, com inimigos próprios. O nazismo e os judeus são a prova mais viva disso(a situação atual do judeu, que incorporou o lado negro dos nazistas contra os palestinos, merece outras considerações em outro artigo).


O mundo hoje vive um momento de medo e preocupação com os ‘selvagens’ e atrasados coreanos do norte, e seu embate com os vizinhos do sul, e os EUA. Nada mais sintomático que isso pra descrever, ao nível de manual de psicologia, uma projeção da Sombra. Os EUA são o único país do mundo a fazer uso do poderio atômico contra outro povo. Note-se que eu aqui não digo exército; os ataques contra Hiroshima e Nagasaki foram contra o povo japonês, assassinato em massa, genocídio. Agora a Coréia do Norte quer se armar ‘nuclearmente’, na minha opinião (e de Monteiro Lobato também) todo país deve poder ter sua arma nuclear. Os EUA, entretanto, reconhecendo (ou não) na Coréia do Norte características suas que prefere manter ocultas na obscuridade de sua psiquê doentia, tenta combatê-la a todo custo, sempre caindo em suas armadilhas, que acabam revelando, pra quem quer ver, a fragilidade ridícula dos argumentos estadunidenses.


Aqui, voltando a analogia inicial, vemos a Coréia do Norte, o bobo da Corte, mal integrado à consciência, e fortalecido pela ignorância e cegueira do paciente, ascendendo à condição de Rei Bobo supremo, que expõe (para quem quer e estrá preparado  para ver) o ridículo ego de uma nação (os EUA) adoecida.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador