A incapacidade da mídia de focar corretamente a questão do petróleo, por Luis Nassif

De qualquer modo, fosse este um país minimamente preocupado com competitividade e redução de desigualdades, o correto seria definir o preço dos combustíveis pelo custo de extração, mais uma margem de lucro

É chocante a incapacidade da mídia brasileira de tratar temas econômicos relevantes racionalmente. Tudo vem contaminado por um ideologismo rasteiro, questões complexas são reduzidas a meros bordões, sem um pingo de análise ou raciocínio. Tome-se o caso das refinarias brasileiras e da influência das cotações internacionais e no câmbio no preço interno do combustível. Ou a questão da privatização das refinarias da Petrobras.

Os bordões são sempre os mesmos, repetidos indefinidamente:

1. Interferir nos preços na bomba prejudicará a Petrobras, que é patrimônio do povo brasileiro.

É argumento vergonhoso. O aumento nos preços beneficia os acionistas em detrimento do conjunto da população.

2. Para baixar os preços há a necessidade de reformas.

Estultice sem tamanho. O problema central reside em amarrar os preços internos a dois ativos financeiros: as cotações internacionais de petróleo e o câmbio.

3. A privatização das refinarias ajudará a derrubar os preços, pelo aumento da competição.

Tolice enorme! Privatização de refinarias não acrescenta um litro sequer à capacidade de refino do país. Mais que isso, recentemente a Petrobras foi acusada de concorrência desleal com os importadores por … reduzir os preços dos combustíveis.

Todas as análises midiáticas analisam o tema exclusivamente sob a ótica de interesse do mercado. Se impedir o repasse dos preços internacionais aos preços internos, haverá prejuízo para os acionistas – ainda que a contrapartida seja o aumento de custos para todos os brasileiros.

Quais são os pontos relevantes a se discutir:

1. A ampliação da capacidade de refino do país.

O país importou US$ 11,2 bilhões em combustível refinado nos 12 meses encerrados em janeiro de 2020; e US$ 6,7 bilhões nos 12 meses encerrados em janeiro de 2021 – queda provocada pela crise econômica. Ora, fica evidente que há um enorme espaço para a ampliação da capacidade de refino. O que propõe Paulo Guedes e a mídia endossa? A privatização das refinarias da Petrobras. Se os investidores estivessem interessados em explorar a área – e não apenas obter ganhos em negócios de ocasião – estariam investindo em novas refinarias, aproveitando a demanda não atendida pelo refino atual.

2. A volatilidade dos preços internos.

Derivados de petróleo são um setor estratégico, pois impactam toda a economia, de alimentos à petroquímica. Por outro lado, as cotações internacionais estão sujeitas a jogadas especulativos, já que se tornaram ativos financeiros. Assim, os preços internos acabam reféns de dois movimentos exclusivamente financeiros: as cotações internacionais e o câmbio.

O grande desafio consiste em definir regras claras que permitam amenizar essa volatilidade, sem prejudicar gravemente os acionistas e sem impactar de forma aleatóri as contas públicas.

Há inúmeras saídas a se pensar. Cada vez que o câmbio se desvaloriza, há um ganho fiscal do Banco Central, em cima das reservas cambiais. Poder-se-ia pensar em formas de arbitragem que ajudassem a reduzir a volatilidade, bancando a diferença quando os preços explodissem e recuperando quando despencassem.

Ou em um tributo, em conta separada, permitindo reduzir os excessos de oscilação.

De qualquer modo, fosse este um país minimamente preocupado com competitividade e redução de desigualdades, o correto seria definir o preço dos combustíveis pelo custo de extração, mais uma margem de lucro, ao mesmo tempo em que se perseguiria a auto-suficiência da produção e do refino.

 Impediria prejuízos, e garantiria uma receita previsível para a Petrobras. Os lucros adicionais sairiam das exportações, nos momentos de bonança do mercado externo.

De qualquer modo, a partir das 15 horas a TV GGN estará discutindo essas das questões com Gabriel Galipolo, presidente do Banco Fator, e Nelson Barbosa, ex-Ministro da Economia.

Luis Nassif

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