O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, de maneira unânime, pelo aumento da taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
Segundo comunicado divulgado pelo colegiado, o ambiente externo segue “desafiador”, citando como principal fator de influência a incerteza nos Estados Unidos logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.
De acordo com o colegiado, a incerteza nos EUA “suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano)”.
Quanto ao cenário doméstico, o BC afirma que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo”, ao mesmo tempo em que a inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
“O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”, pontua o BC, ressaltando que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal “tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio”.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, ressaltou o Bacen.
“Remédio amargo”
Para o economista Bruno Corano, da Corano Capital, não restava alternativa ao Copom que não fosse aumentar a taxa básica de juros para 11,25% ao ano no momento.
“É um remédio amargo, mas o único possível para contrabalancear a ineficiência fiscal do Brasil”, explica, ressaltando que o desequilíbrio cambial “é fruto do desequilíbrio fiscal, da falta de austeridade em relação às contas, as quais estão colocando o Brasil num caminho muito perigoso e com destino certo de consequências muito ruins”.
“(Donald) Trump venceu e a gente está vendo o dólar fazer o quê? Justamente se depreciar (…) Poderia ser a Kamala ou o Trump, que a moeda brasileira não teria, nenhuma conexão com isso. O que sofreria, sim, mudança, seria o mercado de ações, de equities americanos e, como a gente está vendo, bateu recordes hoje”, explica Corano.
Na visão de Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, existem motivos para o cenário atual, como a atividade econômica resiliente, o mercado de trabalho robusto, a inflação dos últimos 12 meses, que já roda acima do teto da meta e expectativas de inflação desencorando, além das dúvidas sobre a questão fiscal e corte de gastos do governo junto a um cenário externo mais desafiador para emergentes.
“Achei o tom da ata bem neutro porque foi exatamente na mesma linha da anterior, então eles justificam que o cenário externo é desafiador para emergentes. A atividade econômica do país está resiliente, o mercado de trabalho robusto, e a inflação corrente está acima do teto da meta, o que mostra ali uma preocupação com a desancoragem da inflação futura e continua sinalizando, na minha visão, que eles estão analisando muito de perto a questão fiscal para a tomada de decisão”, pontua Bolzan.
Decisão “extremamente conservadora”
Ao mesmo tempo, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirma que o aumento dos juros foi um movimento “equivocado” da autoridade monetária e uma decisão “extremamente conservadora” já que a taxa anterior à decisão “era mais que suficiente para manter a inflação sob controle”.
“É importante observar que a inflação tem sido impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito. Por isso, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população”, lembrou a CNI.
Sobre o cenário fiscal, a confederação destaca a importância de se buscar a sustentabilidade da dívida, mas afirma que existe “um exagero na preocupação com o quadro fiscal”.
“O impulso fiscal sobre a atividade econômica tem se reduzido significativamente ao longo de 2024, o que tende a frear a pressão sobre a inflação”, diz a CNI.
“As despesas primárias federais apresentaram crescimento real de 10,5% no primeiro semestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023. Já no segundo semestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, a estimativa da CNI é de queda real de 1,7% (desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023)”.
“O Banco Central precisa levar em conta as medidas de redução de despesas públicas em 2025 que devem ser anunciadas em breve pelo Governo Federal. Ação muito positiva para a melhor sincronia entre as políticas monetária e fiscal”, lembra a confederação.
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O BC adiantou a visão de “descontrole fiscal”, o mercado assumiu alegremente e então o BC – como sempre – apoiado pelo mercado viu “cenário” de risco fiscal . . .
Um escolhe a partitura, outro rege a orquestra e nós dançamos.
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