Guerra na Ucrânia deve impactar inflação, dólar e juros no Brasil, prevê FGV

Brasil tende a ser um dos países com maiores problemas no caso de um conflito prolongado no Leste Europeu

O conflito armado entre Rússia e Ucrânia deve afetar fortemente a economia dos países da América Latina, incluindo o Brasil, segundo uma nota divulgada nesta semana pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). O informe “Sondagem da América Latina” calculou os riscos econômicos que poderiam ser produzidos no caso de uma guerra prolongada no Leste Europeu.

Segundo o estudo, o Brasil tende a ser um dos países com maiores problemas caso esse cenário se concretize, devido à sua maior exposição aos fluxos financeiros globais que o restante da América Latina, que poderia resultar em uma disparada do dólar e uma queda mais acentuada das bolsas, entre outros problemas.

O informe da FGV aponta o preço internacional do petróleo como o primeiro grande problema, já que o preço do barril do tipo Brent encerrou a semana em 105 dólares, o maior nível desde 2014, e essa tendência tende a aumentar. O mesmo ocorre com o gás natural, produto do qual a Rússia é a maior produtora global, que poderia chegar a 30 dólares por BTU – o que afetaria muito o Brasil, que usa o gás natural para abastecimento das termelétricas.

No Brasil, o preço do diesel – combustível que não tem a adição de etanol – subiu 3,78% em janeiro, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que funciona como prévia da inflação oficial.

Essa inflação também poderá ser sentida no preço dos alimentos, que também e afetada pela crise no mercado do petróleo e por outros fatores, como o fato de a Rússia ser a maior produtora mundial de trigo – e a Ucrânia é a quarta colocada nesse ranking.

Além disso, a Rússia também é o maior produtor mundial de fertilizantes, isso se afeta o Brasil, já que 20% dos fertilizantes usados no país vêm de produtores russos.

O câmbio é outro fator que pode ser afetado no caso de uma guerra prolongada é o câmbio. O Brasil registrou uma queda de quase 10% da moeda norte-americana no acumulado de 2022, mas esse efeito pode ser anulado no caso de o conflito armado entre Rússia e Ucrânia dure por muitos meses.

À Agência Brasil, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, mostrou otimismo e assegurou que “o Brasil está preparado para os impactos econômicos da guerra. O país tem grandes reservas internacionais e baixa participação de estrangeiros na dívida pública, o que ajudaria a enfrentar os riscos de uma turbulência externa prolongada”.

Porém, caso essa segurança não se concretize, e o país se depare com um cenário de dólar e inflação em alta, o Banco Central pode tomar a decisão de aumentar a taxa Selic (juros básicos da economia) mais que o previsto, o que impactaria o crescimento econômico para este ano de forma negativa.

O último boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, projetou uma inflação oficial de 5,56% em 2022, e uma previsão de crescimento para o Produto Interno Bruto em apenas 0,3%.

A pesquisa da FGV ouviu 160 especialistas em 15 países diferentes, constatou a deterioração do clima econômico. Na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos, de 63,4 para 60,6 pontos, e apresentou a menor pontuação entre os países pesquisados.

Redação

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