O jogo dos juros, o impacto na economia e na Globo, por Luis Nassif

Vamos a alguns eventos que influenciarão a economia nos próximos meses.

Vamos a alguns eventos que influenciarão a economia nos próximos meses.

Peça 1 – a queda da Selic e o Brasil

A queda da taxa Selic reduzirá o impacto sobre a dívida pública, mas, principalmente, haverá redução na rolagem da dívida, liberando recursos dos fundos de pensão e investidores em geral. Com redução geral das taxas de juros internacionais, parte desse excedente será canalizada para projetos de infraestrutura, parte para aquisição de estatais, menos para novos investimentos. Compra de estatais não significará aumento significativo de investimentos, mas apenas troca de ativos. Em infraestrutura, sim.

Como não há nenhuma política de recuperação da demanda, não se espere investimentos em ampliação das indústrias. A recessão continuada, além disso, imporá uma linha de corte sobre concessões, especialmente rodoviárias, na medida em que houve significativa redução no movimento de cargas.

Mas é interessante como a redução global das taxas de juros impactará grandes grupos nacionais internacionalizadas. Acompanhe o que se discute nos centros acadêmicos internacionais e analise os efeitos sobre a Rede Globo.

Peça 2 – queda de juros, endividamento e bolhas

Teoricamente, taxas de juros baixas têm impacto positivo sobre a demanda, na medida em que os recursos são canalizados para investimentos em ativos reais. 

Há uma equivalência entre juros e preços de ativos: quando os juros caem, os preços dos ativos sobem, entendido aí desde commodities até empresas.

É uma conta simples.

  • Uma empresa gera 100 unidades/ano de resultados.
  • Seu preço será calculado tendo em vista a estimativa de fluxo de resultados trazido a valor presente pela taxa de juros de referência.
  • Se a taxa for de 5% ao ano, o valor presente empresa será de 1.038
  • Se a taxa cair para 2%, o valor presente aumentar para 1.284
  • Se subir para 10%, cai para 761.

É por isso que períodos continuados de juros próximos a zero, ou mesmo negativos, promovem ultra endividamento e formação de bolhas especulativas. Se posso tomar crédito a taxas próximas de zero, qualquer empreendimento que  gere 1% de resultado ao ano obterá vantagens em contrair empréstimos.

Peça 3 – a concentração de mercado

Finalmente, há um fenômeno que tem afetado diretamente os gigantes de tecnologia, que é o da chamada compra de mercado.

Vamos analisar duas empresas específicas: Netflix e o Uber. As duas estão interessadas em conquistar mercados, ainda que abrindo mão da rentabilidade de curto prazo. 

A lógica é simples. O valor da empresa será calculado pelo número de clientes vezes um multiplicador. O investimento sai, hoje, da redução da rentabilidade – e dos dividendos distribuídos. O acionista abre mão de um recurso que, hoje em dia, teria poucas alternativas de rentabilidade, por uma valorização das ações com o aumento da base de assinantes.

Este fenômeno levou três economistas – Ernest Liu, Atif Mian e Amir Suel – a defender uma nova teoria sobre juros baixos: a de que a redução dos juros aumenta a concentração econômica. 

Seu raciocínio é claro:

  • As empresas se analisam continuamente, para decidir suas políticas de investimentos.
  • Taxas de juros mais baixas incentivam todas as empresas do setor a investir mais. Só que o incentivo é maior para as empresas líderes, com acesso a condições mais privilegiadas de crédito e maiores ganhos de escala.
  • Como os líderes ganharam mais com a queda dos juros, os seguidores se sentem desestimulados e param de investir.
  • Em um segundo momento, sem os seguidores no seu encalce, os líderes se acomodam se tornando “monopolistas preguiçosos”.

Segundo os estudos do trio, houve um aumento na concentração e lucratividade do mercado entre 1980 e 2000, período em que as taxas de juros baixaram. Seguiu-se uma desaceleração no crescimento da produtividfade a partir de 2005.

Peça 4 – o caso GLoboplay

E aí entramos na análise da Globo.

Segundo dados da revista especializada Teletimes, em 2018, o resultado operacional da controladora foi negativo em R$ 530 milhões, contra um resultado negativo de R$ 83 milhões em 2017. A controladora engloba a TV Globo, a Globoplay e a Som Livre.

Considerando todo o grupo, a receita operacional foi positiva em R$ 1 bilhão no ano de 2018, mas registrando uma queda de 44% em relação ao mesmo período de 2017.

O que pesou no resultado operacional negativo foram os investimentos na Globoplay, plataforma que pretende concorrer com a Netflix, Amazon e Apple.

A Globoplay atingirá apenas países de língua portuguesa, Brasil, Portugal e alguns países africanos. A Netflix só não entra (por enquanto) na China, Crimeia, Coreia do Norte e Siria.

No Brasil, junto ao público jovem – que em alguns anos será o público total do mercado – o nome Globo tem muito menos penetração do que Netflix ou Apple.

Volte aos números de balanço. Em 2018 a receita líquida da controladora Globo foi de R$ 10 bilhões. Do grupo todo, R$ 14,8 bilhões. Com o dólar a R$ 4,00, significa uma receita total de US$ 3,7 bilhões, estabilizada, em crescimento lento ou queda. 

A receita da Netflix foi de US$ 14,7 bilhões, em alta. A perspectiva é de crescimento de 26% ao trimestre. Apenas no Brasil, a Netflix já tem um faturamento estimado em R$ 1,8 bilhão, quase 10% da Globo. A Netflix pretende investir apenas em novas produções US$ 10 bilhões. 

E a Netflix é peixe pequeno perto dos novos competidores. O faturamento da Amazon é de US$ 252 bilhões. O da Apple, US$ 259 bilhões. O Amazon Prime atua em 18 países e tem mais de 100 milhões de assinantes.

O único setor em que a Globo se dá bem é na venda de conteúdo pelos canais Globosat, que responde por 54% do lucro bruto do grupo. O restante vem da TV aberta e da Internet.

No país dos juros recordistas, o que tem sustentado a Globo são as receitas financeiras. No consolidado do grupo, as receitas financeiras saltaram de R$ 943 milhões para R$ 1,06 bilhão em 2018.

No final, a realidade vai se impor e a globalização, tão defendida pela Globo, se incumbirá de coloca-la no seu papel, no novo mundo da mídia que se descortina: ou uma provedora de conteúdo, não mais do que isso; ou a venda para um dos gigantes da mídia global.

O GGN prepara uma série de vídeos que explica a influência dos EUA na Lava Jato. Quer apoiar o projeto? Clique aqui.

27 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A esta altura do campeonato,nem Valdir Macedo tem mais interesse na compra da Globo.Tenho cá para mim que ela terminará entre os dedos meios estranhos do Bispo Macedo.Aliás,na Igreja dele cura-se tudo,exceto a “gula” por grana.Vá gostar de dinheiro assim na casa do satanás.

    1. Esse internauta que colocou o dedo pra baixo,não entende porra nenhuma de aritmética.Valdir Macedo entende e vez as contas:A receita não paga a folha.Receita de aplicações financeiras funciona como “ilusão de óptica”.Conselho e água só se dá a quem pede,mas vou lhe passar um:Procure urgentemente o Ministro da Deseducação,um tal de Wientraub,uma anta de barba,soube que ele pensa em reeditar o MOBRAL.Você seria o primeiro a ser inscrito.Brinque não!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  2. Só um detalhe: empresas de capital aberto têm de tomar certo cuidado na hora de sacrificar rentabilidade pensando no futuro. Não basta ser lucrativa, somente, tem de ser A MAIS lucrativa, por assim dizer.

    Outra coisa são as empresas familiares. Estas podem até sacrificar rentabilidade para fazer propaganda politica e ideológica: sai mais barato, até certo ponto, se embrenhar na busca de favores políticos do que investir em pesquisa, desenvolvimento, marqueting, etc. A globo se emaranhou nisto por décadas.

  3. Nos anos 70 uma câmera de filmagem colorida custava 150 mil dólares. Hoje, com uma fração deste valor um grande clube pode criar uma estrutura para filmagens em seu estádio. Imagina quando eles se “alforriarem” da rede cbf-globo ou quando estes grandes players se oferecerem (o facebook anda atrás disto) para montar esta estrutura o que será da globo? A globo demorou a perceber e se descuidou com seu portal – não notou que o grande negócio é ser dono da plataforma, muito mais do que ser produtor de conteúdo. Este é importante, mas a plataforma é que é o canal da atualidade e mundialmente já estão em campo os grandes jogadores, com pouquíssima margem para outro ou não há no horizonte tecnologia que venha a revolucionar. O mundo já é dos dispositivos móveis e as grandes plataformas já os abrangem. A globo tem um canal no youtube com 2 milhões de inscritos, só que estes são “clientes” da plataforma youtube. Quanto mais visibilidade tiver seus vídeos por lá, o grande beneficiado é o YT. A globo como é agora, não dura por meia década.

  4. Nos EUA, mais da metade dos valores investidos em publicidade, vai para as plataformas digitais, sendo que só a google/youtube e o facebook/instagram ficam com 60% deste pedaço. Como seus conteúdos são acessado e compatíveis com os sistemas operativos presentes nos computadores e nos smartphones, levam vantagem sobre a apple, onde seu conteúdo está vinculado aos seus dispositivos/sistema operacional. No campo das receitas, acrescente-se que a apple tem grande faturamento através de apps de jogos comercializados em sua plataforma e a amazon, que anos atrás comprou a rede twitch (não confundir com twitter) que tem sido a principal escolha para lives de gamers com monetização bastante movimentada.
    Então ai há dois grandes diferenciais: além de facebook, google e amazon prime serem plataformas, são redes sociais, que geram engajamento, maior fidelização e melhor capacidade de fluxo de consumo, já que o principal valor da receita a ser buscado é o da publicidade e ai, quanto mais comprometido for o usuário da plataforma, melhor. E fora a integração que pode haver entre estes players. Por exemplo a google é investidora na cabify (concorrente da uber). Eles podem ainda integrar uma na outra e o usuário ao solicitar uma corrida e houver a avaliação de que o veículo chega em 4 minutos, o youtube solta uma sugestão de vídeo para ir entretendo-o.

  5. A TV aberta vai virar o que o rádio é hoje. Todas vão ficar do tamanho da redeTV. A Globo vai ter de alugar horário para o pastor Waldomiro Santiago para ter receitas.
    A TV por assinaura vai acabar. Já é substituída pelo streaming. Tchau Globosat.
    Globoplay será um buraco sem fundo para o grupo Globo. Nem a Claro do Carlos Slim, muito maior do que a Globo (faturou R$36 bi só no Brasil em 2018), e dona da Net, está se metendo a entrar no streaming para competir com Netflix, Amazon, Apple, Disney, Google, Facebook. Provavelmente porque fez as contas e viu falência no final da linha.

  6. Nassif, como economista e professor pondero que há muitas outras razões pra se decretar o fim da POLÍTICA MONETÁRIA TAL COMO A CONCEBÍAMOS E A CONHECEMOS NO SÉCULO XX.
    Minha primeira ponderação é dividir os ATIVOS EM FINANCEIROS E NÃO FINANCEIROS.
    Sem aprofundamento ou estudo mais detalhado o que tem ocorrido é uma super valorização dos ativos financeiros em detrimento da valorização dos ativos REAIS(termo pouco usado ultimamente), ainda considerando que o preço das ações já nem de longe correspondem a um ATIVO REAL sob aspectos mais básicos, inclusive.

  7. Perguntas:
    (i) qual é o tamanho do grupo globo na produção de mídia no país?
    (ii) Qual é o significado de trocar a hegemonia da família Marinho pela hegemonia de Edir Macedo ou Sílvio Santos?
    (iii) Qual é o significado de trocar a hegemonia na produção e consumo de mídia da família Marinho pela hegemonia da Amazon, Apple, Netflix ?
    (iv) Há saída nisso tudo, caso se avalie a situação à luz daquela coisa antiga, que nem sei se algum dia existiu, chamada nação brasileira, que fala português brasileiro.

    1. Meus pitacos:
      (i) Menor do que era. A própria Globo terceiriza muita produção para produtoras independentes. Essas produtoras podem produzir para outras plataformas: Netiflix, Amazon, etc.
      (ii) A TV aberta está em decadência. Com a queda da Globo, nenhuma outra consegue assumir o papel que aquela teve.
      (iii) A família Marinho sempre funcionou igual a uma empresa estadunidense operando no Brasil. Atua só em proveito próprio de lucro e se alinha incondicionalmente à geopolítica dos EUA. Não vejo grande diferença. Vão absorver a veiculação de produções nacionais independentes, transmissões do futebol, etc.
      (iv) A Globo foi fundamental para reduzir o conceito de nação à pátria de chuteiras e submissa a Washington, além de negar nacionalidade a ideia de um país de todos. Então a saída não é salvar a Globo.

    2. Na era de ouro do disco bolacha preta, as gravadoras dominantes no Brasil eram multinacionais (Philips, CBS, Ariola, etc), e gravavam Chico, Milton Nascimento, Roberto Carlos, MPB, samba, etc.
      A Globo teve a SomLivre para soltar os discos de novelas, que sempre tinha também a trilha internacional, além da nacional.
      Então não é o fato de acionista ser estrangeiro em si que muda a situação.

  8. Em algum momento os interesses nacionais e a questão da soberania se tornará necessário se impor aos interesses de meia dúzia de corporações que controlam a informação em níveis mundiais.
    É nesse momento que a democratização dos meios de comunicação se tornará inevitável. Com a globo destruída e a necessidade de impor limites aos grupos internacionais talvez surja algo novo e verdadeiramente democrático e soberano no mercado de mídia brasileira.
    Após essa era de trevas iniciado com o golpe de 2016 e culminando com a eleição do Bolsonaro, o país vai ter que ser reconstruído e um dos setores mais sensíveis é justamente a comunicação pública.
    Quem sabe conseguiremos finalmente construir uma rede pública de comunicação progressista brasileira?

  9. É o futuro chegando. A modernização substituiu a companhia de iluminação pública de querosene, o disco vinil, o arado de boi. Imagina a televisão ? É só questão de tempo, pior ainda quando a nação assiste mentiras e corrupção na telinha.

  10. Nassif estão nos escondendo(do povão) o Brasil real(sempre foi assim,só q agora está muito mais)me parece q está havendo uma batalha REALIDADE X FICÇÃO e por isso não há outro caminho senão politizar/orientar o povão,estão apostando tudo na alienação do povo p manipular e com a ajuda das mídias tradicionais e virtuais a batalha é grande e quase perdida,será necessário evitar o surgimento de novas Tábatas q enganam o próprio povo e defendem grandes corporações, será preciso criar uma dinâmica de COBRANÇA em cima destes neoliberais/liberais, não é possível q não vejam (os conscientes)o estrago q é feito destas políticas,só concentram renda!

  11. -> No país dos juros recordistas, o que tem sustentado a Globo são as receitas financeiras.

    vai-se a Globo, ficam SBT e Record. mudam as moscas varejeiras, continua a mesma bosta.

    ou não!

    haveria algo de mais nefasto do que a brutal oligopolização a nível global sob hegemonia das FANG (FaceBook, Amazon, Netflix e Google)?

    tudo que já é ruim, vai ficar ainda muito pior.

    num Capitalismo de extrema financeirização, qual o sentido da queda dos juros?

    – incentivar os investimentos e aquecer a demanda;

    ou

    – gerar bolhas de ativos, numa sustentação de curto prazo para o acúmulo de capital, mesmo fictício?

    mas como todos já sentimos em nossa pele escaldada, as bolhas são infladas apenas para logo estourarem.

    enquanto Herr Witzel prossegue em sua temporada de caça aos Bacuraus, não poupando nas incursões aéreas de abate nem mesmos as escolas públicas, haverá hoje (20/09) no Jacarezinho (Rio de Janeiro) uma caminhada junto com a Defensoria Pública, para tratar das violações perpetradas contra a população das favelas e periferias.
    .

  12. -> Este fenômeno levou três economistas – Ernest Liu, Atif Mian e Amir Suel – a defender uma nova teoria sobre juros baixos: a de que a redução dos juros aumenta a concentração econômica.

    numa crise sistêmica, como a atual do Capitalismo, todas as medidas tradicionais para reverter ou mitigar a crise, como a redução dos juros, não apenas são infrutíferas como agem em sentido inverso: agravam ainda mais a crise.

    mais do que nunca, os limites do Capitalismo estão em xeque no grande tabuleiro de xadrez da geopolítica global.

    vivemos em tempos perigosíssimos, o esfacelamento de um império.

    um império que já não pode mais defender seus principais aliados, como a Arábia Saudita, e portanto vê com desespero desabarem seus dois grandes pilares de sustentação: o poder militar e sua fonte de financiamento pelo petro-dólar, como o padrão monetário internacional.

    exemplo: o ataque dos Houthis à Arábia Saudita.
    .

  13. A ciência da economia se denomina economia política. A razão é simples. Os agentes econômicos são “animais econômicos”, eles não aprendem nunca apenas reagem. Lutam pela maximização do lucro e abominam os prejuízos, esses quando surgem são empurrados aos clientes, aos concorrentes, aos fornecedores, aos governos. Como funcionam os títulos públicos no Brasil e como eles são utilizados pelas empresas no financiamento de suas atividades? Ao contrário do cidadão comum que tem renda fixa em um banco de investimento, com liquidez diária, quem opera diretamente com grandes volumes de títulos públicos, como tesourarias de empresas, não tem acesso ao resgate automático e liquidez de 100%. Antecipar o resgate de um titulo de cinco anos antes do prazo, por exemplo, incorre em um deságio nunca inferior a 20% do valor de face.

    O que motiva então uma grande empresa comprar um titulo público e guardá-lo em tesouraria? Eles são garantias que as empresas tem para oferecer aos bancos privados na negociação de empréstimos de menor valor como capital de giro, por exemplo. Ao contrário de países desenvolvidos onde juros já eram baixos, pelo fato de terem tido desenvolvimento sustentado por longas décadas, com títulos com perfil conservador e apreciados em todo o mundo pela solidez de suas economias, países como o Brasil, Argentina, etc., sofrem com juros altos por terem crescimento inconstante, sofrerem de tempos em tempos com crises de inadimplência. Nesses países o juro é alto para compensar o medo do investidor estrangeiro. É o que torna um título público brasileiro atraente como garantia junto aos bancos privados.

    Por outro lado, amplos setores da população são dependentes e beneficiados pelos juros altos, sem se aperceberem disso. Não seriam eles, como pensa o imaginário popular, os magnatas do país que se aproveitariam da situação e compram mansões a beira mar e jatinhos. Mas é a imensa parcela da classe média brasileira a grande beneficiária. Vamos a alguns exemplos, será que a classe média sabe como são estruturadas as operações financeiras dos planos de saúde? Ou os planos de seguridade e previdência privada dos bancos e corretoras de investimento? Os consórcios de automóveis e de casa própria?

    Quais as consequências imediatas de um Brasil de juros baixos, próximos a zero, como sonha o BC? Primeiro, as antecipações de receita operacionais para capital de giro ficariam comprometidas, com os bancos relutantes a manter a modalidade de empréstimos camaradas tendo títulos públicos como garantia. Sem a garantia dessa antecipação da receita, as tesourarias de grandes empresas irão empurrar os seus deficites para os clientes, com majoração dos serviços, e para os fornecedores exigindo descontos ou aumento dos prazos de pagamento. Serviços essenciais para a classe média, como planos de saúde, teriam grande poder de persuasão para convencer o cliente a permanecer no plano e pagar mais. Outros ramos de atividade não, e teriam que disputar junto aos clientes a preferência de compra. Pagar o plano de saúde mais caro ou um aluguel mais caro, ou trocar de plano de saúde e continuar com a mesma operadora telefônica? A resposta nem sempre parece obvia.

    Os setores essenciais empurrariam seus custos aos clientes, os menos essenciais, mas com grande margem de manobra, como os monopolistas de comunicações promoveriam deflação nos preços. E a grande maioria das empresas de pequeno e médio porte essencialmente nacionais? Seriam englobadas pelas grandes empresas ou fechariam portas. Como elas geram a maioria dos empregos haveria aumento do desemprego e subemprego.

    Por fim, e o governo brasileiro como reagiria em um cenário de juros baixos aqui? Fatalmente, com a diminuição das receitas de impostos pelo enfraquecimento da economia e aumento das despesas decorrentes do empobrecimento da classe média que foram empurradas para os serviços básicos de educação e saúde públicos, o governo veria no juro zero uma oportunidade de financiar esses novos deficites com o aumento exponencial da emissão de títulos públicos. Ao invés de diminuir teríamos o aumento nominal e relativo da divida publica. Como ingenuamente pensam os diretores do BC o investidor médio não está preso aos títulos públicos. Se o capital nacional gravita em torno do BC o mesmo não se diz do investidor estrangeiro que irá embora nesse cenário.

    Fica claro que essa cartada de Paulo Guedes aproxima o Brasil de situação semelhante a Argentina de Macri em 2017. A desorganização da economia brasileira só aumentará com a expansão da base monetária do país, governo emitindo mais títulos a juros mais baixos, somada a fuga de capitais com o consequente aumento do cambio, que não será repassado aos preços pela demanda reprimida da população, e que acabará por estrangular os mais diversos ramos da atividade industrial do país. O mais fraco elo da economia brasileira, pois não tem para quem repassar os seus prejuízos.

    É obvio que há pouco que se comemorar na decisão do BC. Não é por acaso que a industria, o comercio e as centrais sindicais silenciaram. Outrora aplaudiam nos jornais qualquer 0,25% de corte da Selic. Hoje temem pelo futuro, pelo efeito Orloff: eu serei você amanhã. Pelo destino trágico do Brasil seguir sempre a Argentina em seus maiores erros.

  14. Deu na folha que os Marinho e Saad estão preocupados mesmo com o novo cenário:

    Diretor do Conselho Editorial do Grupo Globo, João Roberto Marinho esteve na sede do grupo Bandeirantes nesta quarta-feira (18) para almoçar com Johnny Saad, presidente da casa. Outros representantes das duas empresas participaram do encontro entre os dois, que acontece em meio a discussões sobre o projeto de Lei 3.832/2019. Prestes a ser votado no Senado, o referido PL propõe a alteração dos artigos 5º e 6º da Lei
    12.485/2011, a Lei da TV Paga, derrubando o impedimento da propriedade cruzada entre programador e distribuidor de conteúdo de TV por transmissão linear

    https://telepadi.folha.uol.com.br/joao-roberto-marinho-visita-johnny-saad-na-sede-da-band/

  15. O próximo partido progressista que chegar ao governo TEM QUE COMPRAR a globo e as outras emissoras de tv abertas. É o único antídoto brasileiro viável para a propagação de fake news, dadas as características do mercado brasileiro de comunicação. Além dos motivos econômicos citados pelo Nassif, há um outro: as 4 principais emissoras abertas são controladas por herdeiros ou têm seus fundadores muito velhos. Tradicionalmente, os herdeiros dos nossos senhores de engenho são inúteis e gostam de quebrar a banca do papai. Há muitas maneiras de se pressionar os herdeiros a venderem suas emissoras: novos mercados através da internet, impostos devidos, bajulação desses inúteis que não gostam (e não conseguem por não saberem!!) de trabalhar e assim por diante. Se o próximo governo progressista fizer isso da maneira correta, o mercado não vai choramingar nem espernear muito.

  16. A Receita é simples. Quem controlar a informação controla o mercado.

    A Globo tem prejuízo operacional mas tem o poder de fazer o mercado oscilar conforme seus investimentos financeiros.

    Mesmo dando prejuizo, o operacional é o verdadeiro responsável pelo balanço positivo dela. Simples assim.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador