O perigo não é Cunha: é Tombini

O perigo não tem a face adunca e sibilina de Eduardo Cunha. O perigo mora ao lado e tem a cara bonachona de Alexandre Tombini, o presidente do Banco Central.

Vamos supor que o Congresso aprove o pacote fiscal de Dilma Rousseff, a base de apoio seja recomposta e os defensores do impeachment se acalmem.

Neste momento, a economia está rodando a quase -3%. Na melhor das hipóteses, o Banco Central manterá a Selic em 14,5%. Na pior das hipóteses, aumentará mais ainda. Segundo Alexandre Tombini, presidente do BC, em hipótese alguma o banco abandonará o objetivo de trazer a inflação para a meta ainda em 2016.

Ajuste fiscal, trancamento do crédito e taxa de juros em níveis especiais derrubarão mais ainda o PIB em 2016. No acumulado, há a possibilidade de queda do PIB de 5 a 6% em dois anos, derrubando mais que proporcionalmente as receitas fiscais.

Uma pequena operação aritmética – receita caindo 5% em dois anos, dívida aumentando 20% ao ano – é suficiente para saber que nada salvará o país do rebaixamento das agências de risco. E será o menor dos problemas que o governo enfrentará.

O perigo mora ao lado, no Banco Central, que adquiriu vida própria. A presidente não ousa chegar perto. E o Ministro da Fazenda Joaquim Levy está preso a um receituário ideológico. Ora, o que caracteriza os grandes Ministros da Fazenda é o pragmatismo, a capacidade de analisar os fatos e projetar os resultados. É mais que evidente, é de uma obviedade assustadora e não há teoria que possa endossar, essa combinação de ajuste fiscal e política monetária extraordinariamente restritiva em uma quadra recessiva.

O governo não tem cacife político para segurar esse baque. Se tivesse, perderia porque a conta final não fecharia.

Ou seja, essa combinação é politicamente desastrosa, economicamente ruinosa e financeiramente inviável.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • São os "economistas de

    São os "economistas de cartilha" incapazes de ver contextos e nuances, , aplicam sempre o mesmo diagnostico para problemas diferentes, a mesma receita velha para doenças novas,  não veem o muro onde o trem vai bater, não saem da trilha que aprenderam em alguma escola fria do hemisferio norte, fogem como o diabo da cruz de qualquer ideia nova ou visão flexivel, não sabem estabelecer prioridades, ver o bem maior e o mal menor ao mesmo tempo.

    No Cemitério da Consolação quando bate a meia noite não tem inflação, só tem tumbas e mortos. É o paraiso do BC.

    Como diz o Alexandre Schwartsman, Tombini "vai entregar" a meta em 2016, entrega a meta e o Pais em ruinas.

    • E ............................

      Sem meias palavras é o que irá acontecer, para desespero de todos nós mortais que, vitimas da Banca, tal qual a Grecia, iremos nos chafurdar em eloquentes discursos academicos e politicos !!!!!!!!!!

  • O que Lula e Dilma não fizeram

    1. dezembro/2006 - Lula chama o Meirelles para uma conversa, agradece profundamente os serviços prestados e, como recompensa, pede que o Meirelles, vaidoso que só, escolha uma embaixada, pode até ser no circuito Elizabeth Arden: Paris, Londres, Roma ou Nova Iorque. O enfrentamento da crise de 2008 seria bem diferente;

    2. dezembro/2014 - idem com o Tombini. Cadê coragem?

    • Foi aí que tudo começou,

      Foi aí que tudo começou, 2006, pós escândalo do Mensalão, já sem Palocci, Lula abre os cofres, como de praxe em todo ano de reeleição, Mantega começa a "flexibilizar" as metas do tripe macroeconômico, a cereja do bolo é este enquadramento ao Meirelles, retirando sua autonomia. Daí por diante o crescimento das despesas x receitas é vegetativo ano a ano, inchaço da maquina pública, mais cargos mais ministérios, benefícios e subsidios a revelia que levou a um crescimento não sustentável, que levou ao terrível resultado fiscal atual, que nos leva à uma crise sem precedentes ainda sem ano pra acabar.

       

  • Dilma poderia mudar

    Já que a taxa SELIC é decidida pelo COPOM, e dele faz parte a diretoria colegiada do BC, diretoria essa que  é de livre nomeação pelo presidente da república, após aprovação do Senado Federal, Dilma poderia mandar Tombini e sua turma se mandar do BC e nomear alguém que não pense somente em usar o governo para dar lucro aos bancos.

  • Disse tudo, Nassif. Já passou

    Disse tudo, Nassif. Já passou da hora de Dilma dar um tombo no Tombini. Aliás, como tenho sugerido desde o início do ano, Dilma já deveria ter demitido toda a equipe econômica (Tombini, Levy e Nelson Barbosa). E digo isso sem nenhuma precipitação ou paixão; a razão é que recomenda isso. Quem elegeu Dilma não foi o 'deus mercado", os liberais ou neoliberais e muito menos os golpistas fascistóides. Dilma foi reconduzida ao Planalto justamente pelas classes trabalhadoras e por intelectuais e pensadores que não mudaram de barco e de lado. Reeleita, ela deve governar para todos, mas sobretudo para os que nela confiaram o voto. E Dilma tem feito exatamente o oposto disso. As críticas que você faz são pertinentes.

  • Se juros nas alturas, por si

    Se juros nas alturas, por si só,  resolvessem o problema da inflação alta, no governo FHC a inflação não teria batido os 12%, com a SELIC que chegou a 46%. Burro o Tombini não é,  mas tudo indica que ele está levando algum dos banqueiros. Tendo a dar razão à oposição: Dilma perdeu as rédeas do governo, com cada pseudosubordinado fazendo o que lhe convém em detrimento da nação. 

  • Eu só queria que alguém que é

    Eu só queria que alguém que é do ramo, por favor, me explicasse qual a função desse tal "boletim focus" e o porquê de sua composição ser do jeito que é.

  • A dona da chave do Banco

    A dona da chave do Banco Central atualmente é a senhora presidente Dilma. Tombini é seu subordinado, assim como Levy, Mercadante, José Cardoso. É a presidente quem nomeia e quem demite. Não me parece que ela está insatisfeita com essas pessoas.

    Fico me perguntando: Quem em sã conciência (quem tem dinheiro, claro) vai colocar dinheiro na produção (correr riscos) de alguma neste país com juros de 14,75% a.a.?

    Outra pergunta que me faço sempre: Votei no Zé Cardoso, Tombini?

    É desanimador o que acontece atualmente neste país. 

  • Esperavam o quê? Que o

    Esperavam o quê? Que o presidente do BC dissesse que não vai buscar o centro da meta?

    Ele não afirmou que a economia será engessada.Como tudo,a economia também poderá ser ajustada e,buscar,não significa que será alcançada,é uma meta.Seria melhor se ele dissesse que buscaria uma meta de 10?

    Parece que está faltando sensibilidade, não política,mas com o país. Muitos,mesmo os que dizem combater o golpismo fascista/midiático,já estão,na verdade,se posicionando de forma a auferir algum proveito no futuro.

    A conta será alta. A história,com H,não permitirá que os lobos fiquem eternamente com suas peles de cordeiro.

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