Sanções contra a Rússia vão se disseminar pela economia global

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Apesar de responder por aproximadamente 1,5% do PIB global, russos exercem grande impacto sobre os preços de energia e de alimentos; assista

© REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/Direitos Reservados – via Agência Brasil

As análises em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia tem abordado as questões políticas com alguma frequência, mas o impacto das sanções decretadas pelos países ocidentais não tem sido abordada com a atenção necessária.

“O que é curioso dessa história toda é que os grandes defensores das sanções, que são as grandes potências ocidentais, são também em geral, estruturalmente, os grandes defensores da globalização”, explica Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON) da Unicamp à TV GGN 20 horas desta quarta-feira (16/03).

Em entrevista aos jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler, Bruno de Conti ressalta que só agora os países ocidentais “estão percebendo que não é possível fazer sanções específicas para a Rússia sem rebater no restante do mundo – esse é o lado paradoxal da história toda”.

Bruno ressalta que, embora a economia russa tenha uma participação pequena em relação ao PIB global (entre 1,5% e 1,7%), “no grau atual de integração entre os países o efeito é imediato sobre o mundo todo, e com algumas particularidades”.

A questão mais evidente tem sido vista nos preços, principalmente em um cenário de inflação global elevada por conta da pandemia de covid-19 e a quebra das cadeias globais de valor ao longo dos últimos dois anos.

“(Essa quebra de cadeia) em si – já geraram elevação de preços de insumos pelo mundo, e agora isso vem como um novo choque sobre os preços em primeiro lugar. E aí, enfim, de forma disseminada”, diz o pesquisador, ressaltando que um dos elementos-chave é a questão do custo da energia, como petróleo e gás.

“A volatilidade dos preços das commodities em si já provoca problemas de planejamento, e claro – ela é uma volatilidade mas com tendência crescente em diversas commodities (…)”, diz Bruno de Conti, lembrando que os preços de energia afetam toda a cadeia de transportes – não só o frete rodoviário, como também o frete marítimo e o frete aéreo.

“Quando sobem os preços de alguns bens – muito se falou no Brasil, uns cinco anos atrás, sobre a inflação do tomate – convenhamos que a inflação do tomate não é tão grave, você não come o tomate e pronto. Agora, com energia não é assim – subiu o preço de gás e petróleo, isso tem um peso de irradiação por toda a economia global que não é pequeno. Certamente, esse é o componente principal”, diz Bruno de Conti.

“Também, do ponto de vista dos preços, tem outros minérios, como alumínio, níquel  (…) e preços agrícolas, aí diretamente pelo trigo e milho, enfim, que Rússia e Ucrânia são grandes produtores, mas também pelos fertilizantes (…)”

A volta da síndrome de Lava-Jato

Na visão de Nassif, a cobertura midiática em torno da guerra mostra que a síndrome de Lava-Jato está de volta, com os veículos deixando claro “uma torcida indecente por um lado”.

“Qual é o modelo: eles criam um mocinho-bandido. Ou é mocinho e vítima e bandido. Então, o bandido obviamente é o Putin, e o outro lado no começo era a vítima, e depois encontraram um mocinho, que quer jogar o mundo em uma guerra nuclear, que é o (Volodomir) Zelensky”.

Zelensky teve sua campanha eleitoral bancada pelo proprietário de uma emissora de TV ucraniana – o mesmo que financiou o batalhão Azov, um batalhão neonazista que foi incorporado às Forças Armadas – “seria a mesma coisa que pegar essa milícia de Rio das Pedras e incorporasse às Forças Armadas”, diz Nassif.

“Esse sujeito (Zelensky) é tratado como heroi, e então como você faz? Eu tenho um heroi e tenho um bandido. Então, tudo o que o bandido faz – ele tossiu, dramatize a tosse dele. Tudo é coisa do mal (…)”, diz Nassif. “O Putin tem as manias dele, e o que ele está fazendo aqui é indesculpável, não adianta”.

Contudo, Nassif afirma que os analistas tem sido incapazes nem de condenar Putin e de condenar Zelensky – que está longe da Ucrânia conclamando os países ocidentais a entrarem em uma guerra – ou mesmo os países ocidentais “que ao invés de mandar ajuda humanitária para os ucranianos, mandam armas para os ucranianos serem bucha de canhão”.

“Como é mocinho e bandido, você tem que esconder tudo que possa atrapalhar a imagem de um lado. E, de outro lado, você dramatiza tudo (…) O cara (Putin) é um megalomaníaco, ele quer reconstituir o império dos czares”, diz Nassif.

Nassif destaca a entrevista realizada pela jornalista Fernanda Mena, do jornal Folha de São Paulo, com o antropólogo ucraniano Volodimir Artiukh, que  falou que “a censura que tem na mídia da Rússia, tem na mídia da Ucrânia. Que a guerra de informações, as mentiras que a Rússia conta, a Ucrânia também conta”.

O imbróglio envolvendo Saulo de Castro Abreu

Sobre o caso envolvendo a investigação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, Nassif destacou que o Ministério Público Estadual de São Paulo é uma corporação partidarizada há muito tempo.

Entre os casos destacados, está a perseguição a Gabriel Chalita na gestão José Serra, quando abriram 10 inquéritos contra ele com base em uma testemunha, que não apresentou prova nenhuma.

“Na época, o Estadão chegou a dar uma matéria com um funcionário daquele instituto FDE, onde supostamente teria ocorrido a corrupção, que ele dizia ter sido procurado pelo Walter Feldmann a mando de José Serra oferecendo R$ 500 mil para ele endossar as acusações”, diz Nassif.

“E nem assim parou. O Estadão deu, escapou, um bom repórter fez a matéria e continuou essa perseguição. Todas essas denúncias foram arquivadas depois pelo Ministério Público Federal”, lembra Nassif. “O procurador que fez isso com ele (Chalita) logo depois saiu, se meteu em rolos no Ministério Público, mas o mal estava feito”, diz Nassif. “Liquidaram a carreira do Gabriel Chalita, justo quando ele estava ameaçando ir para o governo Dilma”.

Outros casos que foram destacados foram a perseguição a Fernando Haddad quando prefeito, a tentativa de denunciar o caso do tríplex e a blindagem absoluta ao ex-governador José Serra, mesmo com os diversos episódios “cinzentos” envolvendo sua gestão.

Então, é o seguinte: se você pega a gestão Serra – se passar um pente fino, você vai ter muitos episódios, no mínimo, cinzentos. Nós fizemos aqui quando eles entregaram a base de dados do Estado para devedores, entregaram para a Experian, que tinha adquirido a Serasa”, lembra Nassif.

“Entregaram de graça. Hoje, você vê o valor dessas bases de dados, são valores milionários. E entregou de graça. Meses depois, acaba o governo dele e a filha compra um site chamado Virid e revende para a Experian por três vezes o valor. O que fez o MP até aqui: nada.”

No caso específico de Geraldo Alckmin, Nassif diz que não existe nada que denote que ele fique à vontade em esquemas do tipo, mas lembra da falta de discernimento do então governador ao indicar Saulo de Castro Abreu Filho para sua secretaria. 

“Em 03 de dezembro de 2002, ele indica o Afif, indica Saulo de Castro Abreu Filho para secretário dele – eu escrevi um artigo dizendo que ele era ingênuo, não em relação ao Afif, que tinha histórico (…) Mas eu dizia: a indicação do Saulo de Castro Abreu Filho para a secretaria dos Transportes demonstra total falta de discernimento do governador”, diz Nassif.

“O Saulo de Castro Abreu é uma das biografias mais complicadas de São Paulo. Ele foi o articulador do massacre de Castelinho, na execução de 12 pessoas. Ele (Abreu) era secretário de segurança quando houve aquele massacre de maio de 2006: mais de 800 pessoas executadas pela polícia em represália a uma ação do PCC”, lembra Nassif.

Além disso, Abreu andou divulgando o que seria uma gravação que procurava ligar o PCC aos parlamentares do PT, mesma estratégia usada para tirar o secretário de administração penitenciária Nagashi Furukawa do cargo. Veja mais sobre essas denúncias clicando aqui.

Veja mais sobre o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia global, e outros detalhes envolvendo o caso Geraldo Alckmin, na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. O jornalista australiano John Helmer é um dos mais antigos correspondentes estrangeiros em Moscou.
    Ele mostra a farsa vergonhosa da “reunião em Kiev”dos chefes de estado europeus com Zelenski, que na verdade ocorreu na Polônia e contou com a cumplicidade de jornalistas(?) ocidentais.

    http://johnhelmer.net/the-zelensky-summit-meeting-in-kiev-on-march-15-with-polish-czech-and-slovenian-prime-ministers-was-a-fake-devised-in-warsaw-the-meeting-was-at-przemysl-poland-zelensky-also/#more-47721

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