Os melhores (ou piores) momentos da entrevista de Sergio Moro, o político, à CNN Brasil

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Ex-juiz demonstra ignorância sobre Bolsa Família, diz que privatizaria a Petrobras, afirma que STF errou no caso Lula e dá respostas evasivas sobre a economia

Sergio Moro concede entrevista a Willian Wack na CNN Brasil
Sergio Moro concede entrevista a Willian Wack na CNN Brasil

Jornal GGN – Pré-candidato do Podemos à Presidência da República em 2022, o ex-juiz Sergio Moro, declarado suspeito pela Suprema Corte nos casos contra Lula, concedeu uma entrevista exclusiva à CNN Brasil na noite de terça-feira (23). Provocado pelo âncora William Waack, Moro respondeu questões sobre políticas públicas, governabilidade, economia e sua atuação na Lava Jato.

Moro se esforçou para demonstrar que entende minimamente sobre assuntos mais complexos, como a economia do País, mas deu respostas evasivas quando incitado a explicar como combateria a inflação ou qual reforma priorizaria, por exemplo. Quando o assunto foi o combate à desigualdade social, demonstrou ignorância sobre o funcionamento do Bolsa Família e prometeu uma “agência independente” de um eventual governo Moro para “erradicar a pobreza”.

Moro foi completamente omisso, e recebeu uma cutucão de Waack, quando questionado sobre o fim dos privilégios das castas do Judiciário. Ele também disse que foi um “erro gritante” do Supremo Tribunal Federal ter declarado sua suspeição nos processos contra Lula. Moro também chamou de “narrativa alternativa” que Lula tenha sido um “preso político” ou que o ex-juiz tenha transgredido e violado “princípios jurídicos” em nome do combate à corrupção a qualquer custo.

Quando o assunto foi a privatização da Petrobras, ele disse que não teria nenhum problema em vender a petroleira, e ainda sinalizou que ela perderá importância nas próximas décadas porque o mundo está migrando para uma economia de baixo carbono. A análise contradiz o pensamento de um especialista em Petrobras: o ex-presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, que disse em entrevista exclusiva à TVGGN que embora a sustentabilidade esteja no radar das maiores potenciais mundiais, ainda haverá muita demanda por petróleo no futuro.

Leia mais: Quase impossível retomar a importância sistêmica da Petrobras após a destruição feita, diz Gabrielli ao GGN

O GGN reproduz, abaixo, os melhores (ou piores) momentos da entrevista de Moro.

1- Como combater a pobreza

Segundo Moro, é possível erradicar a pobreza e isso “já deveria ter sido feito”. Existem cálculos econômicos, disse ele, sem apresentar nenhum. Falou que o combate à pobreza começou efetivamente com o Bolsa Escola de FHC, e depois mudou de nome para Bolsa Família por “motivos eleitoreiros”. O mesmo ocorre agora com o Auxílio Brasil.

Para Moro, a erradicação da pobreza acontecerá quando o País “identificar suas causas”. “Às vezes são coisas simples”, disse ele”, como “falta de emprego, uma oportunidade de ensino, até um tratamento de saúde. Ou seja, é preciso ajudar as pessoas a serem resgatadas da pobreza e isso exige uma abordagem diferente da que vem sendo feita desde a época do Partido dos Trabalhadores“, pontuou.

“Por isso falei em força-tarefa de erradicação à pobreza. Seria a criação de uma agência independente, que teria missão muito específica: acabar de vez com a pobreza. O Brasil tem economia grande o suficiente para arcar com esses custos”, sustentou sem detalhar o plano.

2- Como pretende acabar com a inflação

“A inflação está sendo provocada pela perda da credibilidade fiscal do governo”, diagnosticou Moro. Ele chamou a PEC dos Precatórios de PEC da recessão. Criticou o rompimento do teto de gastos pelo governo Bolsonaro. “O Brasil perde credibilidade fiscal, leva ao aumento da inflação e as pessoas sentem isso na pele. Tudo resultado da perda de credibilidade fiscal. Isso gera necessidade do BC elevar os juros. A dívida pública cresce e vai gerar recessão, que significa perda de empregos”, asseverou a respeito de 2022.

3- Privatizar a Petrobras

Moro tentou não ser direto na resposta. “Isso tem que ser respondido com base em estudo. Eu sou a favor de uma economia liberal”, sinalizou. Na sequência, o político insinuou que a Petrobras deixará de ter importância no futuro porque não haveria mais mercado para petróleo. “Estamos indo para o mundo de baixo carbono, economia verde, sustentabilidade. O mundo está substituindo combustível fósseis por outras fontes de energia. Carros elétricos”, argumentou.

4- Qual reforma faria primeiro

Moro não conseguiu responder qual seria sua prioridade. Disse que faria reformas “concomitantemente”. “Não podemos fazer uma reforma relevante a cada quatro anos. O atual governo fez a reforma da Previdência e parou”, criticou.

5 – Reforma administrativa e fim dos privilégios do Judiciário

“Dentro do governo eu era favorável a uma reforma administrativa. O que precisamos é estabelecer uma meritocracia dentro do serviço público, que pode ser reduzido, mas [tem de ser] altamente profissional. Temos que ter uma reforma administrativa, via constitucional ou pela via legal, para aumentar o desempenho do servidor. A reforma não pode se limitar à redução de custos”, disse.

O jornalista William Waack percebeu a omissão sobre os privilégios do Judiciário, e devolveu: “Eu não sei se o público entendeu se você combateria determinados privilégios”.

“Minha vida foi lutando contra privilégios. A Lava Jato representa o fim do privilégio da impunidade para quem cometia corrupção. Toda forma de privilégio é odiosa. Eu defendo o fim do privilégio do foro especial”, respondeu Moro.

E os privilégios fiscais?, perguntou Waack.

“Temos que discutir todos os privilégios fiscais e tratar as pessoas de maneira igual”, retrucou o ex-juiz.

6 – Governabilidade

Depois de tergiversar, Moro respondeu que “primeiro [precisa] construir o projeto, depois construir o diálogo e os limites da relação [com os partidos políticos].”

7 – Como será a relação com STF, que declarou sua suspeição

Tenho respeito ao Supremo, disse Moro. “Agora, forçoso reconhecer que nos últimos anos o STF tomou decisões que enfraqueceu o combate à corrupção. Prisão da execução em segunda instância, transferência de casos de corrupção para a Justiça Eleitoral, e o caso da anulação da condenação do ex-presidente, que com todo o respeito ao Supremo, foi um gritante erro do Judiciário. Ou vai se falar que não houve saque da Petrobras? Vai se falar que não houve esquema praticado dia a dia contra a Petrobras durante o governo do Partido dos Trabalhadores? Então é uma crítica que tem que se fazer ao Supremo de forma respeitosa.”

8- Sacrificaria princípios em nome do pragmatismo

“A minha crença é que é possível construir governabilidade e ter diálogo produtivo com todos os partidos. Não podemos fazer juízo depreciativo da política no sentido de que nada ali presta”, disse. Para ele, o governo tem o poder e dever moral de ditar como vai ser o relacionamento com o Legislativo. “Quando no governo do PT se fez mensalão, é evidente que vai se gerar relação deteriorada com o Congresso. Orçamento sem transparência necessária também gera relações não louváveis entre Executivo e Legislativo. Então tem que ter princípios para não transigir com os valores.”

9 – Moro deixou princípios jurídicos de lado para combater a corrupção

“Não deixei, William, isso daí são as falsas narrativas. Ninguém foi processado ou condenado com base em opinião política. Eu não fiz tudo sozinho. Minhas decisões foram examinadas pelo TRF-4. Três desembargadores profissionais. As decisões foram mantidas por cinco magistrados do STJ em Brasília. Agora, existe uma dificuldade. Quando se combate corrupção, o sistema procurar reagir”, defendeu.

10 – Lula preso político e a eleição de 2018

“Faz parte das narrativas alternativas. A minha decisão foi confirmada pelo tribunal de Porto Alegre [TRF-4]. Foi confirmada pelo STJ. O ex-presidente só foi preso quando o STF autorizou, em março de 2018. Eu nunca tive nenhuma animosidade pessoal com o ex-presidente. O que aconteceu depois, com todo respeito ao Supremo, avalio como erro do Judiciário. O tempo vai dizer isso.”

“O ex-presidente insistiu na sua candidatura quando estava inelegível. E, no fundo, ele foi poupado de uma derrota. Porque havia na memória das pessoas de maneira muito clara não só a corrupção dos governos do PT como a grande recessão de 2014 a 2016, e as sementes dessa recessão foram plantadas no governo Lula. Então não acredito que o ex-presidente, mesmo que fosse candidato, teria ganhado as eleições. Tanto que lançou um candidato que usava máscara dele, e mesmo assim perdeu.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Moro, mentiroso contumaz e “mentiroso quanto mais”. Quanto mais mente, mais acredita no que diz. Se a bolha em que ele vive estourar ele adoece.
    No mais, ele tem o discurso raso, próprio dos colaboradores do governo que ele ajudou a eleger e dele participou. Com exceção da cola que ele não escreveu na mão, como o bolsonaro, tudo mais que do ele diz é generalidade primária.
    Certas pessoas são de uma falta de caráter inacreditável.

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