Ao invés de caçar corruptos, aliados de Alckmin usam CPI para intimidar investigadores

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – Ao invés de investigar os verdadeiros culpados e beneficiários da corrupção envolvendo a compra de merenda pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, a CPI instaurada na Assembleia Legislativa – composta majoritariamente de aliados de Alckmin – tem constrangido delegados e promotores, e encampado a nova versão dos acusados, de que foram as autoridades que ameaçaram dar voz de prisão a quem não denunciasse deputados metidos no esquema.

Nesta terça (16), a CPI convocou  o ex-vice presidente da Coaf (Cooperativa Orgânica da Agricultura Familiar) Carlos Alberto Santana da Silva e o ex-vendedor Carlos Luciano Lopes. Ambos alegaram que foram “coagidos” por delegados da Polícia Civil para acusar “peixes grandes”, ou seja, os políticos envolvidos no pagamento de propina em troca de contratos com o governo. O principal deles seria o presidente da Assembleia, deputado Fernando Capez (PSDB).

Lopes, por exemplo, disse à CPI, depois de ser convocado para uma reunião com o governo estadual, que foi trancado na cozinha e perguntado por delegados sobre como tinha sido sua noite na cela. “E que queriam os grandões. Se fosse pra eu não falar nada, nem iam me ouvir e eu ia ficar preso”. O ex-vendedor admitiu, contudo, que somente após a entrada no esquema de Marcel Júlio, ex-assessor de Capez, é que os contratos começaram a ser fechados.

Silva, por sua vez, “disse que recebeu um papel com o depoimento já escrito e que foi mandado assinar pelo promotor Leonardo Romanelli, sob ameaça de prisão.”  Mas também admitiu que tinha “ouvido falar” que propina paga a Marcel Júlio era destinada a Capez, além de outros deputados, como os federais Baleia Rossi (PMDB), Nelson Marquezelli (PTB) e Duarte Nogueira (PSDB).

Na semana passada, a CPI ouviu os delegados que iniciaram a investigação. Mário José Gonçalves, José Eduardo Vasconcelos e Paulo Roberto Montelli foram acusados publicamente pelo deputado Barros Munhoz de prevaricação e de tentativa de prejudicar politicamente o governo Alckmin.

O deputado Alencar Santana (PT), único oposicionista de Alckmin na CPI, disse que o governador está utilizando “a máquina” para acusar os investigadores da máfia da merenda.

Leia mais detalhes na reportagem da RBA.

Por Rodrigo Gomes

Alckmin está usando máquina para acuar quem investigou merenda, diz deputado

Na RBA

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o esquema de superfaturamento e pagamento de propina a servidores públicos e políticos em contratos da merenda escolar no governo Geraldo Alckmin (PSDB) ouviu hoje (16) dois ex-funcionários da Cooperativa Orgânica da Agricultura Familiar (Coaf) que buscaram incriminar os delegados e promotores do caso e livrar os deputados estaduais e federais da acusação de recebimento de propina.

O ex-vice presidente da Coaf Carlos Alberto Santana da Silva e o ex-vendedor Carlos Luciano Lopes alegaram que foram coagidos por delegados da Polícia Civil para acusar “peixes grandes”. “Me trancaram na cozinha e perguntaram como tinha sido minha noite na cela. E que queriam os grandões. Se fosse pra eu não falar nada, nem iam me ouvir e eu ia ficar preso”, relatou Lopes.

No entanto, ao apresentar um áudio do depoimento em que Lopes teria sido pressionado a “dizer o nome de deputados senão seria preso”, o que se ouve é que os delegados estão realmente exaltados, mas exigindo que ele fale toda a verdade. “Você vai voltar aqui segunda-feira e vomitar toda essa porra. Se não vier vamos te buscar”, diz um dos delegados, que não é identificado.

Embora diga que foi forçado a dizer os nomes de deputados, Lopes admitiu que somente após a entrada de Marcel Júlio – ex-assessor do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fernando Capez (PSDB) – no esquema é que os contratos começaram a ser fechados.

Já o ex-vice presidente disse que recebeu um papel com o depoimento já escrito e que foi mandado assinar pelo promotor Leonardo Romanelli, sob ameaça de prisão. E que ele devia falar o que sabia do Capez, que havia sido citado como recebedor de propina no esquema.

Silva disse, porém, que somente a parte relativa aos deputados não seria verdade. Mas que tinha “ouvido falar” que os valores pagos a Marcel Júlio, ex-assessor de Capez, eram para o deputado. E que também tinha “ouvido falar” o nome de outros deputados, como os federais Baleia Rossi (PMDB), Nelson Marquezelli (PTB) e Duarte Nogueira (PSDB). No entanto, alegou que não acredita que o dinheiro fosse para eles, mas sim para o ex-presidente da Coaf Cássio Chebabi.

Além disso, o advogado dele, Rogério Valverde, se confundiu ao explicar a pressão sobre o cliente para dizer certos nomes. Primeiro disse que esse momento não foi filmado no depoimento. Depois que ele foi filmado lendo o depoimento escrito pelo promotor. E depois que ele foi filmado respondendo perguntas, que citou os deputados, mas que assinou depoimento com alterações.

O deputado estadual Alencar Santana (PT) disse que o governador Geraldo Alckmin está utilizando “a máquina” para acusar os investigadores da máfia da merenda. “Não tenho dúvida que foi traçado um roteiro. Os ouvidos mudaram os depoimentos depois de passar pela Corregedoria Geral da Administração. Os deputados também falaram na Corregedoria. No entanto, o Ministério Público não os ouviu”, afirmou.

Durante todo o depoimento de hoje na CPI, os deputados da base do governador fizeram questionamentos sobre a conduta de delegados e promotores. O deputado Barros Munhoz (PSDB) voltou a acusar os delegados Mário José Gonçalves, José Eduardo Vasconcelos e Paulo Roberto Montelli, que prestaram depoimento na semana passada, de prevaricação e a dizer que eles e os promotores querem “prejudicar o governo e os deputados”.

Antes dos ex-funcionários da Coaf, prestou depoimento na CPI o promotor Herbert Vítor, que foi acompanhado pelo vice-procurador geral de Justiça, Nilo Spínola Salgado Filho. Várias vezes ele também foi constrangido pela base de Alckmin, sob questionamentos de ter abusado da autoridade contra os investigados. Ele negou.

Para Santana, os investigadores não coagiram os depoentes. “Eles citaram textualmente que após a atuação do Marcel, ex-assessor que dizia agir em nome do Capez, os contratos saíram”, afirmou. Para ele, chama atenção que os investigados que iniciaram as denúncias, como ex-dirigente da Coaf João Roberto Fossaluza, ou o ex-presidente da entidade Cássio Chebabi não compareçam. “Quem tem coisa importante a dizer não vem? É estranho”.

Amanhã (17) a comissão vai se reunir para ouvir Fossaluza a portas fechadas. Ele alegou estar sob ameaça de morte e pediu proteção ao depoimento. Além dele serão ouvidos os ex-funcionários da Coaf Caio Pereira Chaves, Adriano Miller, Emerson Girardi, Aluísio Girardi e Carlos Eduardo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu diria que é muito otimismo

    Eu diria que é muito otimismo imaginar que vai sair alguma coisa de qualquer CPI.

    CPI não serve pra nada!!! Só mais desperdício de dinheiro público. Eles são políticos, não juízes. Político não faz julgamento, faz política.

  2. Qualquer semelhança com a SR/DPF/PR não é coincidência

    Prezados,

    Quem acompanha o blog do Marcelo Auler e leu a série de reportagens sobre as ilegalidades criminosas cometidas por delegados da SR/DPF/PR, que integram a ORCRIM da Farsa a Jato ficou sabendo que o agente (Dalmey Werlang) que denunciou a instalação de grampos ilegais, feitas por ele em cela e fumódromo da carceragem da PF na capital paranaense, a mando de uma delegada da PF, bem como um delegado de outra SR designado para investigar e relatar o caso (Mário Fanton) acabaram se tornando vítimas de acusações por parte daqueles que haviam cometido as ilegalidades criminosas.

    Outros dois casos surreais são o de abuso sexual e estupro coletivo contra uma jovem na ZO do Rio, há cerca de dois meses, e o recentíssimo episódio envolvendo o deputado evangélico Marco Feliciano, acusado por uma jovem de tentar estuprá-la. Um assessor do deputado acusado foi delegado da polícia civil paulista, onde ainda trabalha um irmão dele. É claro que, por suspeição, jamais essa polícia paulista poderia ser designada a investigar o episódio; o mesmo se diga em relação à abertura e condução de sindicância, que no caso da SR/DPF/PR foram conduzidas pela delegada acusada de ordenar a instalação do grampo ilegal e pelo delegado casado com ela.

    O que esses casos citados têm em comum é a tentaiva flagrante das autoridades policiais em reverter o crime contra as vítimas, transformando-as em acusadas e rés. No caso  da SR/DPF/PR e nesse envolvendo o deputado Marco Feliciano há o agravante de que um integrante ou ex-integrante da força policial é parte ativa no crime inicialmente denunciado pela (possível ou suposta) vítima.

    Se a vítima é colocada sob suspeição, por que não suspeitarmos também dos policiais? Antecedentes para essa suspeita é que não faltam.

    1. imunidade….

      Exija. Exija. Exija. Onde está o Poder Judiciário brasleiro? Onde está o MP? Onde estão as prisões preventivas? Onde estão as delações premiadas? Onde está a promotoria exigindo a prisão  e coibindo aqueles que atrapalham as investigações? Como é possível que a justiça seja de uma forma para alguns e de outra forma em outros casos? Como professores, diretores, pais permitem que seus filhos passem o dia inteiro com uma barra de cereal de 25 g? 

      1. Mas e a imunidade

        Mas e a imunidade tucana?

        Isso tudo ai custa muito dinheiro! Pagar juiz, MP, po licia federal, aquele bando do congresso.

        Eu quero é ser Aécim na vida e ficar no Leblon tomando sol.

         

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador