A tristeza sem tamanho que abrigará a todos nós, por Paulo Endo

do Psicanalistas pela Democracia

A tristeza sem tamanho que abrigará a todos nós

por Paulo Endo

A tristeza está entre nós, ela é verdadeira, até esperada e necessária. Muitos já estavam tristes há meses diante da iminência de acontecer o que se concretizou. A tristeza é nossa. Ela é sábia. Nos ensina sobre o que perdemos e lutamos tanto para não perder. Nos informa sobre nossos bens mais preciosos, nossa responsabilidade para com eles e revela um desejo profundo de refundar o que perdemos e a busca incessante de, constatado o perdido, reiniciarmos a busca sobre onde mais poderemos reencontrá-lo. Não mais lá, mas aqui; não mais longe, mas ao lado; não mais entre os que atacam, mas ente os que zelam. E é preciso dizer: não mais no pranto, mas é no enxugar das lágrimas que vemos claro e enxergamos límpido após secar os olhos que marejam.

Novos desafios se abrem à frente e sabemos que eles se multiplicarão. Sempre foram muitos, mas a maneira de enfrentá-los precisa recomeçar do princípio. A tristeza é solidária. Devemos ficar tristes juntos, assim como compartilhamos a alegria inúmeras vezes enquanto tentamos evitar o pior para o país, e é certo que haveremos de compartilhá-la mais ainda num futuro que ainda não vemos.

O caminho agora é turvo, mas quicá lentamente poderá se esclarecer. Precisaremos conseguir constatar que perdemos todas as principais lutas desde o impeachment de 2016. Pouquíssimas lutas importantes foram conquistadas nesse período, o que demonstra que a despeito de muitos que se levantaram após o golpe ficamos carentes de vitórias e as vitórias, pequenas ou grandes, são cruciais porque alimentam as lutas vindouras. Então será preciso pensar onde e na companhia de quem nos retroalimentaremos e redefinir nossos pontos de repouso onde a vitória se consagra.

Há algo errado com nossas estratégias e precisamos corrigí-las imediatamente. Teremos de nos dedicar a isso nos 2 meses que faltam para um período muito desfavorável começar e, certamente, depois. Corrigir os erros também não será fácil porque se os repetimos antes, obviamente ainda não sabemos claramente quais são. Precisaremos constatá-los antes.

Hoje o dia é de tristeza. A alegria ficou mais distante e o horizonte que esperávamos não se abriu. Todos com lanternas na mão somarão o facho de luz que possibilitará seguir adiante enquanto faz escuro. Mas não basta seguir adiante. Será preciso inventar atalhos, constatar caminhos novos, desnortear os inimigos com surpresas e e invisibilidades. E não tenhamos dúvidas e nem esperanças vãs. Os inimigos avançarão. Há anos o candidato eleito promete que o fará quando um dia chegasse à presidência.

Porém é preciso que fica claro desde já para os que agora assumem o pleito:

eles têm o governo, mas não terão o Brasil.

Redação

1 Comentário

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  1. O que falta na nossa

    O que falta na nossa estratégia, caro Paulo Endo, é educar as pessoas para a civilidade, a diversidade, a importância do estado como co-propriedade de todos os cidadãos… para a democracia, enfim. E essa educação não precisa ser explicitamente sobre política, a cultura desses valores se expressa em todas as relações pessoais: em casa, no trabalho, no lazer, entre parentes, amigos, conhecidos e colegas.

    Sei que é uma tarefa difícil já que a contra-tarefa é poderosa, a saber: os produtos comerciais das firmas privadas de comunicação em massa – mídia e redes sociais -, sempre estimulando o estabelecimento de poder e ascendência de umas pessoas sobre as outras, mas precisa, a meu ver, ser feita.

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