Nordeste: Energia eólica veio para ficar?

Enviado por Antonio Ateu

https://www.youtube.com/watch?v=RjhTj4dkAmk width:700 height:394

Como o Nordeste virou principal polo da energia eólica no Brasil

Por Rafael Barifouse e Mariana Schreiber

Da BBC Brasil

Em menos de uma década, o Brasil passou de um país nulo em energia eólica para se tornar o 10º maior produtor do mundo – e, no centro desta mudança, a região Nordeste é protagonista.

Até 2006, a geração de eletricidade a partir do vento era inexpressiva no Brasil. Isso havia começado a mudar antes, em 2002, com o lançamento de um programa de incentivo a fontes de energia renovável pelo governo federal.

E ganhou força a partir de 2009, quando passaram a ocorrer leilões para a criação de usinas e a contratação do fornecimento desse tipo de energia, como o que foi realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta sexta-feira (saiba mais no quadro ao lado).

Mas a geração de energia eólica é alvo de críticos que veem prejuízos ambientais e privatização de áreas comunitárias para a criação dos parques. Além disso, ainda há dificuldades na transmissão energética.

Há hoje no país 322 usinas, com capacidade de produção de 8,12 gigawatts, o equivalente à usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, a segunda maior em operação no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Essa fonte de energia responde atualmente por 5,8% da matriz nacional e abastece 6 milhões de residências.

De acordo com o Conselho Global de Energia Eólica, o Brasil tem a 10ª maior capacidade de geração do mundo e, em 2014, foi o quarto que mais ampliou esse potencial, atrás de China, Alemanha e Estados Unidos.

Essa transformação fez do Nordeste o polo da energia eólica no Brasil: a região responde por 75% da capacidade de produção nacional (o restante se concentra no Sul do país) e 85% da energia gerada de fato no país por essa fonte. Dos cinco maiores Estados produtores, quatro são da região: Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Piauí – o Rio Grande do Sul completa a lista.

Bons ventos

O que torna o Nordeste tão atraente para esse tipo de atividade?

Trata-se de uma vocação natural da região, segundo o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, opinião compartilhada por especialistas ouvidos pela reportagem.

“O vento brasileiro está predominantemente localizado na parte setentrional do Nordeste, com potencial identificado de 300 gigawatts”, diz Braga à BBC Brasil. “Esse potencial tem se revelado cada vez mais eficiente, levando a um investimento significativo nessa região.”

Élbia Gannoum, presidente da Abeeólica, explica que, enquanto a média de produtividade de um gerador eólico é de 28% a 30% no mundo e supera 50% no Brasil, este índice atinge picos de 83% no Nordeste.

“Além de ter uma velocidade bem superior à necessária para geração de energia, o vento na região é unidirecional e estável, sem rajadas. Isso significa que a energia é produzida o tempo todo”, afirma Gannoum.

“Este tipo de vento vem do Atlântico e chega a mais três outros países: Etiópia, Venezuela e Somália. Mas eles não têm parques eólicos para aproveitá-lo.”

Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, afirma que a produção eólica faz do Brasil e, por consequência, do Nordeste, um “case de sucesso em energia eólica no mundo” que seria estudado “por países da Europa, como a Alemanha, e outros da América Latina”.

“Fui convidado para integrar a mesa de abertura do seminário da associação europeia de energia eólica. Será emblemático ter um brasileiro participando de um evento feito por europeus e para europeus. Isso mostra o interesse do mundo por nós.”

Marcos Santos
Ventos do Nordeste tem um ótimo potencial para geração de energiaExpansão

Os primeiros passos para o estímulo à geração de energia eólica no país se deram em 2002, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica pelo governo federal, que tinha a meta de diversificar a matriz energética nacional por meio de subsídios. O programa foi regulamentado por decreto em 2004 e passou a funcionar na prática em 2005.

Quatro parques eólicos entraram em operação no país em 2006, segundo a Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Três anos depois, passaram a ser realizados no país leilões voltados para a construção de parques e usinas eólicos.

Nesse modelo, a Aneel determina a quantidade de energia necessária a ser fornecida. As empresas interessadas apresentam projetos para atender a demanda, de acordo com critérios estabelecidos do governo, entre eles o valor máximo a ser cobrado pela energia. Vencem aqueles com a melhor relação entre eficiência e custo. O contrato dura 20 anos.

O número de usinas em operação no país passou, então, a crescer exponencialmente, especialmente no Nordeste, com destaque para o ano passado, com um recorde 47 complexos, parques e usinas inaugurados.

“Como o leilão é um processo competitivo, isso favoreceu esta região, que tem o melhor potencial eólico do país”, afirma Gannoum, da Abeeólica.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ressalta que a iniciativa brasileira também foi beneficiada pela crise econômica mundial de 2008.

“Esta crise fez com que sobrasse muito equipamento e houvesse capacidade ociosa na Europa, e isso migrou para o Brasil”, afirma Pires. “Ao mesmo tempo, determinados Estados criaram políticas próprias de incentivo a este tipo de energia, reduzindo tributos. O que vemos hoje é um resultado da combinação destes fatores.”

Tecnologia e benefícios


Atividade gera empregos e renda na região, apontam especialistas

Avanços tecnológicos também contribuíram para tornar o processo mais competitivo no Brasil. Nos últimos dez anos, as torres de geradores ficaram mais altas, passando de 50 metros para os 100 a 120 metros atuais, o que permite captar ventos mais velozes. Ao mesmo tempo, a potência das máquinas triplicou, para 3 megawatts.

Os geradores mais eficientes reduziram o custo da energia eólica. Hoje, o preço médio é 45% menor do que há dez anos, fazendo com a eólica seja a segunda energia mais barata no país, só atrás da hidrelétrica.

Tomalsquim, da EPE, alega que isso criou um “círculo virtuoso” de atração de investimentos.

Um exemplo está na CPFL Renováveis, uma das principais produtoras de energia eólica do país. O grupo do qual a empresa faz parte venceu seu primeiro leilão de energia eólica em 2009. Hoje, a CPFL Renováveis tem 34 parques eólicos, 30 deles no Nordeste, e mais três empreendimentos em construção na região.

“Acreditamos muito nesta fonte de energia”, diz Alessandro Gregori, diretor de novos negócios da empresa.

No ano passado, o setor criou 40 mil postos de trabalho, segundo a Abeeólica, que prevê outros 50 mil novos postos de trabalho para este ano.

Especialistas explicam que, no Nordeste, a criação destes parques ocorre muitas vezes em regiões pobres, como o sertão, onde há ventos melhores do que no litoral.

Eles alegam que as empresas constroem os parques em terrenos usados por pequenos produtores rurais, criando uma renda extra para as famílias que antes viviam apenas destes cultivos.

Gannoum, da Abeeólica, diz que “a instalação dos geradores não impede que o agricultor continue com seu cultivo. As duas atividades podem conviver”.

Tolmasquim destaca que também são criados empregos com a fabricação, instalação e manutenção de equipamentos.

Desafios

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Impacto ambiental e infraestrutura deficiente são desafios da energia eólica no país

Especialistas apontam, no entanto, problemas e desafios para a expansão da geração de energia eólica no Nordeste. Jorge Antônio Villar, coordenador do Centro de Energia Eólica da PUC-RS, alerta ser preciso ter atenção aos prejuízos ambientais que ela pode causar.

“Estudos realizados no Ceará mostram que os parques instalados no Estado desestruturaram a dinâmica ambiental e ecológica de dunas locais, além de privatizarem áreas localizadas entre comunidades litorâneas e as praias sobre as quais elas tinham direito natural”, afirma Villar.

“O crescimento da atividade deveria contar com uma maior preocupação relativa aos métodos e procedimentos e uma avaliação mais rigorosa dos impactos socioambientais.”

Tolmasquim, da EPE, destaca que os empreendimentos só são contratados sob licença ambiental.

Por sua vez, Gannoum, da Abeeólica, alega que os prejuízos da atividade são “mínimos” e que a indústria tenta reduzi-los. “Antigamente, os geradores faziam um grande ruído, mas a tecnologia foi alterada para acabar com isso, por exemplo.”

Outro aspecto diz respeito à infraestrutura. O ritmo de expansão de parques e usinas não tem sido acompanhado na mesma medida pela construção de linhas de transmissão para levar esta energia até a população.

Em 2014, uma auditoria do Tribunal de Contas da União estimou que a falta de linhas impediu, entre julho de 2012 e dezembro de 2013, que 48 parques e usinas no Rio Grande do Norte e na Bahia escoassem sua produção, gerando um prejuízo de R$ 929 milhões. “Isso ainda é um desafio no Nordeste e freia a expansão eólica”, diz Gregori, da CPFL.

Segundo o governo federal, entre 2015 e 2018, os investimentos em linhas somarão R$ 61 bilhões. Em agosto, o governo ainda anunciou o leilão para construção de 37,6 mil quilômetros de linhas, com um investimento de R$39 bilhões até 2018 e outros R$ 31 bilhões após este período.

No entanto, Pires, do CBIE, afirma que os atrasos na entrega destes projetos são frequentes: “Este problema ainda está longe de ser resolvido”.

Redação

9 Comentários

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  1. Porque insistem em TE TRATAR como um IDIOTA?
    Hoje vc pode pagar um adicional para que sua turbina tenha tratamento acústico.
    Reduz de 120 para 107 decibéis.

    Kkkk

    Eu já desenvolvi projetos eólicos. Um vendi para um atravessador que por sua vez vendeu para Furnas que por sua vez fez um contrato fraudulento com um fabricante que o mercado sabia estar falido. Paralisou tudo e fiquei aqui com conta pra pagar e sem receber do meu atravessador que também não recebe de (Furnas).

    Bom, Se quiser falar sobre ENERGUA, não pode ser com vies nem com meias verdades como se VC fosse um idiota.

    Eu já falei sobre uma balela que é o tratamento acústico, que na prática, não existe.
    Outra meia verdade é sobre A CAPACIDADE de geração dos parques eólicos instalados.

    Porque insistem em TE TRATAR como um IDIOTA?
    Porque não te dizem a verdade? Ninguém está dizendo que é ruim, então, pra que mentir?

    1. Um nível de redução formidável.

      Uma queda de 13 dB no nível de pressão sonora significa que ela foi reduzida, a 5 % do nível anterior, mostra que foi feito um excelente tratamento acústico; a pressão sonora caiu 95 %, embora, na aparência, a queda de 120 dB para 107 dB possa parecer, aos ignorantes, uma redução de apenas 11 %.

      Ao afirmar que uma fonte emite 120 dB de pressão sonora, é necessário especificar a que distância da fonte, a mensuração foi realizada. Digamos que a medida foi feita a 5 m de distância, ao se afastar 50 m, o nível de pressão sonora se reduzirá, na razão inversa do quadrado da distância, cairá para 100 dB, a 500 m cairá para 80 dB. Medidas em dB são em escala logarítmica, não é uma escala linear.

      Diga-se que as turbinas eólicas não emitem ruídos, na faixa de valores de pressão sonora acima. Existem normas de instalação diversas, em vários países, com recomendações de distâncias minimas de afastamento de residências. Na Suécia, por exemplo, é fixado o nível de ruído de 40 dB, o que na prática corresponde a 500 m de afastamento das residências.

      Para mais informações sobre emissões de ruídos e outros impactos, consulte: http://www.feam.br/images/stories/arquivos/mudnacaclimatica/2013/ag-267.pdf

       

        1. Sei.

          Já realizei medidas pressão sonora em campo. No interior de uma orquestra, ou de uma bateria de escola de samba, os músicos e ritmistas experimentam níveis de pressão sonora acima de 100 dB. Repito, deve ser informado a distância que a medida foi tomada, se foi a 1 m, 10 m, 100 m e assim por diante.

          Novamente repetindo, na Suécia, as autoridades permitem que as residências sejam atingidas no máximo de 40 dB provenientes do aerogeradores, o que é verificado na prática a 500 m dos cataventos; isso quer dizer que o gerador emite a 5 m um nível de cerca de 80 dB, aproximadamente o que um caminhão pesado emite a mesma distância, em velocidade de 80 Km/h.

          1. Agora que vc me disse que

            Agora que vc me disse que sabe, informe ao pessoal, qual o limite para exposição a estes 100 decibéis para humanos.

            Quanto tempo podem ficar expostos a 100 decibéis?

          2. É simples calcular.

            Se uma fonte emite 100 dB, medidos a 5 m de distância delas – é preciso informar a distância em que a medida foi realizada – a 500 m esse ruído será percebido como de 60 dB, que é o mesmo nível de uma conversação normal. O tempo para suportar uma conversação é indeterminado, se o papo não for chato, claro, que não é o caso de malas sem alça como você.

            Você diz que um aerogerador emite 100 dB de pressão sonora, não informa a que distância isso foi medido, nem cita fontes para tal informação. Se a medida foi feita a 5 m da fonte, pergunto: quem é que passa o dia ou mora pendurado numa torre de mais de 50 m de altura, ao lado de um aerogerador? Na base da torre o ruído chegaria em 80 dB, mas você parece achar, que do outro lado do planeta, se continuaria a perceber os mesmos 100 dB.

            Você já entrou numa casa de máquinas de uma usina hidráulica em operação? Já esteve perto de um moinho de carvão ou ao lado de um turbina a vapor em funcionamento? Se o ruído nas proximidades dessas máquinas fosse critério, para as invalidarem como fontes de energia, então só teríamos como fontes válidas, os painéis solares.

            Eu forneci fontes de informações aí acima, dei o endereço de um trabalho com detalhes, das normas que diferentes países adotam, com os distanciamentos para preservar as residências dos ruídos de aerogeradores. Você oferece apenas chutes, mostra-se ignorante de conhecimentos da Física, não sabe nada de engenharia de sistemas elétricos de potência.

            Casa de máquinas de uma pequena usina hidráulica (o microfone da câmara reproduz parcialmente o ruído):

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=xoqrEgQw7fk%5D

            PS: Os cálculos acima são teóricos. O som é uma onda mecânica, na medida em que se afasta da fonte emissora, sua intensidade cai devido a dois efeitos, pela dispersão e pela degradação energética, o cálculo considera apenas o primeiro efeito. Na prática, devido ao segundo efeito, a intensidade sonora cai mais do que a razão inversa do quadrado da distância.

  2. Sobre impactos ambientais.

    Qualquer emprendimento causa impacto ambiental de natureza diversa, com maior ou menor gravidade, não se defende que sejam negligenciados. Até escolas e hospitais causam impactos em seus arredores, deve-se procurar minimizá-los, mas não devem ser motivos para evitar implantação de escolas e hospitais.

    Os principais impactos sociais mencionados no último vídeo são impactos do capitalismo: ganância, contratos lesivos e abusivos, grilagem de terras, enfim, de banditismo. Onde o capitalismo vai, isso acontece. A sociedade deve se prevenir desse sistema, organizar e se mobilizar para, ao menos, atenuar seus efeitos mais perniciosos.

    1. Resultados energia eólica no Brasil, dados verificados em campo

      A figura mostra o balanço do mês de outubro passado, em MW médios. A quase totalidade dos parques eólicos estão localizados nas regiões Sul e Nordeste. Nesta última região, a geração eólica correspondeu a 87 % da geração hidráulica regional. A capacidade  instalada de geração eólica no Nordeste, em outubro, era cerca de 60 % da capacidade de usinas hidráulicas lá existentes; os resultados mostram, portanto, melhor desempenho da geração eólica do que a geração hidráulica na mesma região. Não fosse os parque eólicos, o Nordeste estaria vivendo provavelmente um racionamento de energia. Na região Sul o desempenho das eólicas foi de 62 % das térmicas lá localizadas. A contribuição da eólicas foi, em outubro, superior a energia nuclear no Sudeste e das térmicas a carvão da região Sul somadas, mais de 5 % da energia gerada no país, um resultado nem um pouco deprezível.

      Não há potencial hidráulico para a expansão significativa dessa fonte no Nordeste, enquanto o potencial eólico regional, somente considerado o de terra firme, corresponde a muitas vezes a geração hidráulica instalada. Com a expectativa de entrada de novos parque eólicos, já em construção ou contratados, é bastante previsível que, nos próximos dois anos, a energia eólica será a principal fonte de eletricidade no Nordeste. No Sul, a expectativa de que a energia eólica se torne a segunda fonte em breve. A fonte eólica está se mostrando a segunda mais barata, perdendo apenas para grandes empreendimentos hidroelétricos, no panorama atual brasileiro, e vem caindo seus custos.

      Sobre ruídos e vibrações, deve ser dito que aviões a jato, ônibus e caminhões também os emitem, assim como turbinas hidráulicas e a vapor, moinhos de carvão  e muitos outros equipamentos industriais. Isso não é impeditivo de uso de tais equipamentos, se medidas de atenuação de seus efeitos forem efetivadas.

      Fonte: ONS

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