Usina híbrida inédita no país

Parque produtor de energia solar é construído em cima de reservatório hidrelétrico e colabora com Movimento dos Atingidos por Barragens 

Primeira usina híbrida de geração de energia do país, em Grão Mogol (Norte de Minas) Foto: Arquivos Cemig
Primeira usina híbrida de geração de energia do país, em Grão Mogol (Norte de Minas) Foto: Arquivos Cemig

Jornal GGN – Quem sobrevoar o município mineiro de Grão Mogol, no Vale do Jequitinhonha, no Norte de Minas Gerais, vai ter uma bela visão a partir de dezembro deste ano. O espelho d’água do reservatório da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Marta vai refletir o azul petróleo de sete mil painéis de células fotovoltaicas com potência total de 1,2 MWp (megawatt-pico) instaladas sobre oito mil metros quadrados da superfície.

Essa é a primeira barragem coberta por painéis solares brasileira dessa dimensão resultante da parceria entre a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que assinou um convênio no valor de R$ 24,4 milhões com o Governo do Estado de Minas Gerais com a participação direta das comunidades da região, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) – formado por mulheres e famílias chefiadas por mulheres.

 
“Estudos técnicos e ambientais acompanham o projeto, e envolvem a comunidade”, explica Frederico Bruno Ribas Soares, gerente de Gestão de Tecnologia e Inovação da Superintendência de Tecnologia, Inovação e Eficiência da Cemig. Ao todo, 1.250 famílias do município serão beneficiadas de forma direta com a redução de tarifa energética e outras nove mil de forma indireta, em 21 municípios do território. No restante do país, apenas algumas iniciativas de pequeno porte, com cerca de 50 placas, existem, como em criatórios de peixes.
 
Participam desse projeto a PUC Minas, as subsidiárias da Cemig, Axxiom soluções Tecnológicas e Efficientia S.A, responsáveis pela instalação das células fotovoltaicas, supervisão, controle e automação da conexão das fontes de energia.
 
A integração de duas matrizes de geração de energia funcionará dentro do mesmo sistema – elétrica e solar –, promovem de forma sustentável o desenvolvimento da região. Assim, o discreto afluente do Rio Jequitinhonha, o Rio Ticororó, que enche a barragem na estação chuvosa, poderá descansar durante a seca, quando o nível cai. Isso porque a proteção dos painéis reduzirá a evaporação, e não deixará os vizinhos no escuro.
 
De estado minerador a tecnológico
 
Investimentos de R$ 200 milhões já fazem a diferença em Minas Gerais no setor de tecnologia e inovação, que cresceu mais de 300% em quatro anos
 
Economia e tecnologia se misturam como ingredientes do crescimento sustentável e se alinham à inovação tecnológica, estratégia que amplia a competitividade das organizações, das regiões e dos países. Em Minas Gerais, esse é o desafio que o governo abraçou, e, a despeito das dificuldades financeiras comuns aos estados brasileiros, conseguiu adicionar dose extra de fermento. “Foram R$ 200 milhões em investimentos para fomentar a ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo nos últimos quatro anos”, informa o secretário Vinicius Rezende, da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sedectes).
 
Para se ter uma ideia, o número de startups (companhias e empresas em início de atividade que buscam explorar atividades inovadoras no mercado) mineiras cresceu 320% desde 2015, e 556%, tendo como referência 2010.  Estima-se um total de 1.050 startups no estado. Dessas, 439 responderam ao questionário virtual enviado pela Sedectes, de acordo o Censo Mineiro de Startups e demais Empresas de Base Tecnológica (EBT), feito com o apoio da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Rede Mineira de Inovação (RMI), no ano passado. Dentre elas, 357 se identificaram como startups e 82 como empresas consolidadas. Juntas geram mais de 2.310 empregos de qualidade. 
 
Dentre outros pontos, o levantamento mostra que a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) concentra o maior número de startups (41%), seguido do Sul de Minas (17%) e Triângulo Mineiro (16%). Assim, investimentos foram destinados aos programas de formação empreendedora, incentivo à tecnologia e inovação, qualificação profissional, integração e conexão com o mercado, educação superior e fomento à pesquisa, tais como o Uaitec Lab, com 220 alunos matriculados em 2018. 
 
Todo esse trabalho reforça a sustentabilidade da cultura inovadora mineira.  São 21 incubadoras de empresas distribuídas em 16 cidades: 13 aceleradoras; 31 comunidades e dezenas de espaços de coworking e outros ambientes. Seis parquestecnológicos abrigam empresas de base tecnológica. O ambiente interno do estado é propício ao desenvolvimento de novas receitas de sucesso.
 
Afinal, Minas Gerais é o maior estado em número de universidades públicas (11 federais e duas estaduais).  Além disso, conceituadas instituições de tecnologia têm sede em Minas Gerais, como Google, IBM, GE, Embraer, Accenture, Infosys, entre outras. 
 
O que se observa é que foi feito um enorme esforço para transformar uma economia que ainda gravita, em grande medida, na exploração do minério de ferro, ouro, e outros metais; e do agronegócio, calcado na produção de leite, café e cana de açúcar entre outros. “Minas Gerais já se destaca como um dos principais ecossistemas empreendedores e de inovação do país”, garante o secretário.
 
Com a intenção de se tornar um celeiro do empreendedorismo inovador de base tecnológico, com forte potencial de desenvolvimento econômico em plena era do conhecimento, a administração central procurou se organizar. Mesmo ciente de que na área de T&I e inovação os avanços são caros, trabalhosos, há uma demora natural para colher resultados, e que a maioria das empresas não têm recursos para investir, o governo decidiu se empenhar.
 
Para incrementar a atividade dessas empresas, a Sedectes, ainda segundo o secretário, buscou a conexão entre startups e grandes/médias empresas, incentivou a pesquisa nas universidades, a aceleração das atividades, e o contato entre demanda do mercado e soluções tecnológicas criadas em Minas.
 
Certo de que inovações tecnológicas provocam crescimento econômico em todos os setores da economia, e que as transformações geradas impactam positivamente as empresas, ele acredita que em termos regionais também agilizam processos que se traduzem em benefícios de custos e produtividade.
 
Para o secretário, independentemente da atividade, a tecnologia proporciona mudanças sem volta nos hábitos da população, como a maneira de trabalhar. Isso porque reúne contingente considerável de empresas de base tecnológica, e, em especial, startups, que encontram no estado ambiente oportuno para fortalecer e ampliar competências e negócios. Uma atmosfera de conhecimento que acrescenta um sabor especial à cultura inovadora dos mineiros.
  
Ranking
 
Minas Gerais responde atualmente pelo 2º lugar no país, com mais empresas de tecnologia da informação e biotecnologia. Reúne também o segundo maior ecossistema de startups do Brasil e abriga o San Pedro Valley, melhor comunidade de startups do país, de acordo com o Spark Awards, da Microsoft, principal premiação do segmento.
 
O diretor de Ciência e Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Paulo Sérgio Lacerda Beirão, explica que para dar suporte a projetos de implantação, ampliação e modernização de ativos fixos, investimentos tangíveis (edifícios, máquinas etc) e capital de giro associado de empresas instaladas em Parques Tecnológicosfoi criada uma linha de financiamento: o Programa de Apoio a Empresas em Parques Tecnológicos (Proptec), parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
 
“O Proptec atende empresas instaladas em parques tecnológicos de Minas Gerais para estimular a cooperação entre empresas a partir do compartilhamento de estrutura física e de projetos e ideias de alto impacto”, completa. Em 2017, das dez propostas de financiamento apresentadas, sete foram aprovadas e totalizam R$ 4,581 milhões. Dentre elas, três tiveram financiamentos contratados e as demais aguardam análise de crédito.
 
Em 2016, Minas Gerais foi o local escolhido para sediar eventos relacionados à inovação e tecnologia, como o Fórum de Mídias Sociais (Foms), a Campus Party e a Feira Internacional de Negócios, Inovação e Tecnologia (Finit).
 
Quanto à estrutura para atração e promoção do desenvolvimento tecnológico no estado, vale destacar que o programa oferece crédito de custo reduzido para o financiamento de projetos que pretendem desenvolver novos produtos, processos e serviços que gerem ganhos de produtividade e competitividade.
 
Neste contexto, “favorece a atração, instalação e retenção de empresas no estado, contribuem para o aumento da competitividade dos produtos e desenvolvimento tecnológico”, avalia Beirão. Entre os parceiros da Fapemig, que renovaram convênio de cooperação técnica e financeira, está a Cemig, que possibilitou a assinatura de quatro projetos, no valor de R$ 3,83 milhões, e parcerias com quatro universidades do estado, no valor de R$ 6,5 milhões.
 
 
 
Redação

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