
Foi mais fácil justificar o seu comportamento em campo, as provocações já trocadas, a Copa América e os cartões amarelos recebidos na temporada para descartar Vini Jr. do prêmio de melhor jogador de futebol do mundo de 2024, a Bola de Ouro.
Mas o brasileiro preto retinto que é bicampeão da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, e protagoniza as melhores estatísticas – fez 27 gols em 48 jogos, superior ao meia Rodri, que foi premiado pelo título – está convencido de que foi outra a razão: a sua incessante luta antirracista no futebol.
Em entrevista à Reuters, pessoas próximas do jogador afirmaram que ele entendeu que a sua luta contra o racismo foi o que custou a Bola de Ouro, e disse que continuará lutando, mesmo que o ativismo tenha sido a razão.
À reportagem do Placar, que assim como todos os jornais esportivos dedicaram matérias tentando encontrar explicações para o resultado desta segunda (28), o diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, foi claro:
“O homem negro retinto sempre foi posto num local de subalternidade, e o Vini se recusou a estar neste lugar. Se impôs contra LaLiga, federação e governo da Espanha, e contra todos que disseram que ele estava errado, e é claro que isso incomoda muita gente. Pelé e outros nomes tentaram falar, mas foram silen ciados. Isso não funcionou com o Vini.”
“Para ganhar a Bola de Ouro, ele tinha de ser perfeito. Mesmo ganhando tudo com o Real, não foi suficiente. A perda da Copa América foi a desculpa que precisavam para não votar nele”, completou.
O raciocínio do analista é de que, “ser perfeito” exige um trabalho adicional, significa ser “ainda mais perfeito” quando se trata de jogadores negros. Em julho, outro jogador negro do Real Madrid, Rodrygo, dizia ao mesmo jornal que Vinicius sabia que “para a gente é um pouco mais difícil, né?”.
“A gente tem consciência de que tem que fazer sempre um pouco mais”, falava.
Nesse meio, as provocações de Vini Jr. em campo, sendo levado a chamadas com cartões amarelos, teria um peso maior do que já custou a outros jogadores na história da premiação, como o argentino Lionel Messi, que não teve a arrogância levada em consideração para retirar pontos dele nas nove vezes que recebeu o título.
Ao passo que em 2024, ao seu lado, o jogador Rodri, com também números de destaque na temporada, era elogiado por caciques do futebol por não ter tatuagens, brincos e penteados diferentes. Além de ser espanhol e a Bola de Ouro ser historicamente eurocentrista.
Em meio às acusações de racismo, jurados do concurso foram à público negar que a cor ou o ativismo do jogador tenham impactado no resultado.
Mas um levantamento feito pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, nesta terça (29), mostra que, mesmo não tendo ganhado a Bola de Ouro e figurado em segundo lugar, o jogador foi alvo de ataques racistas nas redes sociais, durante a cerimônia, com pessoas publicando emojis de macacos e bananas.
Recentemente, Vini Jr. conseguiu que a Justiça espanhola levasse à prisão 3 torcedores do Valencia que o atacaram de forma racista em maio de 2023, durante um jogo no estádio Mestalla.
Milly Lacombe, em sua coluna para o Uol, também destacou outra “coincidência” da premiação: a Bola de Ouro fez uma homenagem ao Real Madrid como “time da temporada” em suas redes sociais. Na foto, Vini Jr. foi recortado. O protagonista da equipe não aparece na homenagem da premiação.
O protesto do jogador e do Real Madrid, de não comparecer à cerimônia, ao descobrirem o resultado que retiraria de Vini Jr a Bola de Ouro, foi a resposta encontrada para o que eles acreditam ser injustificável.
E, nas redes, o jogador deu o recado ao que seria uma retaliação da premiação de futebol ao seu ativismo antirracista:


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