Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Biden venceu. Bozo com cara de cachorro que caiu da mudança, por Armando Coelho Neto

O Le Monde diz que o denominado “Estado profundo” dos Estados Unidos jamais abandonaram suas prioridades estratégicas “por causa das mudanças de inquilino na Casa Branca”.

Biden venceu. Bozo com cara de cachorro que caiu da mudança

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Um policial racista estadunidense pôs a bota no pescoço de um negro que morreu pedindo para respirar. Sufocado, abriu os pulmões para gritos de Fora Trump. Racismo + pandemia Covid-19 converteram-se em qualquer coisa, menos o bufão biliardário e sonegador. Estados Unidos em festa, boa parte do mundo também.

Discriminados do mundo, uni-vos! Sim. O capitalismo nunca se propôs a dar resposta às questões sociais e precisava de culpados para seu próprio fracasso: imigrantes, má gestão, corrupção, preguiça… Nada a ver com má distribuição de renda e exploração de povos e países saqueados, bombardeados.

Um fracasso explicado e mantido para combater uma a ameaça: comunismo – mantra que imobiliza quem nada tem a perder e se alia ao opressor, sob pressão da cultura do terror.

A maior dita democracia do mundo é também o país mais rico. Estranhamente, os Estados Unidos têm alguns dos piores índices de pobreza no grupo dos países desenvolvidos, com 40 milhões de americanos vivendo abaixo da linha oficial de pobreza, informa a BBC de New York. Camden, em Nova Jérsei que o diga.

Pois é. Sempre desconfiei desse primeiro lugar de Primeiro Mundo que, para ser jardim, pobres do mundo precisam ser esterco. A primeira vez que escrevi isso foi durante um mochilão que fiz em 1980, quando vi nas bancas de revista europeias os mesmos títulos consumidos no Brasil. Nos EUA não era diferente.

Naqueles tempos, também descobri que o livro “O Alquimista”, de Paulo Coelho era um dos mais vendidos e lidos na Europa Maravilha. Aliás-1, consta hoje que superou em vendas o “Pequeno Príncipe” e “O Senhor dos Anéis”. Aliás-2, nada contra quem tem um pé no transcendental, desde que tenha pelo menos um pé no chão.

Mas, eu estava impregnado de “Geografia da fome” (Josué de Castro) e de seu homem caranguejo – aquele que morando sobre os mangues do Recife, comia o caranguejo e depois descomia. O caranguejo comia suas fezes, depois ele catava o caranguejo e comia, despois descomia, etc e … Segue-se o círculo vicioso de fome.

Biden venceu. Deixo EUA, Europa e Recife, sigo para o sertão de Pernambuco, na antiga cidade de Exu, onde as famílias Alencar e Sampaio oficialmente se mataram entre 1941 e 1981. Um ranço de ódio que veio do Brasil colonial e que mais parecia o filme “Abril Despedaçado”, com pessoas marcadas para morrer.

As famílias Alencar e Sampaio tinham ligações com partidos políticos, mas as siglas era o que menos importava, mas sim os interesses delas. Assim como Republicanos e Democratas nos Estados, onde na prática acabam se igualando. Primeiro EUA, segundo EUA, terceiro EUA, sobretudo quando o assunto é mundo.

Por que a alusão aos Alencar e Sampaio? Primeiramente pelo truculento clima de brejo e ranço político. Homens armados de fuzis, caixas de correio, urnas e cédulas falsas, com erro de impressão; urnas interditadas, corte de verba nos correios, tudo para dificultar o livre e facultativo exercício do voto, nem sempre respeitado.

Nascido em 1787, o sistema eleitoral americano criou os tais colégios, pois a extensão territorial e dificuldades não permitiam o voto direito. Parou nisso, preso a um passado de sangue, preconceitos, coronelismo, dominação. Eis o sistema que faz o mais votado perder. Trump foi o quinto a ser eleito com menos votos. (1)

Traço cultural à parte, o estado de Nevada, com pouco mais de três milhões de habitantes, que tem como capital a moderna, reluzente e extravagante Las Vegas, é símbolo desse contraste: uma contagem de votos digna de uma calculadora chinesa. Tudo a desmascarar o primeiro mundo com o qual tentam nos humilhar.

Cada estado com suas regras, a Geórgia, por exemplo, tem recontagem automática se a diferença de votos for inferior a 0,5%. Há estados onde a recontagem manual é paga por quem pede. Necas de pitibiriba pra Trump, que tem uma fortuna 278 vezes maior que a de Biden. Ambos, porém, financiados por milionários.

A exemplo da Europa maravilha que nos jogavam na cara para nos humilhar, a democracia-maravilha dos EUA continua presa aos seus próprios interesses. Acho até que as famílias Alencar e Sampaio se modernizaram. Já os valores americanos, congelados no tempo, descongelaram com “o manga chupada” Donald Trump.

Aquilo deu nisso. Quem tem o pé no chão não comemorou a vitória do Biden, mas sim a derrota de Trump, inspirador de primatas como o ainda presidente do Brasil. A eleição nos EUA foi opção entre inferno e inferno, disse o jornalista Pepe Escobar para o canal Brasil 247. Fosse americano, diz ele, votaria nulo.

Duas máquinas corruptas ameaçam os americanos e o mundo, inclusive o Brasil. Nessa mesma linha, o Le Monde diz que o denominado “Estado profundo” dos Estados Unidos jamais abandonaram suas prioridades estratégicas “por causa das mudanças de inquilino na Casa Branca”. Milhões de crianças mortas? E daí?

Trump tem como cofre um milionário dono de cassinos, enquanto Biden tem suporte num milionário produtor de televisão, sem contar que teria por trás o apoio da máquina de guerra, o que seria uma contradição. Os democratas defendem formalmente a contenção de verbas militares e os republicanos o inverso.

O que muda? Nada. O que está em jogo são interesses permanentes dos Estados Unidos, tanto econômicos quanto estratégicos. Nesse sentido, nada mais democrático e republicano, coisa de primeiro lugar de Primeiro Mundo no melhor estilo Alencar e Sampaio, sem ofensas, claro! Primeiro mundo uma ova!

Resta a quem torceu pela saída de Trump, voltar a alimentar a esperança de um novo congelamento do ideário fascista, do retorno às trevas dos que saíram da caverna, passaram pela sarjeta para disseminar o ódio. De todo modo, o melhor na vitória de Joe Biden foi e é o Bozo com cara de cachorro que caiu da mudança…

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

1 – https://www.facebook.com/professorfernandohorta/videos/689140895347864

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

5 Comentários

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  1. Excelente ! Comprova que o jornalista americano Glenn, sem menosprezo à sua genialidade e tirocínio, é que desconhece a esquerda brasileira, e não esta que desconhece Biden. A vitória do diabo2 foi e é insignificante, para nós, no momento atual, diante da derrota do diabo1.

  2. Nassif: você sabe do carinho com que recebo textos do Armando. Mas, confesso, me chateia essa imagem degradante que ele fez, agora, com animais indefesos. Coitado dos CachorroQueCaiuDaMudança. Os doguinhos não merecem a humilhante comparação…

    PS: melhor seria “CavalãoQueCaiuDaMudança”!

  3. ESSE TEXTO tá mesmo a CARA DO BOZO: o Autor conseguiu fazer um retrato literário do mesmo e do seu COMPARSA TRUMP:

    “…De todo modo, o melhor na vitória de Joe Biden foi e é o Bozo com cara de cachorro que caiu da mudança…”

    O RESTO ACREDITO MESMO, TUDO IGUAL , porém mais suaves em termos dos OBJETIVOS ESTADUNIDENCES…

    “Sempre desconfiei desse primeiro lugar de Primeiro Mundo que, para ser jardim, pobres do mundo precisam ser esterco.”

    BEM, já está tudo “dito”, inté o próximo!

  4. Se esse centrista do partido democrata (ou seja, só mudam os modos de fazer política, os objetivos permanecem inalterados), Biden, deixar de lado as propostas dos “esquerdistas” do partido, Sanders e AOC, responsáveis pela votação em massa do eleitorado jovem nessa eleição, já podemos nos preparar para a volta de um Trump ainda mais radical e raivoso em 2024. Se, para corrigir as distorções, antigas, mas ampliadas pelas soluções tomadas para salvar os donos do dinheiro na crise de 2008, entregarem só o dedo mindinho (os anéis não bastam mais), a turma do odio vai ganhar mais adoradores de diabos. Falta pouco para descobrirmos os novos capetas (não sou nada religioso): sorridentes e dançantes, as vezes de pulôver nos ombros e bem maquiado, ou penteado profissionalmente e com loura babaca e burra a tiracolo. E essas serão as opções à mesa: mau mau, ou mau sorridente. O que vão levar?

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