Esquerda volver, marcham os gregos, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Dentre os mitos fundadores do Ocidente, o regime democrático criado na antiguidade pelos atenienses ocupa um papel central. Este regime político, porém, durou apenas algumas décadas em Atenas e provocou o maior de todos os conflitos militares gregos.

Ao fim da Guerra do Peloponeso (404 a C), que foi iniciada pelos líderes democratas atenienses, Atenas passou e ser governada por militares espartanos. Quando conseguiu se libertar do julgo de Esparta, Atenas foi sacudida por conflitos políticos entre os aristocratas e o partido popular e sua política interna acabou sendo influenciada por outras cidades. Primeiro por Tebas, que derrotou Esparta em Leuctra (371 aC) e passou a ser a potência hegemônica na península. Quando Tebas e Atenas foram derrotadas em Queronéia (338 aC), a Macedônia passou a comandar a política interna ateniense. A conquista romana da Grécia em 146 aC, que foi apoiada pelos aristocratas atenienses, colocou fim à independência política de Atenas. Desde então o apogeu da democracia se transformou numa vaga lembrança.

A História, porém, geralmente não interessa àqueles que fazem uso dela. Os arquitetos do Ocidente conseguiram transformar um pequeno período da vida política ateniense num mito fundador. E assim os ocidentais foram levados a acreditar que a democracia foi grega (e não ateniense), durou alguns séculos (e não algumas décadas) e foi pacífica (apesar de ter dado causa a Guerra do Peloponeso).

Sem prestar muito atenção aos outros povos (e odiando intensamente os turcos por causa anexação da Grécia pelo Império Otomano do século XV ao início do século XIX) o povo grego percorreu seu caminho até o presente. Desde a independência do país, a vida política dos gregos oscila entre a valorização do passado democrático ateniense e instauração de ditaduras militares violentas (como a que perdurou no país de 1967 a 1974). A disputa eleitoral recente entre a “direita neoliberal” e a “esquerda operária” na Grécia é apenas mais um capítulo da eterna guerra de classes entre ricos e pobres cuja origem é anterior à própria democracia ateniense criada por Clístenes.

Os jornalistas que estão fazendo a cobertura das eleições gregas se dividem em dois grandes grupos. Há aqueles que lamentam a vitória da esquerda, cujo programa econômico (que eles chamam de populista) poderá causar turbulência nos mercados e, em consequencia, provocar um agravamento da crise econômica na Grécia obrigando o país a abandonar o Euro (medida acarretará danos a Europa e ao resto do mundo). Há, entretanto, os comemoram a vitória da “esquerda operária” como sendo o ponta-pé incial para uma ampla reforma econômica mundial que regule os mercados e permita a responsabilização dos banqueiros que lucram destruindo países inteiros. O sofrimento dos pobres em razão das políticas recessivas receitadas pelo FMI e recomendadas pela UE na Grécia é uma verdade factual.

Não se enganem: as eleições gregas não dizem respeito apenas ao futuro da Grécia. Elas também dizem respeito ao passado daquele país. Que fragmento de sua própria trajetória o povo grego pretende construir nos próximos anos? A história da Grécia tem algo para fornecer a qualquer liderança política que dela queira fazer uso. Democracia, tirania, submissão a potências externas, ditadura militar, guerras internas, guerra externa, etc… tudo isto pode ser resgatado, repaginado, modernizado e entregue aos cidadãos (aos consumidores de propaganda) como sendo um programa político coerente que indique o único caminho para o futuro glorioso baseado num passado firmemente estabelecido. A Grécia contém todos os inícios. Esta é a maldição dos gregos.

O que quer que decida fazer com seu passado ou com seu futuro, o povo grego não está em condições de modelar o destino da Europa, da América Latina ou do resto do mundo. A Grécia não tem poder econômico para competir com seus vizinhos próximos e distantes, nem condições militares de confrontar seu inimigo tradicional (a Turquia).

No presente momento, apenas o povo norte-americano é que pode fazer a balança oscilar do Mercado para o Estado preocupado com o bem estar social. Os norte-americanos apoiarão com entusiasmo o discurso que Barack Obama fez no Congresso dos EUA nos últimos dias? Duvido muito. Os gregos parecem ter apoiado Obama, tanto que derrotaram a “direita neoliberal”. Todavia, creio que eles ficariam ofendidos se alguém lhes dissesse que o Presidente dos EUA decidiu as eleições gregas ao discursar para os congressistas de seu país. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

27 Comentários

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    1. Antes de fazer comparações é
      Antes de fazer comparações é preciso ver como será o comportamento governamental da esquerda grega. Rompimentos absolutos não levarão o país a lugar algum. A política pressupõe coexistência e concessões. O Mercado perdeu e terá que aceitar sua derrota. A esquerda ganhou, mas a economia da Grécia continuará a ser capitalista. O capitalismo não exclui a garantia de direitos aos empregados, aposentados e desempregados, tampouco pressupõe politicas econômicas recessivas.

    2. .

      Para o PSOL igualar o Syriza falta pouco.

       

      Só uns 35 por cento a mais de votos e uns 48 por cento a mais de parlamentares no Congresso Nacional… 

      1. impressionante como o

        impressionante como o pragmatismo de 12 anos fez seres pensantes acharem que partidos políticos tem mais afinidades entre sí devido ao número de votos do que pela plataforma política que defendem…

        o mundo continua a nos surpreeender.

        1. .

          A afinidade política do Syriza com o Partido dos Trabalhadores não é novidade nenhuma. O Alexis Tsipras já se encontrou com Lula e Dilma aqui no Brasil, além de manter conversações com altos dirigentes do PT. 

           

          O PSOL tem afinidade mesmo é com o golpe de estado feito pelos nazi-fascistas na Ucrânia, que a Luciana chamou de uma ”autêntica revolução popular”. 

  1. histórico interessante porque

    histórico interessante porque dessas virtudes gregas

    que poderiam ser tb sua maldição  nascerá o futuro.

    os gregos já tiveram, pelo que entendi, todos os regimes.

    mas a saída vislumbrada será a política.

    a frase famosa do marqueteiro do clinton – é a economia estúpido! -,

    deve ser reformulada.

    é a política, estúpido!!!!!!!!!!!!!!!!!

     

    1. “é a política,

      “é a política, estúpido!!!!!!!!!!!!!!!!!” Verdade. Mas também é verdade que a esquerda grega não vencia eleições quando a economia daquele país ia bem. Quando a bolha imobiliária/bancária explodiu na cara dos norte-americanos se propagando para a Europa – e detonando os países mais frágeis da zona do Euro – a direita aplicou políticas econômicas recessivas e o povo grego (esmagado pela economia) reagiu politicamente nas urnas. é a economia, estúpido!!!!!!! também explica o resultado das eleições na Grécia.

  2. Será?
    E fizeram aliança com

    Será?

    E fizeram aliança com um partido de direita nacionalista, é isso?

    Natural: a esquerda institucional normalmente possui um nacionalismo que os colocam com um pé na extrem-adireita.

     

    Não à toa Marine Le Pen torceu pela vitória do Syriza.

    Tenahm certeza que a polícia do Syriza não vai bater menos em manifestantes, jovens e trabalhadores que protestarem e lutarem por direitos.

    1. Marine Le Pen torceu pela

      Marine Le Pen torceu pela vitória da esquerda na Grécia porque isto pode explodir a UE, coisa que ela mesma pretende fazer se for eleita na França. 

  3. Péricles, suposto discurso fúnebre

     

    PÉRICLES – discurso fúnebre em honra dos seus concidadãos (TUCÍDIDES: “História da Guerra do Peloponeso”, livro II, 36-42

    “Porque me parece que nas actuais circunstâncias é oportuno trazer â memória estas coisas e que será proveitoso que as ouçam tanto os cidadãos como os forasteiros que se reuniram, hoje, aqui.
    A nossa constituição política não segue as leis de outras cidades, antes lhes serve de exemplo. O nosso governo chama-se democracia, porque a administração serve aos interesses da maioria e não de uma minoria.
    De acordo com as nossas leis, somos todos iguais no que se refere aos negócios privados. Quanto à participação na sua vida pública, porém, cada qual obtém a consideração de acordo com os seus méritos e mais importante é o valor pessoal que a classe a que se pertence; isto quer dizer que ninguém sente o obstáculo da sua pobreza ou da condição social inferior, quando o seu valor o capacite a prestar serviços à cidade”.
    (…)
    “Por estas razões e muitas mais ainda, a nossa cidade é digna de admiração. Ao mesmo tempo em que amamos simplesmente a beleza, temos uma forte predilecção pelo estudo. Usamos a riqueza para a acção, mais que como motivo de orgulho, e não nos importa confessar a pobreza, somente considerando vergonhoso não tratar de evitá-la.
    Por outro lado, todos nos preocupamos de igual modo com os assuntos privados e públicos da pátria, que se referem ao bem comum ou privado, e gentes de diferentes ofícios se preocupam também com as coisas públicas.
    Nós consideramos o cidadão que se mostra estranho ou indiferente à política como um inútil à sociedade e à República.
    Decidimos por nós mesmos todos os assuntos sobre os quais fazemos, antes, um estudo exacto: não acreditamos que o discurso entrave a acção; o que nos parece prejudicial é que as questões não se esclareçam, antecipadamente, pela discussão.
    Por isto nos distinguimos, porque sabemos empreender as coisas juntando a audácia à reflexão, mais que qualquer outro povo”.

    http://www.arqnet.pt/portal/discursos/abril10.html

      

     

  4. Espero que a esquerda grega

    Espero que a esquerda grega não seja como o partido dos trabalhadores aqui no Brasil, que se intitula de esquerda, mas implementa políticas neoliberais com muita desenvoltura.

    1. Concordo. O desafio de

      Concordo. O desafio de qualquer esquerda é ser esquerda. A esquerda francesa, por exemplo, também é uma bosta neoliberal.

  5. A realidade costuma colocar

    A realidade costuma colocar muros muito altos em volta dos sonhos. Por isso a vida de quem sonha acordado costuma ser tão frustrante.

    Uma coisa é se eleger com uma determinada plataforma dita heterodoxa. Afinal, promessas custam apenas saliva. Outra é colocá-las em prática. Quando chegar a hora de se cobrar do “Tiriça” que faça o que disse que iria fazer, esses sonhadores se darão conta (se já não deram) que há, primeiro, um custo associado e, segundo, um problema: como enfrentá-lo?

    O autor afirma que os banqueiros destruíram a Grécia. Gostaria que ele tivesse nos mostrado (deve ser bem informado) a taxa real de juros paga pela Grécia nos seus empréstimos, pra gente ver se existia mesmo esse furor rentista contra o pobre e nada perdulário Estado grego.

    1. “O autor afirma que os

      “O autor afirma que os banqueiros destruíram a Grécia.” O cometarista colocou palavras no meu texto que não foram por mim escritas. 

      1. Deduzi do que vai no

        Deduzi do que vai no parágrafo abaixo:

        “Há, entretanto, os comemoram a vitória da “esquerda operária” como sendo o ponta-pé incial para uma ampla reforma econômica mundial que regule os mercados e permita a responsabilização dos banqueiros que lucram destruindo países inteiros.”

        Se não atribui aos banqueiros gananciosos (os mordomos de sempre da esquerda) a hecatombe econômica grega, qual o sentido do parágrafo acima?

        1. Deduziu errado. Pois eu me

          Deduziu errado. Pois eu me referi ao que os jornalistas de esquerda disseram. Antes disto eu fiz referência a versão dada ao resultado das eleições pelos jornalistas que lamentam a derrota do Mercado. A única afirmação pessoal minha sobre a situação atual da grega é “O sofrimento dos pobres em razão das políticas recessivas receitadas pelo FMI e recomendadas pela UE na Grécia é uma verdade factual. ” 

          1. Ok, então, Fábio. Desculpe

            Ok, então, Fábio. Desculpe por tê-lo entendido mal. Retire “o autor” e troque por “imprensa de esquerda”, a pergunta permanece pertinente. Por que esses dados (taxa de juros) nunca são trazidos por ela ao debate? Será que a banca é realmente tão gananciosa e sanguessuga assim?

    2. Goldman Sachs é acusado por ocultar déficit da Grécia

      O Goldman Sachs administrou a venda de bônus para a Grécia por US$ 15 bilhões, após organizar uma permuta cambial que permitiu ao governo ocultar a magnitude do seu déficit fiscal.

      A informação foi divulgada hoje (17) pela Bloomberg News.

      A instituição financeira não mencionou a operação de “swap” nos seus documentos em pelo menos seis das 10 vendas que organizou para a Grécia, segundo uma revisão dos prospectos feita pela Bloomberg News. 

      O banco americano ajudou a Grécia a captar US$ 1 bilhão em fundos não incluídos no balanço de 2002 mediante permuta, fato este que foi questionado por reguladores da União Europeia (UE).

      Não revelar a permuta permitiu ao Goldman Sachs e a Grécia conseguirem um melhor preço, disse Bill Blain, co-diretor de renda fixa da Matrix Corporate Capital, empresa britânica de intermediação e administração de fundos.

      “O preço dos bônus deveria refletir a realidade da dívida grega”, disse Blain. “Se um banco os vendia aos investidores com base na informação divulgada publicamente, e estavam conscientes de que as cifras eram incorretas, então os investidores foram enganados”, acrescentou.

      Michael DuVally, porta-voz do Goldman Sachs, que preferiu não opinar mais sobre o assunto.

      Matéria completa disponível em:

      http://brasileconomico.ig.com.br/ultimas-noticias/goldman-sachs-e-acusado-por-ocultar-deficit-da-grecia_76960.html

       

  6. Hummm, e já fez alinaça com a

    Hummm, e já fez alinaça com a direita… na boa, vcs acreditam sinceramente que essa coalizao irá cuspir muito fora do prato da ortodoxia? tsc, tsc, tsc… sabem de nada, inocentes…

    1. Vc acredita mesmo que o
      Vc acredita mesmo que o Mercado é mais importante que o Estado? Acredita que as finanças privadas podem e devem controlar a soberania popular? Ha, ha, ha… sabe nada de Direito Público esta criança vendida.

      1. acontece, oh sabichão, é que

        acontece, oh sabichão, é que para as finanças públicas existirem, há que se tirar a grana de algum lugar… ou o governo produz dinheiro?

        1. Verdade, meu caro. Mas não se

          Verdade, meu caro. Mas não se esqueda de algo ainda mais importante: não há economia sem proteção estatal (policial e militar). Portanto, meu caro, o Direito Público deve sempre prevalecer e sempre prevalecerá ao Direito Privado. Quando o Estado desaparece, a economia não viceja ela é destruída. É exatamente isto que ocorre numa guerra. Entendeu agora, sabichão?  

  7. A melhor análise

    Vitória da esquerda grega chacoalha Europa

    26/01/2015

     por Breno Altman 

    O triunfo do Syriza, de Alexis Tsipras, futuro primeiro-ministro da Grécia, representa mais que a inédita vitória, em solo europeu, de corrente inimiga da estratégia de austeridade.

    A envergadura histórica dos resultados eleitorais vai além: pela primeira vez desde o final da União Soviética, um partido de esquerda, anticapitalista, conquista o governo de uma nação do velho continente.

    A vida política da região esteve marcada, desde os anos noventa, pela dança de cadeiras entre duas variáveis do neoliberalismo: a conservadora e a social-democrata.

    A exceção é o nacionalismo russo de Putin e outros Estados menores, ex-integrantes do antigo espaço soviético, mas cuja identidade não está marcada por paradigmas socialistas.

    As agremiações sociais-democratas, contudo, foram paulatinamente deixando de ser expressões reformistas do campo progressista para se converterem em opção mais branda da hegemonia do capital financeiro.

    Suas gestões pouco ou nada se diferenciam, no fundamental, do que é defendido e praticado por legendas propriamente de direita. Chegam mesmo a compor governos de unidade nacional, como é caso alemão e o da própria Grécia até este domingo (25/01).

    O Pasok, aliás, virou pó, com menos de 5% dos votos, com os eleitores esculachando a aliança de governo dos sociais-democratas com a principal legenda da direita, a Nova Democracia.

    O fato é que a esquerda europeia esteve circunscrita, antes da ascensão do Syriza, a papel secundário, desempenhado por partidos comunistas e outros grupos com sérias dificuldades para se viabilizarem como alternativa de poder.

    O jogo, agora, mudou.

    O Syriza (em grego, abreviatura para Coligação da Esquerda Radical) tem fisionomia semelhante ao PT brasileiro.

    Mais do que partido clássico, trata-se de frente orgânica. Aglutina inúmeras correntes, em espectro que vai do trotsquismo à social-democracia, ao redor de um programa de caráter socialista.

    Sua principal força propulsora são os movimentos sociais e populares que se rebelaram contra o garrote financeiro imposto sobre a Grécia desde a crise de 2010.

    Mas o cenário com o qual Tsipras e seus correligionários irão lidar é oposto ao percurso petista após a conquista eleitoral de 2002.

    O ex-presidente Lula pode implementar políticas públicas de natureza distributiva a partir do reordenamento orçamentário, sem graves choques com o sistema financeiro mundial e sem a obrigatoriedade de reformas estruturais.

    Ainda que esta orientação viesse a entrar em fadiga, como vem ocorrendo nos últimos quatros anos, a verdade é que o petismo pode promover a expansão de emprego, renda e direitos, durante longo período, sem confrontar o modelo rentista e as forças que o sustentam.

    O Syriza, no entanto, somente será capaz de enfrentar a calamitosa herança social e econômica deixada por seus antecessores se fizer mudanças profundas e enfrentar o centro dirigente do imperialismo europeu.

    O nó górdio é a dívida pública.

    Sem estancar esta sangria, o Estado grego continuará insolvente para atender as reivindicações das ruas e retomar o crescimento.

    Tsipras sinalizou, nas semanas derradeiras de campanha, disposição para negociar, evitando a ruptura com a União Européia e o euro.

    Mas seus interlocutores, particularmente França e Alemanha, estão em sinuca de bico.

    Se aceitam um pacto que alivie a vida helênica, outros países engastalhados — como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda — podem pedir as mesmas facilidades. Os grandes bancos e fundos não admitem concessões dessa magnitude.

    Caso a opção da chamada troika (formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) seja bater o pé em defesa dos acordos firmados pelo governo de centro-direita que foi derrotado nas urnas, o Syriza viverá sua hora da verdade.

    Teria, grosso modo, em circunstâncias de intolerância das instituições financeiras, dois caminhos pela frente.

    O primeiro seria o da ruptura unilateral dos compromissos de ajuste fiscal e pagamento da dívida, além do vínculo com a moeda única, colocando em xeque todo o sistema europeu.

    As consequências iniciais poderiam ser dramáticas para o povo grego, até que a retomada da soberania nacional pudesse fazer a economia respirar, liberta das sondas predadoras de seus credores.

    Além da maioria parlamentar que formou graças à composição com um pequeno partido nacionalista de direita, o Gregos Independentes, Tsipras eventualmente contrabalancearia dificuldades materiais com a mobilização dos trabalhadores gregos e o alastramento desse estado de ânimo por outras nações do sul europeu.

    Outro caminho seria o da submissão, acatando ditames da troika e aceitando, como compensação, algumas alterações cosméticas. Mas pagaria elevadíssimo preço político por tamanho recuo.

    O Partido Comunista, por exemplo, com 15 deputados eleitos, hipotético aliado, anunciou que se recusa a compor o novo gabinete porque sua direção está convencida sobre a tendência de Tsipras à capitulação, além de criticar sua disposição de continuar na União Europeia e na Otan.

    Quem viver, verá.

    Aconteça o que acontecer, porém, a Grécia se transformou no epicentro dos principais lances políticos dos próximos tempos.

    A Europa está aturdida por um fenômeno que talvez abra novo ciclo político, no qual se viabilize uma esquerda antagonista vocacionada para conduzir o continente a outro modelo de desenvolvimento.

    1. Acho que a melhor comparação

      Acho que a melhor comparação dessa vitória do Syriza seria a vitória do Lula antes de 2002 (em 1989 talvez). Boa sorte ao Syriza e ao povo grego nessa luta que se inicia.

  8. Mais um exemplo da Grécia

    A aliança com um partido de direita em torno de uma AGENDA comum é mais uma lição desse momento grego que não pode passar despercebida.

    Enquanto nós aqui compramos a farsa do sectarismo direita/esquerda, PT/PSDB, eles mostram que na política de hoje partidos e esquemas ideológicos prontos importam bem menos do que uma agenda capaz de dar conta dos desafios de um determinado momento histórico.

    O próprio Syriza é uma frente montada em torno de uma agenda comum, agrupando partidos de centro, ambientalistas e esquerda, todos unidos em torno de uma proposta principal, de recusar a falácia desastrosa da “austeridade”, entre muitas aspas.

    Se tivessemos adotado o mesmo caminho, não estaríamos no rumo de desastre econômico. Compramos a falsa idéia de que o inimigo a ser derrotado é o PT, o PSDB, a esquerda ou a direita, distinções que fazem muito pouco sentido na politica brasileira atual.

    Enquanto isso, o verdadeiro inimigo e patrocinador oculto desses sectarismos infantis, a ortodoxia financista, somava forças para assumir definitivamente o controle da economia e consequentemente da política.

    Se tivessemos uma agenda clara do que NÃO queremos, como fizeram os gregos, poderíamos também ter montado uma frente anti-austeridade e deixado essa praga de fora do poder. 90% da população rejeitaria essa diretriz do Levy se tivesse chance de se manifestar, se a ela fossem oferecidads as opções políticas reais e não fantasiosas. 

    Talvez tenhamos que atravessar um calvário parecido com o deles para abrirmos os olhos e fazermos diferente da próxima vez.

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