Como não pude esperar…


Foto: Reprodução

Enviado por Felipe A. P. L. Costa

Como não pude esperar…

Por F. Ponce de León, do blogue Poesia contra a guerra

Em memória de S. (1958-2018).

Vários tradutores já se debruçaram sobre a obra da poetisa estadunidense Emily [Elizabeth] Dickinson (1830-1886). (Um guia do que já foi publicado em português, organizado por Carlos Daghlian [1938-2016], está disponível em página do sítio eletrônico da Unesp, São José do Rio Preto SP – ver aqui.)

Em artigos anteriores – ver ‘Morri pela Beleza – quatro poemas de Emily Dickinson’ e ‘Eu sou Ninguém! E você é quem?’, além de ‘Uma mulher, uma arma carregada’, de K. E. Gilligan –, eu mesmo tive chance de publicar versões em português para alguns de seus poemas.

Neste artigo, apresento uma nova versão para o poema n. 712, aclamado pela crítica como uma de suas obras-primas mais superlativas, na qual o Senhor da Morte é descrito como alguém que a autora conhece e em quem confia. Lendo o poema, não é difícil perceber que os personagens centrais seriam um homem e uma mulher. Para obter o mesmo efeito em português, optei por traduzir Death como Senhor da Morte.

Eis a minha proposta e, em seguida, o poema original [1]:

 

[712]

Como não pude esperar o Senhor da Morte –

Emily Dickinson

 

Como não pude esperar o Senhor da Morte –

Ele gentil veio esperar-me –

A Carruagem comportava apenas a Nós –

E a Imortalidade.

 

Guiamos lentamente – Ele não tinha pressa

E eu larguei o que fazia,

Minha lida e também o lazer,

Pela Sua Cortesia –

 

Passamos pela Escola, onde Crianças se esforçavam

No Recreio – na Roda –

Passamos por Campos de Cereais Espigados –

Passamos pelo Sol Poente –

 

Ou melhor – Ele passou por Nós –

O Rocio trouxe tremores e Frio –

Pois apenas Véu, meu Vestido –

Minha Touca – apenas Tule –

 

Hesitamos diante de uma Casa que parecia

Um Inchaço do Chão –

O Telhado mal se via –

A Cornija – no Chão –

 

Desde então – faz Séculos – e todavia

Parece mais breve que a Tarde

Foi quando pressenti que a Cabeça dos Cavalos

Voltava-se para a Eternidade –

*

[712]

Because I could not stop for Death – [2]

Emily Dickinson

 

Because I could not stop for Death –

He kindly stopped for me –

The Carriage held but just Ourselves –

And Immortality.

 

We slowly drove – He knew no haste

And I had put away

My labor and my leisure too,

For His Civility –

 

We passed the School, where Children strove

At Recess – in the Ring –

We passed the Fields of Gazing Grain –

We passed the Setting Sun –

 

Or rather – He passed Us –

The Dews drew quivering and Chill –

For only Gossamer, my Gown –

My Tippet – only Tulle –

 

We paused before a House that seemed

A Swelling of the Ground –

The Roof was scarcely visible –

The Cornice – in the Ground –

 

Since then – ’tis Centuries – and yet

Feels shorter than the Day

I first surmised the Horses’ Heads

Were toward Eternity –

*

Notas

[1] Ver Johnson, T. H. 1955. The poems of Emily Dickinson, 3 v. Cambridge, Belknap.

[2] Referido às vezes como ‘The Carriage’.

*

Redação

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