Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
[email protected]

Os impactos para o Brasil em caso de uma vitória de Trump nas eleições, por Luciana Wietchikoski

Brasil sofreu uma grave tentativa de golpe de Estado realizado por extremistas de direita fortemente vinculado ao movimento homólogo dos EUA

Ministério das Relações Exteriores

no Konrad Adenauer Stiftung

Os impactos para o Brasil em caso de uma vitória de Donald Trump nas eleições estadunidenses

por Luciana Wietchikoski

Em março passado, Donald Trump venceu as primárias do partido republicano e assegurou sua candidatura à presidência dos EUA. Mesmo faltando meses para Trump e Joe Biden se enfrentarem nas urnas, avistar a possibilidade do retorno de um extremista de direita à Casa Branca tem gerado questionamentos, se não apreensão, na comunidade internacional. Se eleito, as falas de Trump apontam para uma retomada das ações do seu primeiro mandato, marcadas pelo discurso nacionalista de permanente polarização doméstica e internacional com grupos identificados à esquerda, restrições ao multilateralismo e críticas às instituições responsáveis pela governança global.

Pensando nesse cenário – e cientes da impossibilidade de prévia definição do vencedor da disputa eleitoral estadunidense –, nos perguntarmos: mas afinal, que impactos o Brasil teria a partir de um governo Trump 2.0? Tomando a atual política externa brasileira e o perfil do líder político dos EUA, já sabemos que, ao contrário da relação estabelecida com o ex-presidente Bolsonaro, haveria poucos assuntos em comum entre os dois governos. Assim, para este breve exercício que nos propomos aqui, consideramos três grandes desafios ao Brasil: manutenção da democracia liberal, política externa regional e multilateralismo.

No início de 2023 o Brasil sofreu uma grave tentativa de golpe de Estado realizado por extremistas de direita fortemente vinculado ao movimento homólogo dos EUA. Na época, esse episódio foi, inclusive, um importante ponto de aproximação entre Biden e Lula. Contudo, com Trump no poder, Lula poderá enfrentar dificuldades na sua agenda voltada à defesa das instituições democráticas representativas. No Brasil o movimento não está derrotado e a ascensão de Trump ao poder nos EUA pode levar ao fortalecimento destes grupos aqui no país. No espaço internacional, com a extrema direita na Argentina e alguns países europeus, o ambiente político-ideológico já está mais difícil para Lula. Assim, a vitória de Trump, levaria a um maior isolamento ideológico do Brasil.

Apesar das eventuais convergências existentes, historicamente as relações do Brasil com os EUA são marcadas pelo desafio da assimetria de poder e pela hegemonia regional estadunidense vigente há mais de um século. Com Trump é possível que essa dinâmica deixe de ser “apenas” limitada para tornar-se conflituosa. Por exemplo, os EUA provavelmente ampliarão a pressão para o Brasil assumir maior alinhamento às políticas anti-imigratórias, de combate a governos de esquerda vistos por Trump como inimigos. Para seu apoio, Washington também terá disponível governos de ultradireita na região, como de Javier Milei da Argentina. Um cenário como esse choca-se com as propostas brasileiras de construção do diálogo regional e também mina o projeto de liderança de Lula.

Por fim, a intensiva revisão dos compromissos internacionais assumidos pelos Estados Unidos e a crítica permanente à ordem liberal fundada por eles mesmos há oitenta anos devem ser reerguidas na administração republicana. Como aconteceu no primeiro mandato de Trump, quando os EUA, por exemplo, revisaram a postura em negociações na área de meio ambiente (vide o Acordo de Paris) e até mesmo saíram da Organização Mundial da Saúde. O Brasil de Lula vem realizando contundentes críticas a estas organizações, mas, ao contrário da política de Trump, não tem objetivo de esvaziá-las e sim de reformá-las para se tornarem representativas aos países do chamado Sul Global.

Portanto, uma eleição de Trump aumentará ainda mais as tensões geradas pelas atuais disputas hegemônicas em curso no sistema internacional.  Neste cenário em que pautas do Sul Global tendem ficar de fora das principais discussões, o Brasil precisará fortalecer ainda mais seus laços com as forças progressistas regionais e internacionais existentes bem como aprofundar a diversificação de suas parcerias estratégicas para defender nosso interesse nacional.

Luciana Wietchikoski – Doutora em Ciência Política pela UFRGS com estágio Pós-Doutoral em Relações Internacionais pela UFSC e professora na Unisinos.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn

Observatorio de Geopolitica

O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador